Boa Midia

Série TRANSPARÊNCIA (27) – Sirlei Theis e sua trajetória de luta

Em homenagem ao Outubro Rosa, blogdoeduardogomes reproduz sua publicação de 1º de setembro focalizando o capítulo 27 da série “TRANSPARÊNCIA” sobre as eleições majoritárias em Mato Grosso, que mostra o perfil de Sirlei Theis (PV) única mulher que compõe chapa ao governo. Sirlei faz dobradinha com o senador republicano e candidato a governador Wellington Fagundes, numa coligação com 10 partidos.

 

Política em Mato Grosso continua território quase que exclusivamente masculino. Essa condição ainda se reforça mais quando se vê que boa parte dos mandatos femininos é exercida por força da chamada familiocracia. Apesar disso, em meio às cinco chapas que disputam o governo há um nome de mulher: Sirlei Theis (foto). Mas quem é Sirlei? Sua história seria capaz de motivar o eleitor a votar em Wellington Fagundes (PR), o candidato a governador que faz dobradinha com ela? Afinal, seu nome é apenas uma forma de afago ao universo feminino que responde por mais da metade do eleitorado mato-grossense ou por trás de seu olhar penetrante e enigmático existe uma mulher de fibra, preparada, moldada pelas adversidades da vida?

Noites e noites de tristeza no pequeno vilarejo de Santo Antônio do Rio Bonito, no Nortão, cercado pela Floresta Amazônica por todos os lados. A menina Sirlei virava de um para outro lado, não por conta dos mosquitos, que eram contidos pelo protetor em forma de rede. Ela, agoniada, mas esperançosa, sonhava acordada com a volta do pai, o seo Francisco Assis Bravo de Almeida, que um dia partiu com seu caminhão para um frete em Sorriso e nunca mais voltou.

Sirlei contava horas, minutos e segundos à espera do pai, que desapareceu misteriosamente na BR-163, no Nortão, numa época em que era comum bandido render motorista, matá-lo, jogar seu corpo na mata e fugir com o caminhão para vendê-lo a madeireiros no Pará. Aquilo era uma espécie de receptação de sangue.

Seo Francisco nunca voltou. A mãe de Sirlei, professora Maria Dulce, enfrentava problemas para a manutenção da casa. Por essa razão e buscando alternativa para garantir sua escolarização, a entregou aos cuidados do casal Alda e Áureo Serra, ele prefeito de Nobres. Menina ainda, Sirlei virou babá, cuidando de crianças na casa dos Serra.

De Nobres Sirlei foi para Sinop, nas mesmas condições, sendo adotada pelo casal pioneiro naquela cidade, Salete e Deonildo Testa. A atividade foi a mesma: babá.

Sinop abriu as portas do mundo a Sirlei. Ali, cursou Letras na Unemat e pegou a estrada para Cuiabá. O tempo passou rápido e ela estudou direito na Unic, prestou o Exame de Ordem. Vivia um relacionamento e esse a empurrou ao grupo das mulheres vítimas da violência doméstica. Saiu da relação carregando dor, cicatrizes inclusive na alma – que nunca se apagam. Voltou para Sinop, onde assessorou o então promotor e agora procurador de Justiça Paulo Prado. Dali seguiu para Nova Ubiratã, a sede do município de Santo Antônio do Rio Bonito, e assumiu um cartório no fórum da recém-instalada comarca.

Cuiabá povoava sua mente. Saiu de Nova Ubiratã para a capital e foi aprovada em concurso público para a Secretaria de Segurança Pública. De 2011 a novembro de 2015 foi secretária-adjunta Sistêmica de Segurança Pública. Foi o único caso de integrante do alto escalão do governo Silval Barbosa (2010-14) que continuou na mesma função na administração de seu sucessor, Pedro Taques.

Sirlei até recentemente não tinha filiação partidária, mas se interessava muito pelo Partido Verde (PV). A relação do homem com o meio ambiente sempre foi traço importante em sua vida. Gaúcha de São Luiz Gonzaga, no Território das Missões, ainda criança mudou-se com a família para Itacorá, distrito de São Miguel do Iguaçu. Em 1982 as águas que formaram o lago da hidrelétrica de Itaipu inundaram Itacorá e as terras onde seu avô materno Alfredo Theis cultivava.

