Estado Brasileiro decidiu demolir Jarudore

Não se trata de realdeamento indígena, função essa do Estado Brasileiro definida em lei, quando terra de alguma etnia é invadida. Nada disso! Não se faz aldeamento em 4.706 hectares de área antropizada e situada próxima a grande centro urbano. Jarudore é um hino de tragédia social entoado em conjunto pela Justiça Federal, Ministério Público Federal, forças ideológicas de esquerda, ONGs internacionais, Funai e pelos adeptos do quanto pior, melhor. Em 28 de junho, o juiz federal Victor de Carvalho Saboya Albuquerque, da 1ª Vara de Rondonópolis, determinou prazo de até 45 e 90 dias para a desintrusão em parte da área rural daquele distrito de Poxoréu, pra entregá-la ao bororos. Trata-se de uma desintrusão parcelada, que voluntária ou involuntariamente enfraquece a resistência cívica dos 1.650 jarudorenses atingidos pela sentença do magistrado. Passo a passo o Estado Brasileiro avançará sobre a área rural e depois demolirá a a zona urbana.
Pobre Jarudore, que é uma das comunidades mais antigas de Mato Grosso.

Pobre distrito fadado aos escombros resultantes das demolições previstas judicialmente, a exemplo do que aconteceu em dezembro de 2012 com a vila Estrela do Araguaia, mais conhecida por Posto da Mata, no Vale do Araguaia, com área urbana em Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia, e zona rural nos dois municípios e em Bom Jesus do Araguaia.
É um absurdo a demolição de um distrito num Estado ainda em fase de ocupação dos vazios demográficos.
Não há o mínimo de serenidade, percepção social e de sensibilidade humana no desfecho da luta pela terra, travada há décadas por humildes brasileiros, ao cabo da enxada e em lombo de burro, em Jarudore. Esse desfecho é fruto de uma sistemática campanha de desestabilização brasileira orquestrada internacionalmente. Essa mesma campanha demoliu Posto da Mata e pretende varrer do mapa as cidades de Tabaporã, no Nortão, e Nova Nazaré, no Vale do Araguaia.

A vila Posto da Mata era a sede urbana de uma área de 155 mil hectares pertencentes à antiga fazenda Suiá-Missu ou fazenda do Papa, que foi doada pela multinacional Azienda Generale Italiana Petroli (Agip) ao Ministério da Justiça, quando da Eco-92, no Rio de Janeiro, para ser transformada na terra indígena Marãiwatsédé. É a política do dominó, sem pressa, ao estilo torniquete. Essa é a cara do Brasil indiferente, que não tem capacidade de reação.
A justificativa em Jarudore é sua entrega aos bororos. Pois bem! O governo tem meios para adquirir uma área anexa a uma das reservas Bororo e entrega-la em pagamento por aquela que se pretende ocupar. Isso é a lógica. Que não tentem argumentar o contrário alegando que Jarudore é parte da cultura da etnia que a quer, pois há 46 anos os últimos índios ali residentes a deixaram, e a mesma é ocupada mansa e pacificamente há mais de 70 anos, o que afasta a hipótese da identificação dos pretendentes com ela.
Lamentável o silêncio de Estado, politico e sindical sobre Jarudore. Triste a indiferença do mato-grossense com esse absurdo.

