Boa Midia

JARUDORE – Abandonada e em agonia à espera da decisão de um desembargador

Em 21 deste julho Jarudore fez uma carreata para chamar a atenção, mas a mesma não repercutiu nacionalmente
Em 21 deste julho Jarudore fez uma carreata para chamar a atenção, mas a mesma não repercutiu nacionalmente

Mais agonia, impossível. Mais incerteza, também. É assim que se encontra Jarudore, mergulhado num poço de dor e desespero. Em cada rosto a marca do sofrimento. Em cada olhar uma interrogação. Tudo isso desde 28 de junho, por conta de uma decisão do juiz da 1ª Vara Federal de Rondonópolis, Victor de Carvalho Barbosa Albuquerque, que sentenciou o fatiamento daquele distrito para efeito de desintrusão. Desintrusão para entrega-lo aos índios bororos.

Todos sabem o prazo que resta e mentalmente contam os dias que faltam. O magistrado concedeu prazo de 45 e 90 dias para que a maior parte dos moradores deixe suas casas, suas roças, seus sonhos.

O fatiamento é cruel. É a face menos humana do Estado Brasileiro. O juiz decidiu que em até 45 dias – a contar de 28 de junho – os moradores numa área de 1.930 hectares peguem suas tralhas e saiam de suas casas. E que em 90 dias – tendo o mesmo marco temporal – os que residem numa região com 1.730 hectares façam o mesmo. Cumpridas as duas desintrusões restarão 1.046 hectares que compreendem a vila de Jarudore e seu entorno.

A área global de Jarudore é de 4.706 hectares. O fatiamento ilha a vila e força seu esvaziamento, uma vez que a mesma fica contornada quase em 360 graus por terra indígena. O próximo passo será o pontapé nos remanescentes daquela comunidade consolidada há 74 anos, à margem do rio Vermelho, onde anteriormente havia uma estação telegráfica construída pelo herói Marechal Cândido Mariano da SilvaRondon – o município é Poxoréu no polo de Rondonópolis.

E AGORA? Enquanto os dias passam e o prazo diminui, o coração aperta. Todos rezam, oram, torcem e pensam positivo num fôlego judicial pra que possam continuar lutando nos tribunais em Brasília. Jarudore tenta com um pedido de efeitos suspensivo (à decisão do juiz em Rondonópolis) junto ao desembargador  João Batista Moreira, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que a desintrusão em contagem regressiva não repita com sua gente o que aconteceu em 2012 com a população da vila de Estrela do Araguaia, que era mais conhecida por Posto da Mata, no Vale do Araguaia.

Unidos pela dor, jarudorenses se reúnem, impotentes, à espera do amanhã
Unidos pela dor, jarudorenses se reúnem, impotentes, à espera da incerteza do amanhã

Por mais que alguns tentem falar sobre outros assuntos, a desintrusão é o tema dominante nas casas, nas igrejas, no comércio, na tradicional Escola Franklin Cassiano da Silva, nas esquinas, nas caminhadas entre os sítios e a vila e vice-versa.

Um povo humilde, trabalhador, está a um passo do pontapé pelo Estado Brasileiro. São 1.650 idosos, jovens, crianças, homens, mulheres. É um parcela da nacionalidade que entristecida espera por uma diáspora em seu próprio pais.

Onde está o Estado Brasileiro, que não age em defesa de seus cidadãos?

Onde está a bancada federal mato-grossense, que no Senado e na Câmara dos Deputados não pronuncia a palavra Jarudore? Onde está o senador Wellington Fagundes (PL). Onde estão os deputados federais José Medeiros (Podemos) e Carlos Bezerra (MDB) residentes em Rondonópolis, ao lado de Jarudore?

Onde está a Assembleia Legislativa que em silêncio finge que não vê o drama enfrentado por mato-grossenses residentes no município de Poxoréu? Onde estão os 24 deputados estaduais que em plenário não pronunciam a palavra Jarudore? Onde estão os deputados Thiago Silva (MDB), Delegado Claudinei (PSL), Sebastião Rezende (PSC) e Nininho (PSD) – domiciliados eleitoralmente na vizinha Rondonópolis, e Max Russi (PSB), morador na também vizinha Jaciara?

Onde está o governador Mauro Mendes (DEM), que permanece indiferente diante da agressão sofrida pelo povo de Jarudore? Onde está o vice-governador Otaviano Pivetta (PDT)?

Onde está a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), que não reage diante do despejo do povo de Jarudore, que está a um passo de acontecer?

Onde está a União das Câmara Municipais de Mato Grosso (UCMMAT) que sequer demonstra ter conhecimento dessa situação?

Onde estão os partidos políticos que não cobram posicionamento de seus diretórios nacionais?

Onde está a poderosa Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), que tanto defendeu produtores de arroz na agora reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, mas se cala diante de Jarudore?

Onde está Mato Grosso que não faz uma cruzada cívica em defesa de Jarudore?