Retirante atingido por barragem, seo Alfredo Theis juntamente com a família pegou a estrada para Mato Grosso, repetindo o caminho feito por tantos outros desalojados por Itaipu, que se transferiram para Gaúcha do Norte, Novo Mundo, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo. Os Theis escolheram Santo Antônio do Rio Bonito para cultivar e viver em paz. O lugar pertencia ao então maior município do mundo, Chapada dos Guimarães e agora integra a área de Nova Ubiratã.

Em 1988 seo Alfredo Theis morreu. O pai de Sirlei, Francisco Assis, assumiu as funções do sogro e para completar a renda da lavoura fazia fretes com o caminhão que lhe coube por inventário.

À relação prática de Sirlei com o meio ambiente se juntou outra: seu TCC na conclusão do curso de direito foi: Licença Ambiental Única (LAU). Daí para o PV foi um pulo.

Wellington buscava um nome feminino para sua chapa e a procurou. Os dois se conheciam desde que Sirlei ocupava a Secretaria-Adjunta Sistêmica de Segurança Pública. “Ele sempre foi muito presente atendendo nossas demandas”, salienta. A conversa entre os dois foi reforçada pelo PV e recebeu aval “de até onde não se possa imaginar”, acrescenta a candidata a vice.

Passado é passado, mas ao mesmo tempo é fonte de inspiração para os passos no agora, é onde se encontra a modelagem da têmpera do indivíduo. Apesar do sofrimento com a perda do avô, do desaparecimento do pai, da condição de retirante e com as cicatrizes das agressões sofridas por ser mulher vítima da violência doméstica, Sirlei é a imagem da felicidade pelo sorriso de sua filha e o afago da sua mãe, professora Maria Dulce, que escolheu Nova Ubiratã para sempre.

Para Sirlei, “governar é ouvir”. Nesta frase ela se revela inteiramente identificada com Wellington, que é político de perfil conciliador, sempre pronto a escutar.
Por coincidência, Sirlei e Wellington nasceram da migração nacional. Ela veio do Sul, ao perder sua terra para as águas da hidrelétrica de Itaipu. Ele nasceu em Rondonópolis, filho do casal Minervina e João Antônio, o João Baiano, que percorreu a pé a longa caminhada da Boa Terra até a terra boa de Mato Grosso.

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: Dinalte Miranda

 

Capítulos  anteriores da série TRANSPARÊNCIA 

 

1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta

2 – Suplente de última hora chega ao Senado

3 – Riva mesmo caido derrota Taques

4 – Páginas da vida

5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo

6 – Carona na Arca de Noé

7 – O dedo de Kassab

8 – Taques e o cadeado na hidrovia

9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques

10 – O temperamento de Jayme Campos.

11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.

12 – Selma aplaina caminho ao Senado.

13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.

14 – Blairo e o mistério que o afasta da eleição

15 – Mais que professora: uma lição de vida.

16 – Mauro acuado e num beco sem saída.

17 – Tu és Pedro!

18 – O Japão é aqui

19 – Fundadora do PT, Enelinda quer ser senadora 

20 – Pedro e Mauro Mendes, dois amigos estrategistas

21 – Pivetta joga a toalha: “não era, portanto não tem recuo!”

22 – Sebastião Carlos, um Imortal em busca do Senado

23 – Waldir Caldas o menino da periferia virou advogado e busca o Senado

24 – Professora cuiabana negra, Edna quer disputar o governo

25 – Arthur Nogueira descortinou universo em permanente demanda

26 – Perfil Adilton Sachetti

4 Comentários
  1. Ricardo Diz

    Bela história, mas ela é vice do Wellington

  2. Suzy Diz

    Brigadeiro sempre arrebentando

  3. ruth maria Diz

    a política precisa de mulheres assim

  4. Elizandra Diz

    eu gostei muito da história dela e vou votar para ela ser nossa Vicegovernadora

Comentários estão fechados.

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