Boa Midia

Série TRANSPARÊNCIA (29) Perfil de Pedro Taques

Janeiro 2015 - Pedro recebendo a faixa de Silval
Janeiro 2015 – Pedro recebendo a faixa de Silval

Não reinventei a roda ao escrever este perfil. Simplesmente reproduzi fragmentos de textos jornalísticos e de alguns de meus livros escritos desde o começo da trajetória política de Pedro Taques. Se as colocações do passado merecessem correções, as faria com humildade. Porém, nenhum fato as altera, ainda que minimamente. Portanto, trata-se da imagem do governador e ex-senador Pedro esculpida por ele próprio ao longo do tempo – modestamente avalio.

Ouvindo Pedro sobre RGA no Paiaguás
Ouvindo Pedro sobre RGA no Paiaguás

Sempre mantive postura de independência em relação a Pedro. Nunca lhe fiz oposição jornalística – fato comum entre profissionais da área Brasil afora – nem beijei sua mão. Nunca procurei me aproximar dele e a recíproca é verdadeira. Nas poucas vezes em que conversamos nos tratamos com respeito, com ele quase sempre pronto a responder o que lhe perguntei. Mesmo com a distância ele se referia – ainda o faz – a mim, por Brigadeiro, que é a forma carinhosa dos colegas ao se referirem a mim.

Tríplice naturalidade

 

Reeleição para governo é pleito plebiscitário. O eleitor não vota pela promessa nem por ouvir dizer sobre o postulante. Voto é sua resposta ao mandato que se tenta dobrar.  Pedro Taques (PSDB) está em cena para tentar segurar por mais quatro anos a faixa governamental que recebeu de Silval Barbosa. Na urna, o “sim” demonstrará o percentual que o aprova. O “não” será o duro troco daqueles que o desqualificam. Em outubro, a voz mato-grossense será a colheita – sem trocadilho nesta terra de grãos e plumas – do que foi plantado política, social, econômica e administrativamente pelo rosariense, várzea-grandense e cuiabano José Pedro Gonçalves Taques nascido em 15 de março de 1968. Seu reservado núcleo de relacionamento entenderá a resposta e dirá a ele: isso porque tu és Pedro.

Não fui o criador da tríplice naturalidade de Taques. Essa versão, ouvi dele, ao se dirigir ao vereador por Várzea Grande, Claido Celestino Batista, o Ferrinho, numa solenidade de inauguração de uma obra da prefeita Lucimar Campos. O governador fugiu do tema que abordava, e com naturalidade revelou a Ferrinho – e aos demais presentes – que seus pais Eda e Alinor (seo Nego) moravam na vila de Currupira, município de Rosário Oeste. Ela, com as primeiras contrações para o parto, foi trazida para Cuiabá percorrendo a estrada de chão entre as duas localidades. Quando o veículo entrou em Várzea Grande, a bolsa estourou. Seu nascimento foi concluído no Hospital Santa Helena, nesta capital. Daí a pluralidade do berço, que oficialmente, na papelada, confere a naturalidade cuiabana a Pedro.

 

O Pedro

 

2015 - A posse com o vice Fávaro
2015 – A posse com o vice Fávaro

O Pedro procurador da República é de domínio público. Ele, no Senado (eleito pelo PDT), entre 2011 e 2014, teve presença tímida, mas mesmo assim venceu em primeiro turno a disputa ao governo em 2014, por conta do sentimento de mudança que invadiu Mato Grosso, que era governado por Silval Barbosa (então PMDB), cujo nível de moralidade administrativa pode ser avaliado pelo volume de prisões de integrantes do alto escalão do Palácio Paiaguás – inclusive Silval – e pelos escândalos descobertos pelo Ministério Público (MP) e a Delegacia Fazendária.

Servidores protestam no Palácio Paiaguás pelo “não” ao pagamento da RGA

Pedro tomou posse e montou um governo entre amigos, mantendo a classe política à distância. Chegou ao poder sabedor que ao seu lado estava a opinião pública, praticamente toda a Imprensa controlada por sua Comunicação, a sempre submissa Assembleia e a generosa bancada federal.

