RONDONÓPOLIS – Residência Médica, sim; hospital universitário, também
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
A reitora da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), Analy Polizel, não reinventou a roda, mas acertou na mosca com a opção pelo modelo operacional da Residência Médica em Saúde da Família, por meio de uma ação transversal da universidade com a prefeitura. Um termo de parceria recém-assinado entre as partes abre a porteira para a residência, sem necessidade de investimento financeiro, pois a mesma será ministrada na rede dos postos de saúde da família – o conhecido PSF. A iniciativa também acende a chama da esperança pela conquista de um hospital universitário.

A meta, segundo a reitora, é botar em prática o quanto antes a parceria. Analy não cita, mas primeiro será preciso buscar a chancela (quase) burocrática do Ministério da Educação (MEC). Porém, fora do emperramento da máquina pública a residência tem todos os componentes para ser posta em prática: os alunos de Medicina, os professores da UFR, as instalações físicas em mais de 20 PSF e a clientela.
A residência além dos efeitos em si para os alunos, amplia o leque de atendimento na rede básica de saúde em Rondonópolis, onde na Santa Casa é ministrada desde 2023, em Obstetrícia e Ginecologia para alunos da UFR.
A luta pela Residência em Saúde da Família foi defendida pela primeira vez em 2021, pelo vereador (agora reeleito) Dr. José Felipe Horta (PL), que é médico. A proposta do vereador não prosperou por conta da política de distanciamento do então prefeito, Zé Carlos do Pátio (PSB) com a saúde do município. Com a posse do prefeito Cláudio Ferreira (PL), a secretária de Saúde Tânia Balbinotti alinhavou a parceria com Analy Polizel.
O primeiro grupo de residentes terá quatro alunos, segundo Analy Polizel, que além de acreditar na viabilização da residência, prevê dobrar o número de participantes no segundo grupo. A reitora vai além no otimismo e acredita que em breve a residência abrangerá as especialidades da Pediatria e Psiquiatria.
PASSO A PASSO – Residência em Saúde da Família é possível em PSF. Mas a ampliação das especialidades exigirá um hospital escola, e essa necessidade leva a cidade a sonhar com um hospital universitário (HU). Não há nenhum sinal de projeto por parte do MEC para tal obra. O distanciamento do governo federal não impede a criação, muito embora a dificulte. Em Cuiabá a Universidade Federal (UFMT) também não tinha HU formal, mas o governo estadual cedeu um de seus hospitais para tanto, o que resultou no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) – Leiam no rodapé: O exemplo da UFMT em Cuiabá

A prefeitura tem o Hospital Municipal Dr. Antônio dos Santos Muniz, que poderia ser cedido em comodato para a UFR e funcionar como hospital universitário. A cessão permitiria que o mesmo passasse a receber recursos do MEC e do Ministério da Saúde, além, é claro, de contrapartidas do município. Assim, ao invés de Rondonópolis ter um acanhado hospital municipal passaria a contar com um hospital universitário, que além de ministrar Internato e Residência seria uma unidade complementar de saúde pública para pacientes do SUS regulados nos municípios do polo rondonopolitano.
Nas mesmas instalações, o hospital escola pode cumprir as atribuições da saúde na área de competênciada prefeitura sem prejuízo da Residência Médica.
Com praticidade e sem se deixar contaminar por questões políticas nem interesses grupais, é possível sonhar com o Hospital Universitário de Rondonópolis Dr. Antônio dos Santos Muniz. Para tanto, Analy Polizel e Tânia Balbinotti precisam dialogar – com interlocução com a Câmara Municipal e os parlamentares federais e estaduais domiciliados na cidade – pois a limitação da saúde pública exige flexibilizações, a exemplo do que acontece em Cáceres, onde o hospital regional foi transformado em hospital escola para o curso de medicina da Universidade do Estado (Unemat) e passou a atender como Hospital Regional Universitário de Cáceres Dr. Antônio Fontes.
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A flexibilização, quando possível, é arma para vencer a limitação em Mato Grosso, onde a saúde nem sempre é tratada como deveria. No ano passado o MEC autorizou o funcionamento do curso de Medicina do Centro Universitário do Vale do Araguaia (Univar), em Barra do Garças. Acontece que o Univar não tem hospital universitário e por isso terá que se socorrer no Hospital Municipal Dr. Milton Pessoa Morbeck, que na verdade é pouco mais que um pronto-socorro. Com um comodato para o Hospital Municipal Dr. Antônio dos Santos Muniz ganhar roupagem federalizada a região poderá superar o gargalo da Residência Médica e, de quebra, oferecer maior atendimento à população.
HOJE – Rondonópolis conta com dois grandes hospitais para atendimento aos regulados naquele e nos outros 17 municípios de seu polo, que tem 593.786 habitantes. A Santa Casa, com cerca de 300 leitos atende em maternidade, oncologia, pediatria, cardiologia, vascular e cirurgias gerais para as quais tem sete salas; tem UTIs adulto, neonatal e pediátrica e de cardiologia com hemodinâmica, revela sua ex-diretora executiva, Bianca Talita Franco.
Sem focalizar a possível criação do hospital universitário, mas levando em consideração somente a realidade com a Santa Casa e o Hospital Regional, Talita Franco defende que as residências devem ser feitas na primeira, pois prioritaramente a residência deve ser oferecida onde tem mais campo de estudo.
O Hospital Regional Irmã Elza Giovanella conta com 120 leitos para ortopedia, neurologia e cirurgia geral.
REALIDADE – O polo regional atende a população rondonopolitana e de 17 outros municípios. São 593.786 moradores que representam 15,47% dos 3.836.399 mato-grossenses. Sua base territorial é de 85.624 km² e corresponde a 9,47% de Mato Grosso. Se a região fosse estado seria o 20º em território, superando a Paraíba, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe e o Distrito Federal.

