Juíza Selma na encruzilhada divisora de conduta

A diferença entre o oficial japonês e o político brasileiro é que o primeiro ao ser derrotado, faz haraquiri; e o outro, quando acusado, adota a condição de vítima, para se defender
Espero que a senadora Selma Arruda (PSL), nos revele seu lado ético nipônico, muito embora seja gaúcha radicada em Mato Grosso, onde após a magistratura optou pela política partidária e conseguiu a proeza de ser a segunda mulher representante da Terra de Rondon, no Senado – antes, a eleita foi Serys Slhessarenko, em 2002.
Selma Arruda que carrega a identidade parlamentar de Juíza Selma, acaba de ser indicada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP), para a presidência ora vaga do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar daquela casa legislativa do nosso sistema bicameral. O nome da senadora por Mato Grosso chegou a Alcolumbre por escolha do PSL, ao qual o cargo é reservado por acordo na composição das forças partidárias.
Não há nenhum impeditivo legal para que Juíza Selma assuma a função no Conselho. Porém, existe um grande empecilho de ordem moral, que não pode ser desconsiderado. Recentemente a senadora teve sua chapa ao Senado cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral por suposto abuso do poder econômico e caixa 2 na campanha de 2018; ela nega tais crimes e se defende nos tribunais. Essa cassação, mesmo respeitando a presunção da inocência, é mais um escândalo numa legislatura recheada de processados, investigados, delatados e até condenados. Assumir a responsabilidade de estar à frente de um instrumento que tem por fundamento zelar pela observância das regras do Código de Ética e Decoro Parlamentar, e do Regimento Interno, é algo incompatível com quem se encontra na situação de Juíza Selma.
Magistrada estadual aposentada, Juíza Selma sabe bem o que é arguição de suspeição no âmbito da magistratura. Ela, porém, política estreante, talvez ainda não tenha parado para refletir em suspeição na esfera do Senado.
A nação vê o Parlamento (em sua amplitude) com reticencias, pelos reiterados erros praticados por seus membros, pelas benesses que usufrui e condutas nada republicanas. Juíza Selma não deveria aceitar o Conselho. Num gesto que se espera das figuras públicas com grandeza, teria que recuar, dizer obrigado e ficar em plenário à espera do desfecho – em instância superior – do julgamento que lhe foi desfavorável no Tribunal Regional Eleitoral.
Sem que antes tivesse disputado mandato, em Mato Grosso Juíza Selma foi campeã de votos para o Senado. Recebeu 678.542 sim do eleitorado – meu voto se inclui nesse universo. O perfil de seu eleitor não é partidário, nem ideológico: é do brasileiro que defende o fim da roubalheira, da impunidade, das mamatas, do peleguismo, do corporativismo e da velhacaria política. Em meio ao fogaréu da condenação, aceitando o Conselho ela jogaria por terra o sonho dos milhares que a elegeram. Claro, que na função estaria no centro das atenções do noticiário, mas ao mesmo tempo cruzaria a perigosa e imaginária linha que separá o ético da falta de ética.
Juíza Selma está no divisor de águas. De um lado aquelas, limpas. De outro, as fétidas e barrentas onde chafurdam os oportunistas. Cabe a ela decidir em qual direção dará o próximo passo, enquanto aguarda pelo desfecho da ação que a deixa em situação desconfortável perante a população.
Entre moralidade e a legalidade a prudência recomenda que se opte pela primeira, pois onde há moral não existe nada ilegal.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Agência Senado
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