Ao receber a chave do Paiaguás não apresentou num projeto administrativo. Sua primeira preocupação tornada pública foi a suspensão de todos os pagamentos vencidos e a vencer. Criou o programa “Bom pagador”, que não passou de um jogo de empurra com a barriga – parcelando dívidas em até 10 meses, mas mesmo assim, ainda sem quitar todas.

Seus compromissos básicos de campanha não foram cumpridos: concluir as obras da Copa do Mundo. Levar adiante o programa rodoviário MT Integrado, que virou Pró-Estradas. Construir a Cidade da Saúde em Cuiabá e quatro hospitais regionais.

Não valorizou o servidor público e brigou até não poder mais para não repassar a Revisão Geral Anual (RGA) que corrige o salário para protegê-lo da inflação no período.

Nunca cumpriu em dia o dever com as transferências constitucionais, incluindo o duodécimo dos poderes, Ministério Público, etc.

Deixou de pagar salário dentro do mês espichando o prazo para o dia 10 do mês subsequente.

Durante boa parte do governo satanizou o grupo político que o antecedeu, mas depois recuou e passou a viver lua de mel política com ex-seguidores de Silval e do ex-deputado estadual José Riva.

Agora, ao apagar das luzes do governo baixou decreto parcelando em 11 meses as dívidas por ele contraídas.

Não fez reforma administrativa para modernizar o Estado. Inchou a máquina pública. Não consegue explicar que mesmo com o aumento das receitas correntes líquidas o governo permanece de pires nas mãos.

Usa e abusa das mordomias. Mesmo insistindo que há uma crise aguda, continua cruzando os céus em jatinho fretado, quando poderia ir a Brasília em voos comerciais e visitar os municípios mais afastados de Cuiabá utilizando avião bimotor.

De temperamento azedo, Pedro é desagregador político. Praticamente toda a cúpula política que o cercava o abandonou, inclusive Fávaro, que renunciou ao cargo de vice-governador – primeiro caso dessa natureza no país. Seu secretariado sempre esteve em rotatividade.

Pedro e Fábio de mãos dadas nos bons tempos

Um exemplo: a administração de Pedro é caracterizada pela morosidade das poucas obras que executa. Desde que assumiu, prometeu que construiria a Zona de Processamento de Exportação de Cáceres (ZPE), mas não o fez. A obra mal começou e estancou; quem a executa (ou executava?) é uma empresa do empresário Robério Garcia, que é pai do deputado federal e presidente regional do DEM, Fábio Garcia. Até recentemente Pedro e Fábio eram aliados e o governador para justificar o empacamento  da ZPE culpava uma empresa perdedora da licitação, que segundo ele, teria criado embaraços judiciais. Agora, rompido com Fábio, diz sem constrangimento que a culpa “é do pai do Fabinho”. Esse é o tipo do discurso preocupante para alguém que busca mais quatro anos no poder.

 

Rei antes da coroa

 

Antes de assumir o Paiaguás Pedro já tinha o controle do Estado nas mãos. Em setembro de 2014, quando Silval era governador em final de mandato, mas não mandava mais nada, Mato Grosso passou a ser violentado com o escândalo da Grampolândia Pantaneira, um sistema criminoso de arapongagem que levou para a cadeia quase toda a cúpula da Segurança Pública e Paulo Taques, primo do governador, ex-chefe da Casa Civil e coordenador de sua campanha ao governo.

Grampolândia além de prender Paulo Taques, também mandou para a cadeia o secretário de Segurança Pública, delegado Roger Jarbas; o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel PM Airton Benedito Siqueira Júnior; o chefe da Casa Militar, coronel PM Evandro Lesco; o subchefe da Casa Militar, coronel PM Ronelson Barros; o comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; e figuras da arraia-miúda no governo.

O desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, revelou que mais de 70 mil cidadãos teriam sido gravados por Grampolândia, crime que resultou numa ação ainda em tramitação, mas com seus envolvidos aguardando o julgamento em liberdade.