O governador democrata Mauro Mendes sequer pronuncia a palavra Jarudore.
A Assembleia Legislativa é de uma omissão sem tamanho. Nem mesmo os deputados da região de Jarudore, Max Russi (PSB), Nininho (PSD), Delegado Claudinei (PSL), Sebastião Rezende (PSC) e Thiago Silva (MDB) se manifestam. São adeptos do silencio de conveniência.
A bancada federal é extremamente omissa sobre questões indígenas mato-grossenses. O senador Wellington Fagundes (PL) e os deputados federais José Medeiros (Pode) e Carlos Bezerra (MDB) são domiciliados em Rondonópolis, que é o polo de Jarudore, mas nenhum se manifesta com o ardor necessário.
A Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), que é um feudo de mordomias, não se manifesta, ao contrário do que fez em 2009 quando da desintrusão de Raposa Serra do Sol. À época, a Famato botou mais de uma dezena de camionetes de luxo na estrada e foi para Roraima em busca dos holofotes da mídia nacional – o ano seguinte seria eleitoral e todos nós sabemos que aquela entidade tinha interesse na reeleição do deputado federal e seu líder Homero Pereira.
Uma comunidade ordeira, formada por trabalhadores humildes está a um passo do pontapé pra ser botada à beira do caminho, tal qual aconteceu com Posto da Mata, diante da insensibilidade do coletivo mato-grossense. Há muita identificação entre ambas, mas a vila no Araguaia pelo menos teve ao seu lado uma decisão da Assembleia Legislativa transformada em lei pelo governador Silval Barbosa, que o obtuso Ministério Público Federal e a petulante Funai não aceitaram sequer discutir: um projeto dos deputados José Riva e Adalto de Freitas foi aprovado e sancionado – permitindo que Mato Grosso desse em compensação uma área sem antropização, na mesma região, e com o dobro da extensão de Marãiwatsédé, em pagamento daquela. A insensibilidade chapa branca nessa terra onde o que mais sobra é terra, optou pela interpretação cintura fina da lei – o resultado é uma tragédia social agravada por suicídios, que enche de dor uma região distante do olhar de Cuiabá.
Durante décadas acompanhei o desenrolar de Posto da Mata, tal qual faço com Jarudore. Com seus moradores aprendi muito sobre agonia, incerteza, sofrimento. As lágrimas das duas comunidades se transformaram num rio invisível aos olhos de quem não enxerga com o coração, não compreende as razões da alma e que trata seres humanos como meros objetos da impessoalidade.
Jarudore nada acrescenta aos bororos, mas é tudo para seus 1.650 moradores. Mato Grosso, essa terra de tanta corrupção, tamanhas mamatas legais, de manutenção de absurdos direitos adquiridos, de governo caloteiro e de tantas mazelas, cada vez mais se transforma em berço de perseguição a pequenos produtores rurais, em palco de desagregação social.
Tudo que posso fazer é denunciar essa absurda situação e estender a mão a Jarudore, representada pelo líder da luta em defesa de seu povo, o ex-vereador por Poxoréu, Carlos Antônio do Carmo, o Mineiro. Que a mão de Deus ampare os jarudorenses a um passo de mais uma absurda diáspora mato-grossense, de origem agrária, para alegria e felicidade do Estado Brasileiro engessado, centralizador, insensível, desprovido de nacionalismo e nocivo ao cidadão, principalmente o mais fraco.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTOS: blogdoeduardogomes
Mais sobre Jarudore na capa deste site:
Desde a Constituição anterior à de 1988 o artigo 178 previa que terras habitadas há tempos imemoriais pelos índios pertencem aos índios. A solução conciliatória pacífica seria os ocupantes receberem terras públicas em outros locas e pagarem por elas já que invadiram as terras dos índios sem pagarem nada.
Brigadeiro você é a referência do jornalismo do Mato Grosso. Obrigado
Joaquim Scarpa – Sorriso
Covardia com os moradores de Jarudore e os vossos (Meus, não) políticos não dizem nada. Parabéns Sr. Eduardo por seu jornalismo em defesa de Mato Grosso
Mauro Jr. – Corretor de Imóveis – Cuiabá – via WhatsApp
Realmente um absurdo nenhum dos políticos se manifestarem interesse que buscam votos e os recebem e agora viram as costas para esse povo ?
É muito triste se isso acontecer, muitos perderam suas raízes e não terão o que mostrar para suas futuras gerações.
Sandra Raquel – Rondonópolis