Explica o caixa dois, Selma!
Pouco habituada a dar explicações, a juíza aposentada Selma Arruda se vê em uma situação bastante complicada. A ex-magistrada foi acusada e é agora formalmente investigada por crime eleitoral. Ao procedimento, foram juntados diversos cheques emitidos por ela e por seu suplente para o pagamento da equipe de marketing, dispensada por ela sem o cumprimento da totalidade do contrato, depois de ser duramente criticada por declarações estapafúrdias proferidas nas redes sociais.
A acusação, gravíssima, fere de morte o discurso de moralidade feito por ela ao longo de toda a campanha. Qualquer atitude que não seja a de explicar clara e imediatamente o episódio deixará em sua trajetória uma mancha bem difícil de ser apagada. Estamos a seis dias das eleições e é fundamental que Selma esclareça ponto a ponto a denúncia encaminhada à Justiça Eleitoral. Esperar a tramitação do procedimento às vésperas do dia da eleição significa não dar ao eleitor que pretende votar nela por conta de seu discurso a tranquilidade de saber que fez a melhor opção. Mais do que isso, gerará um grande arrependimento coletivo se o que demonstram os documentos juntados à denúncia se comprovarem ao final da apuração.
Ao invés de esclarecer os fatos, de apresentar as razões para que os R$ 700 mil fossem repassados ao marqueteiro sem a devida comunicação à Justiça Eleitoral, Selma parece ter escolhido o caminho do confronto, de acusar seus acusadores. Ataca o mensageiro, crente que será capaz de, com isso, desqualificar ou minimizar a mensagem. A resposta a esta estratégia, em cada esquina da cidade, foi justamente o contrário. Quando se fala de política, e em Mato Grosso se fala muito em política, a conduta da magistrada que se gaba de ter prendido diversos políticos em Mato Grosso, como se isso não fosse nada além de sua obrigação, é colocada em xeque.
Foi-se o tempo em que a juíza aposentada podia optar pelo silêncio. Quando estava no Poder Judiciário, poderia limitar suas manifestações aos despachos proferidos, embora, talvez já com a intenção de ingressar na política, nunca tenha recusado qualquer oportunidade de estar em evidência nos meios de comunicação. Hoje, os tempos são outros, Selma não mais é juíza e, mais do que isso, decidiu por sua conta e risco ingressar na vida pública, sujeita a críticas, observações e a fiscalização por parte de um eleitor cada vez mais vigilante.
A sociedade, que clama cada vez mais por transparência, eficiência e honestidade, cobra de seus representados, que serão escolhidos no próximo domingo, uma conduta ilibada. Não há espaço para que se tolere qualquer sombra de dúvida. Neste sentido, Selma tem o dever de vir a público imediatamente e esclarecer o nebuloso caso em que está metida. Tenho a absoluta certeza que seus eleitores merecem uma explicação convincente e verdadeira para confrontar os indícios que apontam que a juíza aposentada é, na verdade, tudo aquilo que disse combater. Fala, Selma!
Ussiel Tavares é ex-presidente da OAB/MT
PS – Ussiel advoga pra figuras da cúpula do PSDB e transita junto a elas. O site não posta artigos de candidatos nem com loas a eles; este texto não é bajulativo, mas questionador, ainda que o autor tenha interesses partidários pra defender, uma vez que Selma sendo prejudicada, em tese o beneficiado seria o candidato tucano ao Senado Nilson Leitão. Tenham isso em conta
A Editoria
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