O cerco sobre os crimes praticados em Grampolândia se fecha lentamente, apesar de provas materiais, confissões em juízo e um calhamaço de cruzamento de investigações. Em recente depoimento a 11ª Vara Criminal e Justiça Militar, o cabo PM Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior apontou Pedro e seu primo Paulo Taques enquanto líderes de Grampolândia – Gérson foi o principal operador as escutas, que na gíria policial são chamadas de “barriga de aluguel” e assume a condição de réu confesso.

Pedro de defende jurando inocência. Alega que pediu ao Superior Tribunal de Justiça para investiga-lo. Observa que os acusados devem responder pelas acusações, pois cada um tem sua cabeça, nome próprio e CPF.

Pedro sem limites

 

Mesmo sangrando José Riva vence Pedro Taques
Mesmo sangrando José Riva vence Pedro Taques

Este perfil revela uma jogada do governador Pedro Taques para aumentar seu controle sobre a esfera política. Taques estava fortalecido e às vésperas de assumir o Palácio Paiaguás e mesmo assim foi derrotado pelo então deputado estadual José Riva, que se encontrava a um passo do término do mandato, carregava a pecha de maior ficha suja do Brasil e respondia a dezenas de ações por improbidade. Claro que Taques nega, mas trata-se de algo grave na briga de foices no escuro  pela plenitude do poder.

Esse episódio da derrota de Taques mostra como as peças do tabuleiro político são mexidas – em alguns casos por manobras nada republicanas, que são negadas pelos autores e dificilmente chegam ao conhecimento da população.

Taques desconhece a linha que separa o permitido e o proibido, quando o assunto é o poder

Taques desconhece a linha que separa o permitido e o proibido, quando o assunto é o poder

 

Taques desconhece a linha que separa o permitido e o proibido, quando o assunto é o poder. Essa condição motivou sua derrota para Riva. Os dois não se enfrentaram diretamente, mas por meio de seus liderados. O governador eleito lançou para a presidência da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), o então prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano PivettaRiva, a um passo do cadafalso indicou o à época prefeito de Nortelândia, Neurilan Fraga, para o cargo. Essa disputa vista somente pelo voto em si seria a mais democrática possível, Porém, um fato obscuro na tentativa de forçar uma vitória do candidato de Taques entrou para a galeria das páginas mais desonrosas da política mato-grossense.

O texto abaixo, extraído do livro “O ciclo de fogo – biografia não autorizada de Riva“, publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade – sem apoio das leis de incentivos culturais – no capítulo “Maksuês, o delator” mergulha naquele fato. (Abaixo).

 

Maksuês, o delator

 

Maksuês Leite tentou se reeleger deputado estadual em 2010, mas não conseguiu. Jornalista e pequeno empresário da Comunicação ele queria vender produtos gráficos ao governo e a Assembleia Legislativa, mas não tinha gráfica e foi impedido de participar das licitações. Era aquilo que se chama de “dono de empresa de pastinha” – pastinha pra simbolizar que sua propriedade era carregada debaixo do braço. Para se inserir ao mercado, algum tempo depois comprou uma impressora ultrapassada e de pouca capacidade operacional para sua firma Propel – Comércio de Materiais de Escritório, em Várzea Grande, com nome de fantasia de Gráfica O Documento. Assim, entre aspas virou empresário do setor gráfico.

No final de 2012, quando a legislatura da Câmara Municipal de Cuiabá chegava ao fim, Maksuês conseguiu uma proeza. O presidente daquele Legislativo, Júlio Pinheiro (PTB) e a Propel fizeram um termo de adesão de R$ 1.650.000 para a elaboração de materiais gráficos. O termo não foi levado adiante por Júlio Pinheiro, por duas razões, segundo Maksuês: o mandato do vereador na presidência estava em contagem regressiva e não haveria lastro financeiro para tanto.

