De doces candidatos ao Senado
Sem exceção as campanhas eleitorais migraram do contato pessoal para a internet em sua amplitude. Na verdade, se trata de avanço democrático, de modernização do processo político, mas em Mato Grosso, sobretudo em Cuiabá, essa mudança tem um grave e preocupante componente: o aliciamento da praticamente toda a mídia por parte de candidaturas, o que escamoteia informações sobre o ontem dos postulantes, foge à crítica e ao questionamento e sonega a realidade ao eleitor. Não sei se o que é mais grave nesse contexto: se o político que compra a linha editorial ou o empresário do setor de Comuncação que a vende.
Mato Grosso está a um passo de inédita eleição suplementar ao Senado para preenchimento de uma vaga aberta com a cassação da senadora Selma Arruda (Podemos) por crimes de abuso de poder econômico e caixa 2, e ocupada bionicamente por Carlos Fávaro (PSD), que mesmo derrotado no pleito em 2018 ganhou um mandato manga curta numa estranha – estranhíssima – decisão monocrática do ministro Luiz Fux, à época presidente do Supremo Tribunal Federal.
A proximidade da data da votação exige cobertura jornalística abrangente, questionadora e independente para que o eleitor tenha o melhor conteúdo possível sobre os 11 que disputam o cargo. Isso, porém, não acontece. Sites abrem manchetes igualitárias sobre os candidatos abastados financeiramente e que em tese podem investir em mídia de modo formal e até mesmo por fora – situação essa de difícil comprovação.
Sites mostram os candidatos por seus melhores sorrisos, rodeados por apoiadores, em carreatas, apresentando propostas, e também destacam apoiamentos que os mesmos recebem. Porém, eles não registram com isenção, clareza e profundidade o passado desses políticos.
Em plena democracia vivemos a ditadura da estranha ligação de candidatos com sites. Não se prendam a este texto, a internet é nossa testemunha: acessem os tais sites em suas matérias factuais e recuem em busca. Quem se atentar para essa observação verá a forma tendenciosa da cobertura da eleição. Mais: comparem a citação dos chamados grandes candidatos (os endinheirados e clientes em potencial de acertos impúrios) com o espaço dado às candidaturas do radical Procurador Mauro (PSOL), a Feliciano Azuaga (Novo), a Elizeu Nascimento (DC) e a Valdir Barranco (PT). Quem comparar, verá que temos uma mídia especializada em dourar a pílula dos que lhe interessam, e em desqualificar aqueles que não conhecem o caminho do seu Departamento Comercial.
A modernidade nos livra da hipocrisia de candidatos carregando meninos sujos e catarrentos nos braços, mas nos empurra ao jogo do interesse da mídia com sua visão monocular, que onde lhe interessa vê o que não existe, e onde não rende, não vê o realmente intessante, pois o que conta para ela é a promoção dos doces candidatos ao Senado.
Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Ilustrativa e meramente referencial
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