A população do polo é formada por 259.167 rondonopolitanos e pelos residentes em Primavera do Leste (92.927), Campo Verde (47.837), Jaciara (29.520), Paranatinga (28.204), Poxoréu (24.587), Pedra Preta (18.722), Alto Araguaia (17.657), Alto Garças (13.707), Itiquira (12.519), Juscimeira (11.620), Alto Taquari (11.571), Guiratinga (10.532), São Pedro da Cipa (4.247), Santo Antônio do Leste (4.212), Tesouro (2.9770, São José do Povo (2.780) e Araguainha (1.006).
Além da população de sua área, o polo ainda atende moradores da região pantaneira de Santo Antônio de Leverger, próximo a Rondonópolis, pela facilidade de acesso, o que não acontece em relação àquele município.
O exemplo da UFMT em Cuiabá
Em 1979 entrou em funcionamento o curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), criada em 10 de dezembro de 1970 pelo presidente Emílio Garrastazu Médici e o ministro da Educação, Jarbas Passarinho, e cujo primeiro reitor foi o médico cuiabano Gabriel Novis Neves. A formatura de médicos era possível, mas em Cuiabá não havia um hospital escola para a UFMT proporcionar aos alunos o Internato e a Residência Médica. Era preciso criar um hospital universitário, o que aconteceu, porém, a Faculdade de Medicina da UFMT não contava com instalações para tanto. Porém, essa limitação não foi obstáculo. Há 40 anos uma conjugação de esforços do governador Júlio Campos com o reitor, professor Benedito Pedro Dorileo; o professor Eduardo Delamonica Freire, chefe do Departamento de Medicina; e o secretário estadual de Saúde, Gabriel Novis Neves resultou na cessão de um hospital estadual para o funcionamento do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM).
Júlio Campos ressalta que a cessão do prédio para o HUJM foi uma das bandeiras de Gabriel Novis, “o Gabriel vivia Saúde Pública 25 horas por dia e entendia que o prédio para o funcionamento do hospital não poderia esperar por mais tempo”.

É por isso que sou sua fã número 1
Um sonho!!! Precisamos realizar !!! Estamos torcendo pela saúde, educação e também por mais receitas para Rondonópolis e região sul, que além do agro, pode sim, se tornar uma referência para a Saúde, Polo de Ensino e Pesquisa se assim quiserem
Bianca Talita – Engenheira de Produção e ex-diretora executiva da Santa Casa de Rondonópolis
Parabéns.
Ságuas Moraes – é médico e foi prefeito de Juína, deputado estadual, secretário de Estado e deputdo federal
Parabéns pela matéria! Agradeço em nome da saúde pública que sempre defendi com garra e idealismo.
É vida seguindo, história se repetindo e assim caminha a humanidade.
Durante o curso de medicina e com todas as mudanças políticas ocorrendo e a Constituição Cidadã viabilizando o SUS, embarquei em um sonho grande. Meu idelismo sonhou com Hospitais Universitários bem estruturados, modernos, com uma visão futurista, um salto de qualidade, adequados para o ensino, pesquisa e assistência de excelência, que viessem para ampliar, contribuir, fazer a diferença, ser marco de verdadeira evolução na rede de saúde pública. Os Hospitais Regionais e o início do HC foram essa esperança plantada em MT.
Esse momento, de criar um HU, é uma oportunidade única para qualquer governo e universidade investir de verdade, com a certeza de um retorno social sem precedentes para qualquer região, população… mas a história se repete com as mesmas propostas de adaptar velhas estruturas, investir muito no ‘melhor que nada’, nas parcerias imediatistass e lucrativas, assim protelar penúrias e esperanças para a população usuária do SUS, profissionais e acadêmicos.
O dinheiro sempre existiu para prioridades governamentais, mas infelizmente a saúde pública de MT teve poucos momentos de avanços significativos e muitos retrocessos. Nestes meus 40 anos de vivência na saúde, poderíamos estar melhor. Embarquei em um sonho grande e não desembarquei.
Elza Queiroz – médica anestesiologista e professora pioneira e aposentada do Hospital Universitário Júlio Müller em Cuiabá
Muito bom para a cidade .
Estamos torcendo para esse governo municipal ser mais flexível e fazer essas parcerias com a UFR .
Belíssima matéria .
Parabéns .
Daniel Marras – médico oftalmologista em Rondonópolis
Sugestão perfeita seu Eduardo e eu espero que o prefeito de Rondonópolis e a universidade a levem adiante. Meus parabéns.
José Rubens da Cunha – biólogo em Cuiabá