Em 2013 João Emanuel (PSD) assumiu a presidência da Câmara e levou adiante o termo de adesão, que esmiuçado era a contratação de serviços gráficos para elaborar 150 mil livros contando a história do Legislativo Cuiabanocinco mil exemplares da Constituição de Cuiabá, crachás e outros itens de menor relevância.

Maksuês e João Emanuel tentaram levar adiante um plano mafioso. O primeiro, mesmo sem capacidade operacional para tanto, deveria imprimir dezenas de milhares de livros. O outro, ainda que os recebesse, não teria público alvo para distribui-los, pois à época a população cuiabana não ia além de 569.830 habitantes incluindo bebês, crianças e analfabetos.

A impressão dos livros era algo mirabolante. Se efetivamente fossem impressos a Câmara teria condições de doar um para cada quatro habitantes da cidade.

O estranho negócio, segundo Maksuês, na verdade seria pano de fundo para encobrir um rombo nas finanças da Câmara. A gráfica fingiria que imprimiu e o cliente João Emanuel juraria que recebeu a encomenda contratada. Essa esbórnia com o dinheiro público ficou bem evidenciada num vídeo que vazou no desenrolar da Operação Aprendiz, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MP). Aprendiz desmontou o esquema e seus desdobramentos resultaram no afastamento e posterior cassação de João Emanuel.

O esquema de Maksuês e João Emanuel era verdadeira engrenagem criminosa. Cada um dos dentes tinha função especifica na sua operacionalização. O braço direito de Maksuês era seu sócio na gráfica, Gleisy Ferreira de Souza. O vereador era secundado por servidores da Câmara: o secretário-geral, Aparecido Alves da Silva, o Cido; o chefe do setor Jurídico, advogado Rodrigo Terra Cyrineu; e pelo chefe do Almoxarifado, Renan Moreno Lins Figueiredo. Cido atestava a necessidade da aquisição, Ciryneu fundamentava a legalidade da transação e Figueiredo chancelava os recebimentos do material gráfico.

Pego com a mão na botija Maksuês aceitou colaborar com o MP por meio de delação premiada. Oficialmente sua versão é a seguinte: do montante dos pagamentos pelos serviços contratados João Emanuel ficaria com 75%. Os 25% restante teriam três destinações: 13% para recolhimento dos impostos sobre as operações e 12% para serem divididos em partes iguais entre ele e seu sócio Gleisy, também alcançado pela investigação. O desdobramento da delação chegou a um acordo de Maksuês com a Justiça, pelo qual desde maio de 2015 ele devolve R$ 400 mil aos cofres públicos em 24 parcelas mensais.

A delação de Maksuês, como se comenta nos bastidores, não foi mero gesto de boa vontade nem indício de arrependimento. Ele teria cedido diante de forte pressão sofrida no Gaeco, que o teria alertado sobre a possibilidade de pedir a prisão de sua mulher, Mara Rúbia, por seu suposto envolvimento no escândalo com a Câmara. Para proteger a família, Maksuês disparou para todos os lados.

Para reforçar sua condição de delator Maksuês acusou praticamente todo o empresariado cuiabano do ramo gráficode praticar negócios ilícitos com o governo e a Assembleia Legislativa. Daí surgiu à versão de que as compras de produtos gráficos pelos dois poderes seria nos mesmos moldes da transação com João Emanuel: 75% e 25%. Nesse cenário a Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz) iniciou investigação para tentar descobrir possíveis fraudes nas licitações do governo e Assembleia Legislativa com as gráficas.

O escândalo envolvendo Maksuês chamuscou o então presidente da Assembleia, José Riva (PSD) por duas razões. Primeiro:Maksuês foi deputado na legislatura de 2007/10 pelo PP, partido liderado por Riva, que controlava a Mesa Diretora da Assembleia. Depois Riva migraria para o PSD, que foi reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral em 27 de setembro de 2011. Riva foi um dos seus principais fundadores no Brasil, pelo volume de filiações por ele canalizadas, conforme reconheceu o líder nacional da legenda, Gilberto KassabSegundo: à época João Emanuel era casado com a agora deputada estadual Janayna Riva, filha de Riva.

