FOGO – Hora de pente fino nas ONGs
Cenário mais desolador, impossível. Mato Grosso arde em chamas nas cidades e no campo. O fogo urbano comprovadamente resulta da irresponsabilidade social do morador, que não respeita a lei – que proíbe seu uso o ano inteiro – e aposta na impunidade. Abordo, então, as labaredas nas áreas rurais antropizadas ou não.
Antes da abordagem sobre o momento, é preciso retroagir a 1970 – o marco temporal da interiorização da área que em 1977 remanesceria após a divisão territorial que naquele ano criou Mato Grosso do Sul.
À época, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), antecessor do Incra, condicionava a titulação das áreas públicas ao desmatamento. O posseiro – independentemente da superfície de sua posse – que não desmatasse não seria titulado. Mais: a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) – mais tarde se transformaria na Funasa – determinava que fossem derrubadas as matas ciliares, por se tratar de ambiente propicio à reprodução e aos ataques do anofelino – o mosquito da malária.
Também naquela época, o desmatamento não observava encostas, nascentes, nada… O corte raso botava floresta e cerrado no chão. Cultivava-se uma lavoura anual, não havia rotação de cultura, não se conhecia o plantio direto. Em três ou quatro anos a terra cansada, era abandonada, virava quiçaça.
A fronteira agrícola avançou em todas as direções e Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja, algodão, milho safrinha, além de ocupar lugar de destaque em outras lavouras. Como isso foi possível?
Foi possível com a transformação da agricultura em agronegócio. De uma o produtor saltou para duas safras anuais na mesma área, com rotação de cultura e plantio direto. O uso do fogo, tão comum há três décadas, virou abominação. Quem cultiva o solo em Mato Grosso sabe que a cada safra sua área aumenta seu banco de nutrientes com a palhada, munha, soca da lavoura colhida, que fica pelo chão com a passagem da colheitadeira.
O produtor rural não queima. O madeireiro, tão satanizado, também não, já que o fogo não resulta em nenhum interesse econômico na sua atividade.
Se não é o produtor rural nem o madeiro, quem é o Senhor Labareda em Mato Grosso?
São vários. Um deles é o índio, que em nome de sua cultura utiliza fogo para caçada em agosto, época em que a estiagem afugenta os bichos. Cobri um desses fogaréus feito por xavantes em Água Boa. Nos assentamentos da reforma agrária, onde pouco se produz, parceleiros costumam limpar as coivaras – quem é da área entende – com fogo. Num desses casos, em 1998, um gaúcho recém-assentando em Santo Antônio do Fontoura (de São José do Xingu) provocou o maior incêndio florestal que se tem notícia em Mato Grosso. As chamas se alastraram por muitos municípios, milhares de bovinos morreram, os danos patrimoniais e ambientais foram enormes. Também cobri aquela tragédia. Restam os incêndios oriundos de combustão natural e criminosos.
Combustão natural inclui incidentes. O sol forte refletido numa lata de cerveja ou refrigerante por resultar em chama. Labaredas de escapamentos de caminhões a diesel podem provocar incêndios à margem de rodovia – com desdobramentos sérios. Porém é preciso observar que a Polícia Rodoviária Federal é extremamente rigorosa na fiscalização dos pesadões, para que os mesmos não trafeguem com a bomba injetora desregulada -regulada, a possibilidade de se expelir fogo é remotíssima.
Incêndio criminoso é um componente que merece severa investigação. Acho que o presidente Jair Bolsonaro foi feliz ao apontar o dedo para ONGs, que no entendimento dele, estariam por trás de incêndios florestais. Pode parecer estranho um presidente adotar esse tipo de discurso, mas é preciso entender que foi exatamente para abrir a caixa de ferramenta que o Brasil o elegeu.
Há muito tempo Mato Grosso enfrenta incêndios florestais que surgem do nada. O fogaréu sempre começa em áreas altamente produtivas ou próximo a terras indígenas que planejam expansão. Até ontem, ambientalistas nacionais e estrangeiros recebiam polpudos recursos oriundos da generosidade da Velha Europa, principalmente por meio do Fundo Amazônia. Mesmo com os bolsos cheios, parte dessa gente poderia estar por trás do fogo por algumas razões: justificar sua atuação, desqualificar o Brasil internacionalmente e travar o processo produtivo agrícola nacional. Agora, com o recuo da Alemanha é Noruega, tais indivíduos enfrentarão dificultadas. Daí…
Acho que o caso das ONGs precisa ser passado a limpo, com quebra de sigilo telefônico e bancário de todos os ambientalistas profissionais. Não acredito que o Ministério Público Federal aja nesse sentido, pois o vejo muito parceiro desses organismos internacionais, mas algum magistrado pode determinar isso, de ofício.
Para que saibam que governo e produtores rurais se preocupam com a questão ambiental e tentam blindar Mato Grosso, vale destacar dois fatos:
Primeiro: em 2001 o então governador Dante de Oliveira advertiu o governador do Acre, Jorge Viana, que o acionaria no Supremo Tribunal Federal por conta da fumaça resultante de incêndios florestais naquele Estado, que poluíam Cuiabá.
Segundo: há 13 anos o empresário Blairo Maggi, em nome de seu Grupo Amaggi, tratou de fazer parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), então dirigido pelo cientista norte-americano Daniel Nepstad. O acordo entre eles, com 10 anos de validade, entre outras coisas resultava na provocação de pequenos focos de calor para calibragem dos satélites que monitoram a Amazônia Legal em tempo real. O experimentos foram realizados na fazenda Tanguro, em Querência e tive a oportunidade de cobrir algumas ações de Nepstad. O saudoso Homero Pereira, que presidiu a Federação da Agricultura e Pecuária (Famato) e mais tarde seria deputado federal, dizia sobre Nepstad que o mesmo “era ongueiro ‘dos nossos’”, no sentido de que ele oferecia uma capa de proteção aos produtores rurais contra o WWF e outras gigantes ecológicas mundiais.
Resumo: Estranhamente o fogo devora Mato Grosso há muito tempo, porém somente agora ganhou apelo ideológico, virou bandeira da esquerda. Um pente fino investigativo nas ONGs é imprescindível para se chegar às mãos que riscam os fósforos. Espero que o presidente Bolsonaro aja com a mesma desenvoltura com que fala. A floresta e o cerrado querem resposta. O povo mato-grossense, também.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Ilustrativa
Fantástico
Brilhante Brigadeiro. História crítica de quem conhece a realidade de Mato Grosso.
Ademar Andreola – Jornalista – Cuiabá – via grupo WhatsApp Boamidia