Aviação tem encontro marcado no Aero Jerusalém em Água Boa
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Enquanto espera pelo apito do trem, Água Boa ganha destaque na aviação para em breve ser referência aérea e ferroviária no Vale do Araguaia

Dizem que prosa de hangar não tem fim. E não tem mesmo. Só que ao contrário da conversa de pescador, ela é interessante, resulta em informações valiosas para quem segura o manche e consegue a proeza de abrir portas para manicaca tornar-se experiente comandante. Não somente para o bate-papo, mas para celebrar a vida, a amizade, o avanço da aviação executiva e aeroagrícola no Vale do Araguaia, a cidade de Água Boa, no centro geodésico do Brasil, sediará em 31 de maio, o 3º Encontro de Aviadores e Amigos, no Aero Jerusalém. O evento é organizado pela Associação Aguaboense de Aviação Aero Jerusalém, formado por grupo de empresários da região, presidido pelo empresário Gerson Luís Garbuio. Para quem não sabe, Aero Jerusalém é um aeródromo construído por empresários em Água Boa e que simplesmente é o melhor e mais moderno aeroporto da região.
O evento foi a maneira encontrada pelos organizadores para reunir pilotos, empresários do setor aéreo, mecânicos, empresas de aviação executiva e agrícola e outros interessados pelo transporte aéreo. Neste ano, o encontro acontecerá num sábado, “data tradicionalmente com agenda menos apertada”, observa o sócio da Aero Jerusalém, comandante e advogado Tiago Thoma.
Afinal o que é Aero Jerusalém?
A melhor resposta seria: um aeródromo construído por um grupo de empresários em Água Boa, cidade que tem um aeroporto municipal homologado para voos noturnos, mas que a exemplo do que acontece Brasil afora, enfrenta o amordaçamento da burocracia do serviço público.
Município com fortes vínculos com a aviação em sua curta história, Água Boa tem bom fluxo aéreo. Pecuaristas locais domiciliados em Goiás, São Paulo, outros estados e até mesmo em Mato Grosso, fazem do avião sua ferramenta de trabalho. Porém, a burocracia no aeroporto da cidade e a falta de hangares tornou-se um embaraço. Um grupo de 10 empresários decidiu construir o Aero Jerusalém. Esse grupo foi expandido para 12. Em 9 de maio de 2022 começaram as obras da pista, hangares, estação de embarque e outras instalações. No dia 8 de julho daquele ano houve a conclusão. Em 9 de setembro, ainda de 2022, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) homologou a pista, devidamente balizada para voo noturno.
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A pista, pavimentada, tem 1.500 metros de extensão por 24 metros de largura. Não há obstáculo em suas cabeceiras e a mesma situa-se fora do perímetro urbano, embora próxima ao mesmo. Seu acesso terrestre é pela rodovia BR-158, nas imediações do Posto da Polícia Rodoviária Federal. O Aero Jerusalém foi planejado para expansão em módulos. Tem quatro hangares e espaço para outros. Além da energia fornecida pela concessionária Energisa, o aeródromo conta com um conjunto diesel estacionário para geração alternativa e emergencial.
Tanto pela modernidade de sua pista quanto pela relação de cordialidade entre seus sócios e o chamado mundo da aviação no Araguaia, no dia a dia as operações de pouso e decolagens aumentam. As aeronaves são as mais diversas possíveis, incluindo o famoso Ipanema, jatos executivos, turboélices, bimotores, monomotores e helicópteros. Num feijão com arroz de fácil entendimento, Thoma observa que a pista tem capacidade para operar o ATR-72, com 78 assentos, que é um turboélice muito utilizado na aviação regional brasileira.
Um dos idealizadores e sócio do Aero Jerusalém é o empresário do agronegócio Maurício Tonhá, conhecido nacionalmente por presidir a Estância Bahia, fundada em Água Boa e que é uma grande leiloeira de bovinos. Maurício Tonhá foi prefeito de Água Boa em dois mandatos consecutivos e uma de suas obras foi a pavimentação do Aeroporto Municipal Frederico Carlos Müller, por entender que sua cidade precisava da aviação, pelo seu perfil econômico e sua localização geográfica, na região central do país.
Maurício Tonhá promove leilões com transmissão pela televisão e tem audiência cativa, sobretudo entre pecuaristas. Na telinha Maurício Tonhá divulga o encontro da Aero Jerusalém e estimula a utilização de sua pista.
TREM – A mineradora Vale constrói a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) com 383 km ligando Mara Rosa (GO) a Água Boa via Cocalinho e Nova Nazaré. A obra deverá ser concluída em meados de 2027 e será importante corredor para o escoamento das commodities agrícolas de Água Boa e região, para o porto de Itaqui (MA). Em Mara Rosa a Fico fará conexão com a Ferrovia Norte-Sul, que acessa Itaqui e outros portos do Arco Norte.
Com a Fico aumentará sensivelmente a utilização da aviação executiva em Água Boa por empresários do agronegócio, pela instalação da Estação Aduaneira do Interior (EADI), popularmente chamada de Porto Seco, que funcionará quase no limite com Nova Nazaré e será o local com maior fluxo de veículos pesados do Vale do Araguaia. O Porto Seco além de ser uma repartição facilitadora de operações comerciais internacionais nos dois sentidos, é também terminal de embarque e desembarque de commodities e outras cargas. Na linguagem ferroviária essa estrutura recebe o nome de Pera, por seu formato. O que é a Pera? Pera foi o nome dado pela sabedoria popular ao pátio de manobras das composições de carga. Trata-se de um grande trecho de trilhos em formato redondo, pelo qual os trens recebem e descarregam cargas, e fazem transbordo. As composições são enormes e giram como se estivessem gravitando no entorno de um eixo imaginário.
No contexto da Fico, a Aero Jerusalém terá papel mais importante ainda para facilitar o vaivém do empresariados e dos técnicos ligados ao transporte ferroviário.

MEMÓRIA – Água Boa tem vínculos históricos com a aviação. Nos anos 1970, quando o pastor luterano e colonizador Norberto Schwantes lançou os projetos urbanos de Canarana e Água Boa, o Vale do Araguaia não contava com rodovia pavimentada e muitas travessias de rios eram feitas por balsas. Pioneiros oriundos do Rio Grande do Sul eram transportados por aviões da Viação Aérea Canarana (VACA), empresa auxiliar da colonização feita por Schwantes. Um dos símbolos daquela época é um bimotor DC-3, que está sobre um pedestal na praça Sigfreud Roewer, que todos chamam de Praça do Avião, em Canarana.
Alguns dos antigos moradores em Água Boa chegaram pelas asas dos aviões da VACA. Porém, antes que o transporte aéreo ajudasse a colonizar o Vale do Araguaia, na região o pioneiro e produtor rural Paulo Thoma cultivava arroz. Para a pequena população da época, Paulo Thoma era o Paulo Alemão. Reconhecendo seu pioneirismo e sua importância para o desenvolvimento regional, o governo estadual deu seu nome e apelido ao hospital regional de Água Boa, o Hospital Regional Paulo Thoma – Paulo Alemão.
Tiago Thoma, que será um dos anfitriões do 3º Encontro de Aviadores e Amigos no Aero Jerusalém, é neto de Paulo Alemão.
Tiago Thoma, visionário tanto quanto o avô, sonha acordado com Água Boa na vanguarda da aviação e do transporte ferroviário no Vale do Araguaia.
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