Em outubro de 2014 o senador pedetista Pedro Taques se elegeu governador em primeiro turno. Ao longo da campanha Taques anunciava que botaria os corruptos na cadeia e não escondia animosidade com Riva e o então governador Silval Barbosa (PMDB). No período entre a eleição e posse a Defaz montou a Operação Edição Extra. No grupo de Taques a meta era fazer um verdadeiro strike político para tirar Silval, Riva e o primeiro-secretário da Assembleia, Mauro Savi (PR), do caminho do governador eleito, lançando mão de tudo que se possa imaginar. Edição Extra, nesse caso, seria verdadeiro mamão com açúcar. Sem Silval, Riva e Savi, o novo governador chegaria ao poder com a oposição engessada.

Para fazer o strike político era preciso atingir também empresários do ramo gráfico, prestadores de serviço ao governo e a Assembleia. Gaeco, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, Procuradoria Geral da República e Polícia Civil sempre escolhem nomes sugestivos para suas operações e que têm a ver com os fatos em apuração. Edição Extra não se identifica com gráficas. Quem lida com edição extra é jornal. Melhor esclarecendo: lidava, quando os matutinos imprimiam uma nova edição no mesmo dia, para cobertura de fato muito relevante. Atualmente, com a instantaneidade da internet, as mídias eletrônicas se encarregam dos furos deixando aos jornais a cobertura conceitual para o dia seguinte. Mesmo assim, a denominação foi mantida, porque na verdade, como se ouvia com frequência nos bastidores, ela visava atingir em cheio o empresário João Dorileo Leal, proprietário e diretor do Jornal A Gazeta, que integra o Grupo Gazeta de Comunicação.

Estranhamente o nome de Dorileo foi excluído de Edição Extra permanecendo o foco da investigação e da ação policial voltados contra empresários do setor gráfico, um vendedor da Gráfica Printt e servidores do segundo escalão do governo.

Puxado por Riva, Neurilan ganhou a AMM

Puxado por Riva, Neurilan Fraga ganhou a presidência da AMM

Taques ainda não havia assumido o governo, mas a máquina governamental se reportava a ele. Daí o desencadeamento naquela data da operação, que era esperada como meio de se extrair grave denúncia contra Silval, Riva  e Savi – com base em delação premiada – num ambiente recheado pelas prisões de servidores do governo e empresários do segmento gráfico. Sites e plantões de jornalismo na TV e no rádio foram mobilizados para um noticiário pirotécnico, que tinha uma finalidade criminosa: influenciar na votação para a diretoria da Associação Mato-grossense dos Municípios  (AMM).

O governador eleito defendia com unhas e dentes a candidatura do prefeito de Lucas do Rio Verde e então seu correligionário no PDT, Otaviano Pivetta, para presidente da AMM. Pivetta foi coordenador e doador na campanha de Taques ao governo. Hoje Taques é filiado ao PSDB. Pivetta disputava o cargo contra Neurilan Fraga Filho (PSD), prefeito de Nortelândia, que era liderado de Riva e se amparava no prestígio político daquele deputado.

Em 18 de dezembro de 2014, com Taques diplomado governador, a Defaz desencadeou Edição Extra. Naquela data, no final da manhã, a AMM iniciaria o processo de votação para a escolha de seu novo presidente e da diretoria da entidade.

Na sombra de Taques, Otaviano Pivetta foi o menos votado

Na sombra de Taques, Otaviano Pivetta foi o menos votado

As eminências pardas do poder imaginavam que uma denúncia consistente contra Silval, Riva e Savi levaria Pivetta a vencer a eleição. Nos hotéis onde se hospedavam, os prefeitos que se encontravam em Cuiabá para a votação assistiram, no café da manhã, os jornais da televisão informando que a polícia prendera secretários de Silval, que policiais lacraram as portas da Secretaria de Comunicação do Estado e ninguém tinha acesso àquele órgão, e que os empresários do setor gráfico e irmãos Fábio e Dalmi Defanti (Gráfica Printt) e Jorge Defanti (Gráfica Defanti) estavam sendo caçados por agentes. Paralelamente a isso, sites se desdobravam em manchetes que falavam num escândalo que teria causado um rombo de R$ 40 milhões ao governo. Posteriormente os Defanti se apresentaram à polícia, que cumpriu os mandados de prisão contra os três, expedidos pelo juiz plantonista Jamilson Haddad Campos

