Mato Grosso não é parte da briga de Pivetta e Fávaro
Carlos Fávaro (PSD) e Otaviano Pivetta (PDT) são cotados enquanto virtuais candidatos ao Senado na vaga da senadora Selma Arruda (Pode), recentemente cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas que permanece no cargo e tem fôlego judicial assegurado pra se defender. Numa visão ampliada não se pode questionar a participação de ambos. Afinal, todo eleitor com 35 anos ou mais, filiado em tempo hábil, aprovado em convenção e sem restrições judiciais é apto à disputa. Porém, é preciso analisar detalhadamente o que pode se esconder por trás do duelo nas urnas das duas principais figuras políticas de Lucas do Rio Verde e o que esse duelo eleitoral significa para o agronegócio.
Sacramentadas suas candidaturas Pivetta e Fávaro terão pela frente outros nomes concorrendo, mas os dois seguramente polarizariam a disputa, por algumas razões:
O agronegócio faria das tripas coração pra que um ou outro se eleja. Senador mato-grossense, sem pejoração, é despachante de luxo do agro junto ao BNDES, Banco do Brasil, Conselho Monetário Nacional, Banco Central, Ministério da Fazenda etc.

Ambos ricos e cercados pelo baronato do agro ganhariam espaço ilimitado junto a veículos de Comunicação e na mídia social. Sabemos como são feitas as campanhas eleitorais em Mato Grosso e conhecemos de sobra nossa empenhada mídia.
Numa campanha manga curta, brotada no improviso de uma eleição suplementar e com o componente de animosidade entre Fávaro e Pivetta, os dois levariam vantagem sobre os demais concorrentes. Que chances de cobertura numa situação assim teriam Waldir Caldas (Novo), Maria Lúcia Cavalli (PCdoB), Nilson Leitão ou Francis Maria (PSDB), Gisela Simona (PROS), Neurilan Fraga (PL), José Medeiros (Pode); Eduardo Botelho ou Júlio Campos ou Fábio Garcia (DEM), Teté Bezerra (MDB), Sirlei Theis (PV), Carlos Abicalil, (PT) e Procurador Mauro (PSOL)?
Teríamos duas candidaturas douradas. Fávaro com as bênçãos do governador Mauro Mendes, de Blairo Maggi e parte do agro. Pivetta, com boa fatia do PIB que cultiva em Mato Grosso, e ambos, cada um em seu quadrado, com espaço mais do que suficiente na mídia e nos artigos carimbados de veteranos formadores de opinião.
Botar em dúvida as duas candidaturas pode parecer sentença de tribunal de exceção. Pode sim, mas ambos deveriam mostrar o contrário. Primeiro, na composição de suas chapas. Segundo, fugindo do campo pessoal. Terceiro, fazendo campanhas limpas, sem abuso do poder econômico, sem atrelamento do dito quarto poder.
Com candidaturas transparentes e em pé de igualdade com os outros participantes, Fávaro e Pivetta contribuiriam para o processo democrático pleno, o mesmo que levou Selma Arruda ao cadafalso por abuso de poder econòmico, caixa 2 e campanha extemporânea.
Pivetta por três vezes foi prefeito de Lucas do Rio Verde e sua administração é considerada modelo nacional Exerceu mandato ofuscado de deputado estadual (2007/10) num período em que o então deputado José Riva era praticamente dono da Assembleia Legislativa – por não se submeter a Riva, foi jogado pra escanteio. Teve curta passagem pela Secretaria de Desenvolvimento Rural no primeiro governo de Blairo Maggi, onde também não se destacou. E em 2010 foi candidato a vice-governador na chapa de Mauro Mendes (então PSB), que foi batida em primeiro turno por Silval Barbosa (PMDB).

É vice-governador de Mauro Mendes, mas sem forte influência no governo.
Fávaro presidiu a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e ninguém sabe o que fez naquele cargo.
Pelo PP, Fávaro se elegeu vice-governador de Pedro Taques em 2014; foi secretário estadual de Meio Ambiente; em 2018 renunciou ao mandato temendo que Taques viajasse ao exterior e ele automaticamente fosse revestido do cargo, condição essa que o tornaria inelegível para disputar o Senado pelo PSD, como fez, ficando em terceiro lugar com 434.972 votos (foram eleitos Selma Arruda, com 678.542 votos, e Jayme Campos/DEM, com 490.699 votos).
Fávaro regionalmente preside o PSD, partido criado em Mato Grosso por Riva, que o controlou até 2014, quando caiu em desgraça eleitoral. A sigla de Fávaro abriga o que a sabedoria popular chama de Viúvas de Riva – um grupo de políticos disperso em dezenas de municípios.
São dois históricos bem distintos, mas entre seus personagens há uma rivalidade que não deveria ser decidida pelo eleitorado mato-grossense favoravelmente a um ou a outro. Entendam o caso:
Em 2016 Pivetta tentava a reeleição em Lucas e esperava contar com apoio de Taques, do qual foi coordenador de campanha e um dos financiadores. Porém, isso não aconteceu. Segundo se comenta nos bastidores políticos, o governador mandou Fávaro (que mora em Lucas) lançar um candidto a prefeito pelo PSD. Fávaro indiciou Flori Luiz Binotti. Flori recebeu 14.408 votos e Pìvetta 14.166. Pivetta teve o registro de sua candidatura cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral na antevéspera do pleito e quando reverteu a situação foi tarde demais – a decisão judicial prejudicou seu desempenho nas urnas.
Eleição em Lucas sempre é muito disputada, mas em 2016 aconteceu um fato atípico que foi decisivo para a derrota de Pivetta. Operários maranhenses contratados por um complexo industrial na cidade foram estimulados a transferirem seus títulos, e teriam recebido generosas injeções de mimos para votarem em Flori. Fávaro estaria por trás dessa jogada, que foi fatal para Pivetta. Um fosso se abriu. Essa divergência entre dois líderes do agro, sem dúvida, motiva a disputa entre eles, que será dicidida pelo eleitorado. De quebra, ganhe quem ganhar, o agro será o vencedor e mais um capítulo da democracia será escrito por Mato Grosso.
Que na eleição suplementar para o Senado, que se vislumbra, Mato Grosso vote por Mato Grosso, que não vote agronegócio pelo agronegócio, que não entre na animosidade entre dois candidatos. O que estará em jogo é a representação do Estado e não bandeira de segmento econômico. Que Pivetta e Fávaro tratem de explicar essa situação, caso realmente sejam candidatos, como se comenta aos quatro cantos nessa abençoada e ensolarada terra.
Eduardo Gomes de Andrade ´Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Agência SEnado em arquivo
2 e 3 – Tchélo Figueiredo e Christiano Antonucci, respectivamente, Ambos no site público do Governo de Mato Grosso
Sou contra os dois e a favor da briga
Márcio Olegário Jr.