Boa Midia

Renato Nery e Jayme

Meus amigos, meus inimigos: o advogado Renato Gomes Nery, com a responsabilidade de quem já foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, em Mato Grosso, e sempre perfilou no grupo dos progressistas, entre nossos operadores do Direito, escreveu um artigo em tom solerte, manhoso, velhaco, para defender uma possível candidatura do ex-senador, ex-governador, ex-prefeito e atual secretário de Governo da Prefeitura de Várzea Grande, Jayme Veríssimo de Campos, ao governo do Estado, em 2018.

Minha primeira reação ao artigo foi aquele que sempre tenho quando acontece um daqueles fatos que o velho Almirante, em seus artigos para o jornal O Dia, lá no Rio de Janeiro, titulava como Incrível, Fantástico, Extraordinário. Fiquei achando que o Dr. Renato, depois de tantos e tantos anos de militância na ala dos progressistas, resolveu dá aquela aloprada básica, já que, ultimamente, tem muita gente preferindo deixar de sustentar velhas posições para dizer que resolveu seguir os preceitos do mago Raul Seixas, sempre descompromissado com a lógica, e se transformar em uma metamorfose ambulante.

Sim, vejam o que Renato Nery, em um possível momento de desvario, na , que deve ter até envergonhado o Paulo Taques, na cela em que se encontra, escreveu sobre o Jayme, em seu artigo, ardilosamente sem citar o nome do personagem: “Ele foi prefeito duas ou três vezes de sua cidade natal. Foi Governador e, também, Senador de República e nunca perdeu eleição. Sempre soube avançar a recuar quando foi preciso. Tem um senso de oportunidade como poucas pessoas e, ora dá uma ajuda inestimável para sua esposa que é Prefeita. O cenário indica que não será envolvido no mar de corrupção que tomou conta do Estado de Mato Grosso e do Brasil. É uma liderança apta, disponível, com estofo e prestígio para disputar as eleições do ano que vem. Tem fama de bom administrador e uma base eleitoral sólida. Transita com facilidade tanto na “situação” como na “oposição”. Consta que não tem arestas ou entraves que não possa transpor”.

Como numa ficção surrealista, digna do diretor de cinema David Linch, imagino Renato Nery escrevendo com quatro patas como se falasse para uma plateia de idiotas, que não sabe e nem quer saber quem foi e quem é Jayme Campos. Mas essa ficção não se sustenta diante aquele governador denunciado pelo então procurador Zé Pedro Taques como responsável por toda uma série de irregularidades que transformaram o projeto do Hospital Central, no Centro Político Administrativo, naquele monstrengo a simbolizar o permanente descaso das autoridades públicas com a Saúde Pública e com os interesses dos nossos contribuintes mais pobres. O hospital paralisado e sucateado continua lá. Da denúncia do Zé Pedro e da condenação em primeira instância, na Justiça Federal, ninguém sabe o que foi feito. Mas estão aí o próprio ex-denunciante Zé Pedro e esse progressista arrependido que parece ser hoje o Renato Nery a louvar “o estofo e o prestígio” de Jayme Campos.

Meu espaço é pequeno, mas não me esqueci que Dante de Oliveira e Antero Paes de Barros e mais o Gilson de Barros sempre se elegeram detalhando os males que o grupo político do Jayme sempre fez a Mato Grosso, Estado que, até recentemente, sempre figurou como reduto que a família Campos teria sabido explorar e degradar como poucos. E vem agora o Renato Nery, o antigo advogado progressista que agora faz sucesso como comerciante, para tentar “lavar” a biografia do Jayme!

Nery, encobrindo os fatos e manipulando as informações, com um descaramento que não fica bem em um polemista até então respeitável, tenta nos fazer crer que Jayme Campos tem fama de bom administrador! Ora, por que o ilustre causídico não detalha para todos nós, como foi o caso da Gleba Divisa, área de 330 mil hectares, em Guarantã do Norte, que Jayme desapropriou em sua administração em uma jogada que visava – segundo denúncia do MPF e conclusão de CPI comandada na Assembleia pelo deputado Wilson Santos – apenas beneficiar um grupo de apaniguados desse “político impoluto” que Renato Nery tenta agora inventar?

Confesso que quando li o panegírico constrangedor de Renato Nery para Jayme Campos, tal qual aquele personagem do Nelson Rodrigues, tive vontade de sentar no meio-fio e chorar lágrimas de esguicho. Quem te viu, quem te vê, Renato!

 

Enock Cavalcanti, jornalista, blogueiro, advogado, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá (edita paginadoe.com.br )

 

 

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