A maturidade política dos prefeitos não permitiu que a pirotecnia interferisse no resultado das urnasNeurilan, apoiado por Riva, foi eleito com 59 votos. Adair Moreira (PMDB), de Alto Paraguai, que disputou sem apadrinhamento, como franco atirador, ficou em segundo, com 32 votos. Pivetta foi o lanterna, com 30 votos, apesar do circo armado por Taques. Com a vitória Neurilan sucederia Valdecir Luiz Colle, o Chiquinho do Posto (PSD), prefeito de Juscimeira e também liderado e apoiado por Riva.

Não se questiona a lisura das investigações feitas pela Defaz, nem o profissionalismo de seus delegados e agentes. O quê da questão é a coincidência de data da operação com a eleição na AMM e a mobilização de boa parte da mídia na madrugada para produzir o material que poderia pulverizar a candidatura de Neurilan e beneficiar Pivetta, mas esse tiro saiu pela culatra.

O resultado da eleição na AMM foi a última vitória de Riva e a primeira derrota de Taques. Naquela disputa, pela primeira vez, o governador eleito foi derrotado em seu projeto de expansão do seu poder político. O vencedor era Riva, deputado em final de mandato, considerado à época o maior ficha suja do Brasil e que mais tarde, por diversas vezes foi preso sob a acusação de prática de improbidade administrativa.

 

Alucinado pelo poder

 

Procurador da República, Pedro coabitava as redações em busca de espaço para divulgar suas ações e os mirabolantes feitos que criava. A generosidade jornalística muito contribuiu para sua escalada.

Em 2015 ao publicar o livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir”, com ilustração de Generino e sem apoio das leis de incentivos culturais, transformei Pedro em um dos meus personagens, no capítulo “Um bicheiro por uma estátua”. Sua leitura é boa forma de se conhecer mais ainda seu perfil (Abaixo). 

 

Um bicheiro por uma estátua

 

Hoje Cuiabá nega com convicção labial, mas durante anos a elite e o poder mato-grossenses concentrados nesta capital quase tricentenária vibravam quando conseguiam um minutinho ao lado do ex-policial civil transformado em comendador, o Comendador João Arcanjo Ribeiro, dono do jogo do bicho, dos cassinos, de poderosas factorings e empreendimentos que englobavam – ou ainda englobam? – várias atividades na ensolarada Terra de Rondon.

O Comendador Arcanjo reinava absoluto. Em público, nas entrevistas, nas solenidades e nas missas das cinco na bicentenária Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, em Cuiabá, seu semblante era o mais cândido possível. Não se via segurança a sua volta. Não tinha gestos bruscos. Não portava arma ostensivamente, se é que carregava algum trabuco na cinta ou na canela.

Seu título foi apenas mais um mimo da classe política que tanto o cultuava. É, o Comendador era cult e cultuado. Em 1987, quando vereador por Cuiabá, Marcelo Ribeiro lhe concedeu a comenda da Ordem do Mérito, que criou a auréola rotular, com a qual passou a se identificar e a ser identificado: Comendador Arcanjo. Depois, o vereador Wilson Coutinho lhe outorgou o Título de Cidadão Cuiabano, com o sim unânime de seus pares. A honraria maior viria em 5 de dezembro de 1997, quando o deputado Paulo Moura o presenteou com o Título de Cidadão Mato-grossense, com a Mesa Diretora e o plenário da Assembleia de pé, aplaudindo freneticamente.

Pena que depois da queda do império do Comendador Arcanjo a Câmara tenha cassado sua comenda da Ordem do Mérito e a Cidadania Cuiabana, que tão bem lhe caíam e o faziam a cara da vereança de Cuiabá.

