SINOP 45 ANOS – Plínio Callegaro, pioneiro também na vereança
Poeira. Sol. Calor. Mosquitos. Meio zonzo pela longa viagem Plínio Callegaro desceu do carro e pisou no solo de Sinop. Olhou para um cidadão que passava por perto, puxando prosa: “horário bom pra chegar; são 12 horas”. O estranho retrucou: “Negativo. Aqui em Mato Grosso são 11 horas”. O calendário marcava 9 de agosto de 1973. (Assim começou a relação do pioneiro Plínio Callegaro com Sinop e essa se manteve no melhor nível, de ambas as partes, até seu adeus em 28 de janeiro de 2010, portanto há dois anos).
Não restou dúvida. Plínio Callegaro sentiu que aquele lugar era bem diferente de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, e de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, onde residiu. Essa diferença começava pelo fuso horário, era desafiadora e o motivou ainda mais à luta.
A conversa com Ênio Pipino foi a mais proveitosa possível. Plínio Callegaro deixou o escritório do colonizador com o documento de um terreno na Avenida dos Mognos – mais tarde Avenida Júlio Campos.
A construção foi rápida e a churrascaria tornou-se a sétima casa na vila perdida nos confins da Amazônia, na calha do rio Teles Pires, município de Chapada dos Guimarães. Freguesia nunca faltou. Todos os dias levas e levas de José, Ricardo, Pedro, Lara, Regina, Renata, Ana, Agenor, Gabriel, Nicolas, Jeisa, Luiz, Cláudia, Mara, Milena, Carlos, Carolina, Selma, Davi, Valéria e dezenas de outros chegavam ao projeto de colonização de Ênio Pipino. Carne também nunca saiu do cardápio. O entusiasmado dono do estabelecimento mantinha pescador pra garantir peixe frito, grelhado e ensopado. O charque era presença constante nas mesas. Frango caipira e leitões criados no quintal diversificavam a oferta. Além disso, Plínio Callegaro comprava vacas em Nobres e Rosário Oeste e as carneava bem ao estilo gaúcho para saciar o apetite da população flutuante de Sinop e os operários que trabalhavam na construção das primeiras casas.
Em 14 de setembro de 1974 a churrascaria de Plínio Callegaro ficou pequena pra tanta gente. Sinop estava em festa naquela data: era a inauguração oficial da vila, por Pipino e pelo ministro do Interior, Rangel Reis, com direito a corte de fita.
Construções brotavam por todos os lados quando em 24 de julho de 1976 Sinop foi elevada à Distrito de Paz de Chapada dos Guimarães. A participação de Plínio Callegaro na luta pela criação do Distrito o fez respeitado politicamente e em 15 de novembro daquele ano elegeu-se vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), precursor do PMDB e que mais tarde retornaria ao nome primitivo. Naquele pleito o Nortão conquistou quatro das 11 cadeiras à Câmara Municipal de Chapada dos Guimarães.
A luta pela emancipação do município era causa comum, compartilhada por todos, mas Plínio Callegaro destacou-se por seu empenho tanto junto ao governo quanto a Assembleia, além de seu relevante papel nas reuniões mensais da Câmara.
Em 17 de dezembro de 1979, portanto antes que Plínio Callegaro concluísse o mandato, o governador Frederico Campos sancionou a lei que emancipou Sinop de Chapada dos Guimarães.
Sinop reconhece a luta de seu pioneiro e ex-vereador por sua emancipação. Tanto assim, que o logradouro mais bonito e central da cidade recebeu o nome de Praça Plínio Callegaro.
Em 28 de janeiro de 2010, aos 67 anos, vítima de um infarto, Plínio Callegaro fechou os olhos para sempre, na cidade de São Miguel do Iguaçu, onde visitava parentes. Seu corpo está sepultado na cidade que ajudou a construir.
Texto do jornalista Eduardo Gomes com base num depoimento de Calegaro em fevereiro de 2006, em sua casa, e acrescido na informação sobre seu adeus.
FOTO: Biro Curado – em arquivo de 2006
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