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Série TRANSPARÊNCIA (23) – Waldir Caldas o menino da periferia virou advogado e busca o Senado

Não é utopia, nem aventura. Trata-se de um projeto político abraçado por um homem que até então nunca militou no campo partidário e jamais disputou eleição. Waldir Caldas Rodrigues, 63 anos, um dos mais renomados advogados criminalistas de Mato Grosso é pré-candidato ao Senado pelo partido NOVO defendendo proposta de mudança, com os pés no chão, sabedor que a disputa não será fácil, mas que também não será impossível.

Waldir Caldas não é utópico nem aventureiro e apresenta a razão para colocar seu nome ao Senado. Professor da Universidade de Cuiabá (Unic) por 10 anos, recentemente foi desafiado por um ex-aluno, que lhe disse, “mestre, parece-me que o povo sofre de maldição quando o assunto é político. Os quadros não se renovam e as pessoas que poderiam muda-lo vivem numa redoma, de costa para a realidade. Quando terei a oportunidade de ver seu nome numa cédula eleitoral?”. O desafio, feito numa sexta-feira, o fez refletir. Na segunda-feira seguinte, seu primeiro compromisso foi ler os estatutos dos partidos políticos. Nessa leitura encontrou o NOVO. No passo seguinte conversou com os representantes partidários em Mato Grosso. Quando menos esperava era pré-candidato.

A pré-candidatura é uma resposta ao aluno cujo nome é preservado. Mas, para chegar a ela foi sabatinado pelo NOVO em quatro quesitos: alinhamento ideológico, preparação do candidato para ser apresentado ao público, direito administrativo e direito legislativo e capacidade de arregimentação. Superada essa etapa saiu sacramentado para a disputa, porém mantendo o rótulo de pré-candidato por força da legislação eleitoral.

Waldir Caldas ainda não tem os dois suplentes de sua chapa. A definição dos nomes é de responsabilidade do diretório do NOVO, sem sua participação. Seu palanque será reforçado por 13 candidaturas a deputado federal, mas sem candidatos a deputado estadual e ao governo. O foco partidário é o Congresso Nacional.

Além do bacharelado em Direito que conseguiu aos 40 anos, da longa militância forense, de sua atuação na OAB presidindo a Comissão de Direito Penal em Processo Penal e a Comissão de Direitos Carcerários, o currículo de Waldir Caldas é recheado por uma história de luta e um diploma de Matemático.

De origem humilde, Waldir Caldas é o mais velho entre os seis filhos de uma escadinha de irmãos numa família pobre sustentada pelo pai, que ganhava o pão de cada dia trabalhando de pedreiro na periferia “periferia da periferia” – como diz, de Corumbá em Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia.

Aprovado num concurso para Inspetor de Folha de Pagamento na Secretaria de Estado de Administração de Mato Grosso exerceu o cargo por pouco tempo optando pelo magistério.

Enquanto professor de Matemática iniciou sua carreira em Cuiabá. Lecionou nas escolas estaduais José Magno e Ana Maria do Couto. Salário de professor exige milagre mensal para cobrir a despesa de quem o recebe. Mais difícil ainda é sobreviver quando o governo não paga a folha em dia, como aconteceu no governo de Júlio Campos (1983/86), quando o salário chegou a ‘sumir’ por quatro meses. Diante daquela situação, por força da necessidade, Waldir Caldas transformou-se em vendedor de móveis para escritórios e outros itens, e nessa atividade continuou até receber o diploma de advogado e passar no Exame de Ordem.

O diploma de advogado cruzou seu caminho. Em 1994, incentivado pela irmã Lilian Caldas, cravou sua inscrição ao vestibular de direito no último dia para tanto.

Partido político, não, mas Waldir Caldas sempre esteve presente em movimentos sociais e presidiu a Associação de Moradores do Bairro Santa Amália, em Cuiabá.

Os recursos para a campanha serão modestos. O NOVO recebe mensalmente R$ 28,30 de seus filiados, que em Mato Grosso somam cerca de 450. Essa receita gira em torno de R$ 12.735. Além dela, que será destinada a todos os candidatos do partido, Waldir Caldar lançará mão de crowdfunding eleitoral, que ganhou o apelido de vaquinha eleitoral.

Humilde, quer fazer uma campanha ética, sem baixar o nível e defendendo com ardor suas convicções. Não teme enfrentamento. Se sente “abençoado”, porque na infância enfrentou muitas dificuldades e sua vida tinha tudo “para dar errado e deu certo; só posso agradecer a Deus por isso, pelos meus sete filhos, por minha família, por minha realização profissional, pelos amigos e pela forma como vejo o mundo”, resume.

Perguntei a Waldir Caldas se ele acredita que teria bom desempenho eleitoral nos 141 municípios, depois que o ouvi dizer que até agora visitou apenas 14 (10% das cidades mato-grossenses). A resposta veio carregada de otimismo. Disse que a Unic recebe aproximadamente 3.500 alunos por semestre, e que parte desse universo cursa direito e o conhece. “Eles são multiplicadores nos municípios”, explicou. Ou seja, sem condição de se fazer presente em todas as localidades, o pré-candidato conta com a participação dos ex-universitários em sua luta.

Waldir Caldas acredita na participação dos ex-universitários e aposta que muitos de seus colegas – alguns seus ex-alunos – que militam na lide forense nas comarcas dispersas por Mato Grosso vestirão sua camisa eleitoral. Além disso, o NOVO tem comissões provisórias em algumas cidades e simpatizantes. Para completar sua forma de atuação fora de Cuiabá e Várzea Grande, e nas principais cidades dos polos regionais, onde participará de atos públicos e fará corpo a corpo, ele usará as mídias sociais.

 

SENADOR – Waldir Caldas fala sobre aquilo que seria sua linha de atuação parlamentar. Defende as reformas política e tributária, não faz objeção ao agronegócio, mas o quer regulamentado, para que não se transforme em oligopólio com a ausência do Estado na economia. Espera que o NOVO eleja uma expressiva bancada federal para defender sua filosofia partidária no Congresso.

Crítico do continuísmo político, ele espera que Mato Grosso renove sua representação parlamentar. Mesmo travando uma luta desigual sob muitos aspectos com nomes tradicionais da política regional Waldir Caldas não teme. Tem – acredita – ao seu lado os princípios partidários do NOVO, além de seu histórico. E se na disputa a balança pesar contra ele, basta que lhe entreguem um microfone para o debate, porque a oratória é seu forte, como demonstra seu histórico de campeão nos júris.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTO: Vanessa Moreno

 

Capítulos anteriores:

 

1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta

2 – Suplente de última hora chega ao Senado

3 – Riva mesmo caido derrota Taques

4 – Páginas da vida

5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo

6 – Carona na Arca de Noé

7 – O dedo de Kassab

8 – Taques e o cadeado na hidrovia

9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques

10 – O temperamento de Jayme Campos.

11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.

12 – Selma aplaina caminho ao Senado.

13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.

14 – Blairo e o mistério que o afasta da eleição

15 – Mais que professora: uma lição de vida.

16 – Mauro acuado e num beco sem saída.

17 – Tu és Pedro!

18 – O Japão é aqui

19 – Fundadora do PT, Enelinda quer ser senadora

20 – Pedro e Mauro Mendes, dois amigos estrategistas

21 – Pivetta joga a toalha: “não era, portanto não tem recuo”.

22 – Sebastião Carlos, um Imortal em busca do Senado

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