O Comendador Arcanjo reinava em Cuiabá e por onde pisasse em Mato Grosso sem que o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público Estadual (MPE), a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Polícia Federal fizessem algo para botar fim à jogatina e ao bicho que se dava ao luxo de divulgar as extrações diárias da Loterias Colibri no rádio e na TV.

Por volta das 15h da segunda-feira 30 de setembro de 2002, na Rua Professora Tereza Lobo, em Cuiabá, defronte ao jornal Folha do Estado, o empresário Domingos Sávio Brandão de Lima Júnior, dono e fundador daquele periódico, foi executado a tiros e o império do Comendador Arcanjo começou a desmoronar.

O assassinato de Sávio Brandão foi debitado ao Comendador Arcanjo, que era denunciado pela Folha do Estado de ser chefe do crime organizado em Mato Grosso.

O sangue de Sávio Brandão clamava por justiça, mas Mato Grosso se fazia de morto. O assunto era tratado com cautela pela indefesa população. Não havia nenhum indício de que o assassinato seria passado a limpo, nem se notava nenhuma movimentação no sentido de se chegar ao Comendador Arcanjo.

O governador tucano Rogério Salles sentiu que precisava tomar providência antes que o crime organizado saísse da penumbra e assumisse de vez as rédeas o Estado. No começo de outubro de 2002, Rogério foi recebido em audiência pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros, para falar sobre a violência em Mato Grosso.

O governador disse ao ministro que a situação era insustentável, que MPF, MPE e a polícia tinham conhecimento do quadro e que faltava apenas um operação para desmantelar o crime organizado antes que fosse tarde demais.

Renan tentou contemporizar. Rogério foi curto e grosso: “Esta aqui é a chave do meu gabinete. Ou o senhor conserta Mato Grosso ou manda alguém para assumir o governo”. Renan deu um sorriso amarelo.

Dois meses depois da audiência a Operação Arca de Noé desmantelou o esquema do Comendador Arcanjo, que fugiu para o Uruguai, onde foi preso.

O ex-homem forte insiste que não mandou matar Sávio Brandão. Também nega que tivesse cometido outros crimes, mas acabou enrodilhado por um cerco muito poderoso. Sua situação é complicada: foi condenado até por posse ilegal de um revólver e a pena foi aplicada açodadamente antes que o Estatuto do Desarmamento estivesse vigorando, o que levou a justiça a revogá-la.

Numa busca e apreensão da Arca de Noé numa das factorings do Comendador Arcanjo, em Cuiabá, o MPE encontrou 22 notas promissórias emitidas em 1999 e 2000 pelo então presidente da Assembleia Legislativa, Humberto Bosaipo (PL), e o primeiro-secretário José Riva (PSDB), com valores de R$ 700 mil ou pouco mais ou menos que essa importância, que juntos perfazem R$ 15,4 milhões. Bosaipo fez silêncio sobre a apreensão. Riva alegou que se tratava de caução por um negócio que não foi realizado. O favorecido encontrou justificativa comercial. Em resumo: tais promissórias podem ser consideradas fortes indícios da relação do ex-homem forte com o poder político mato-grossense.

O procurador da República Pedro Taques soube tirar uma casquinha da Operação Arca de Noé, mudou-se para as páginas dos jornais e dos sites e por tempo virou manchete crônica das TVs e do rádio. Depois se elegeu senador e governador. Resumo: Cuiabá ficou livre do Comendador Arcanjo, mas em compensação Mato Grosso ganhou um governador que não governa, porque dentro dele vive um procurador da República, como ele próprio reconhece e admite, mas sem dar a mão à palmatória sobre sua omissão no caso que levou Rogério a jogar a chave sobre a mesa de Renan.