Jarudore precisa mostrar ao Brasil essa realidade. Precisa fazê-lo pelas redes sociais, uma vez que nem mesmo a Imprensa mato-grossense se interessa por essa questão. blogdoeduardogomes faz da causa de Jarudore sua causa.

Reaja população de Jarudore. Reajam simpatizantes da causa de Jarudore. O amanhã cobrará a conduta individual e coletiva  assumida hoje diante da hitlerização do Estado Brasileiro com indefesos brasileiros.

Que a reação de Jarudore chegue ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Que chegue ao plenário do Congresso Nacional. Que chegue ao presidente Jair Bolsonaro.

 

 

 

Cronologia de Jarudore

 

O rio Vermelho e o Morro do Coelho em Jarudore
O rio Vermelho e o Morro do Coelho em Jarudore

1926 – O Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon constrói uma estação telegráfica à margem do rio Vermelho.

1945 – Mato Grosso cria a vila de Jarudore ao lado da estação telegráfica. Naquele mesmo ano, atendendo pedido do Marechal Rondon, o Estado destina aos bororos uma área de 4.791,33 hectares (corrigida para 4.706 hectares) desmembrada de outra, do Estado, pelo Decreto 664, de 18 de agosto, baixado pelo interventor federal Júlio Müller.

Rondon era estrategista e defendia os índios. Ao pedir a terra para eles, queria assegurar que os mesmos tivessem um ponto de apoio – ao lado do telégrafo – para sua viagens embarcadas pelo rio Vermelho (que eles chamam de Poguba) entre as suas reservas nas chamadas terras altas e suas aldeias no Pantanal.

1947 – Em 26 de junho, o governador Arnaldo Estevão de Figueiredo cria a Escola Estadual Franklin Cassiano da Silva, em Jarudore, como parte da política de instalação de escolas em pontos estratégicos na região de Rondonópolis, para assegurar educação aos filhos dos colonos pioneiros que ocupavam o vazio demográfico nas calhas dos rios São Lourenço e Vermelho. Essa escola é uma das referências do lugar.

1958 – Em 20 de agosto O Cartório do Registro de Imóveis da Comarca de Poxoréu averba a matrícula 3.547 da área de Jarudore para a Funai.

Em  25 de dezembro o governador João Ponce de Arruda sanciona a Lei 1.191 criando o Distrito de Paz de Jarudore no município de Poxoréu, com base num projeto de lei do deputado Mário Spinelli (PSP) aprovado pela Assembleia Legislativa.

1973 – Somente o capitão bororo Henriquea mulher dele, dona Ana, e a filha do casal e professora no distrito, Maria, residem em Jarudore. Os demais de sua etnia abandonaram Jarudore e mudaram para a reserva Sangradouro/Volta Grande. “Capitão” era designação de cacique.

1978 – Bororos levam o capitão Henrique e seus familiares para a reserva Sangradouro/Volta Grande. Com a saída da família, a área onde viviam é ocupada pelo capitão José Luiz Quearuvare – também grafado Kiaruvare.  Naquele ano o capitão José Luiz deixa Jarudore.

2006 – Em 22 de junho a cacique Maria Aparecida Tore Ekureudo, da reserva Sangradouro/Volta Grande chega a Jarudore à frente de um grupo de 32 bororos, ocupa um sítio distante 7 quilômetros da área urbana e cujo posseiro é estranho aos moradores, e fixa o cartaz: “Área Indígena Aldeia Nova Bororos”.

Jarudore
Jarudore

No dia 25 de junho o procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, e o procurador Federal Cezar Augusto Lima Nascimento, representando a Funai, ingressam com uma Ação Civil Pública com pedido de liminar de antecipação de tutela específica, ao juiz da 3ª Vara da Justiça Federal em Cuiabá, César Augusto Bearsi, pela reintegração da área de Jarudore aos bororos. Até então os bororos não habitavam aquela área. Posteriormente, com a criação da Justiça Federal em Rondonópolis, a ação passou a tramitar na 1ª Vara daquela cidade.

Quem descobriu o sítio desocupado temporariamente que em seguida seria ocupado pelos bororos foi João Osmar Lopes, o Gaúchogenro da cacique Maria Aparecida. Gaúcho trabalhava numa linha de leite e conhecia bem a região.

Desde a chegada dos bororos Jarudore passou a enfrentar problemas de diversas naturezas.

Solução

Jarudore é antropizada e ocupada mansa e pacificamente há 74 anos. Uma composição satisfatória para todos seria o Estado adquirir uma área igual ou maior ao distrito, e anexa a uma das reservas dos bororos, e lhes dar em compensação  por aquela onde efetivamente nunca foram aldeados. Para que isso aconteça seria necessário uma ampla costura política e amparo da União em seu sentido mais amplo.

 

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTOS: blogdoeduardogomes

1 comentário
  1. Maria Stella Lima Diz

    Deus pague o senhor e abra o caminho do Jarudore
    Maria Stella Lima – Rondonópolis – via Facebook

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