Escândalos sem fim

Nem mesmo o governo de Silval conseguiu protagonizar tantos escândalos quanto o de Pedro.
Paulo Taques foi preso pela terceira vez, agora por seu suposto envolvimento num esquema que teria desviado mais de R$ 30 milhões do Detran, que resultou na Operação Bereré, que em sua segunda fase virou Operação Bônus. Juntamente com Paulo Taques foi preso seu irmão e sócio num escritório de advocacia, Pedro Taques (xará do governador). Pelo mesmo crime também são acusados sete deputados estaduais, que até recentemente compunham a base parlamentar de Pedro. No mesmo caso, Silval, seu ex-chefe de Gabinete Sílvio Corrêa; o ex-deputado federal Pedro Henry (aquele do Mensalão); e o ex-presidente do Detran, Teodoro Lopes, o Dóia, também estão na mira do MP.
No governo Pedro foi descoberto um rombo milionário em obras de construção e reformas de escolas. O ex-secretário de Educação Permínio Pinto foi preso e virou réu confesso.
O ex-presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados (Ager), Eduardo Moura, acaba de ser condenado pela Justiça Federal em São Paulo a 3 anos de prisão por sonegação tributária acima de R$ 45 milhões.
Pedro nomeou para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico o suplente de deputado estadual Carlos Avalone (PSDB), que foi preso na Operação Pacenas da Polícia Federal, que investigou maracutaias nas obras de saneamento em Cuiabá e Várzea Grande com recursos do PAC. Também nomeou secretário de Cidades o deputado estadual tucano Wilson Santos, que tem bens bloqueados por suspeita de superfaturamento nas obras do Rodoanel Norte de Cuiabá, apelidado pela sabedoria populara de Roubanel.
A resistência de Pedro à classe política no começo de seu governo cedeu espaço ao escancaramento da porteira aos políticos no campo administrativo. Essa tática, para engrossar o apoio à sua tentativa de reeleição, tem seu ponto alto na escolha de Rui Prado (PSDB) para seu companheiro de chapa. Rui Prado em 2014 foi candidato ao Senado pelo PSD, então liderado e controlado por Riva.
PS – O empresário Alan Malouf, que foi coordenador financeiro da campanha de Pedro em 2014, delatou ao Ministério Público Federal com homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),  Marco Aurélio, o suposto envolvimento de Pedro com o esquema na Secretaria de Educação, que resultou na prisão de Permínio Pinto.  
O teor da delação ainda não foi revelado oficialmente, mas segundo se apurou Malouf teria informado sobre a existência de caixa 2 na campanha de Pedro ao governo.  Para fechar a contabilidade da campanha – pagando a quem emprestou para cobrir gastos eleitorais – o esquema na Secretaria de Educação contaria com o sinal verde de Pedro.  Malouf tentou essa delação junto ao Ministério Público Estadual, mas não conseguiu.
RESUMO – Em síntese, esse é o perfil de Pedro. Aguardem pelas postagens dos perfis dos candidatos majoritários Jayme Campos, Otaviano Pivetta, Wellington Fagundes, Maria Lúcia, Sebastião Carlos, Mauro Mendes, Procurador Mauro, Fávaro, Selma, Franz, Waldir Caldas, Enfermeiro Vanderley Guia, Leitão, Rui Prado e Gilberto Lopes Filho. Os perfis de Adilton, Sirlei e Arthur Nogueira estão nesta página.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS:1 e 3 – Comunicação do Governo de Mato Grosso 2 – Dinalte Miranda4 – Eduardo Gomes5 – Divulgação de campanha 20146 – Maurício Barbant7  – Agência Senado8 – Agência CNM9 – Arquivo10 Arte Generino
4 Comentários
  1. Marcinho Diz

    mestre brigadeiro meus respeitos você é o cara

  2. Nina Diz

    Brigadeiro teus textos são boas aulas do jornalismo independente. Eu acho que é por isso que a politicalha não se aproxima de ti.

  3. Professora Sandra Diz

    Eduardo, meu amigo, que texto belíssimo. A hist´oria de MT nos últimos sete ou oito anos em palavras bem colocadas. Gostei “MT ficou livre do comendador, mas ganhou um governador que não governa…”.
    Professora Sandra Fagundes – Cuiabá (via WhatsApp)

  4. João Neto Diz

    O senhor foi muito feliz nesse texto ele está a cara do Pedim

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