Boa Midia

40 Anos – Trânsito violento em Cuiabá

Blitz da Lei Seca tira do trânsito motoristas bêbados
Lei Seca tira do trânsito motoristas bêbados

Cuiabá tem um trânsito pesado, violento e que piora a cada dia. Município com perfil populacional urbano, a capital mato-grossense tem 590 mil habitantes e sua frota é de 408 mil veículos, dos quais 91 mil são motos de todas as cilindradas que se possa imaginar. A balbúrdia sobre rodas em boa parte cruzando ruas estreitas, em 2016 resultou em 90 acidentes com 95 vítimas fatais no local.

Além da frota municipal, Cuiabá ainda recebe diariamente grande fluxo motorizado da vizinha Várzea Grande que tem 154 mil veículos, dos quais, 12 mil motos. Para complicar ainda mais o trânsito, de segunda a sexta-feira a capital é invadida por automóveis e utilitários de todos os cantos de Mato Grosso.

Existem duas realidades no trânsito cuiabano. As modernas avenidas construídas após o fluxo migratório iniciado no ano de 1970 oferecem boas condições de trafegabilidade. Porém, o Centro Histórico com suas vielas estreitas e sinuosas é um verdadeiro quebra-cabeça até mesmo para o mais paciente dos motoristas.

O transporte coletivo é precário, o que obriga proprietários de veículos a utilizarem os mesmos para irem ao trabalho. A tentativa de construção de 22 quilômetros de duas linhas de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá e Várzea Grande, como parte de modernização do aglomerado urbano para a Copa do Mundo de 2014 está empacada e o governo de Mato Grosso não tem resposta para a retomada da obra, paralisada há dois anos e nove meses.

A prefeitura tem uma política caça-níquel baseada em radares eletrônicos e videomonitoramento do trânsito para controle de velocidade nas vias mais movimentadas, mas não vai além das multas. Nenhuma obra para desatar o nó dos engarrafamentos e a lentidão nos horários de pico está em curso.

 

NÚMEROS – O titular da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito de Cuiabá (Deletran), delegado Christian Cabral, revela que 80% das mortes por colisões, atropelamentos e outros acidentes dessa macabra estatística podem ser debitados ao perigoso casamento do álcool ao volante com a velocidade. Mais: que os motoqueiros são as maiores vítimas.

Os números do ano passado são parecidos com os de 2015, quando ocorreram 91 acidentes com 99 vítimas fatais. Esses dados computam somente as mortes no local. Os que morrem nos hospitais ou após receberem alta hospitalar, mas em razão das sequelas, não fazem parte dessa estatística. Neste ano, até setembro, a Deletran registou 61 acidentes com 68 vítimas fatais.

O delegado Cabral acrescenta que no primeiro semestre deste ano, 36 vítimas de acidentes em outros municípios foram trazidas para Cuiabá, onde faleceram. Essas pessoas moravam em cidades carentes de Saúde Pública e foram submetidas ao chamado turismo de saúde.

 

RIGOR – O trânsito em Cuiabá seria ainda mais violento não fossem as seguidas blitze realizada pela Deletran por meio de operações conjuntas na esfera da Secretaria de Segurança Pública e desencadeadas em conjunto com o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, Ministério Público Estadual, Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Polícia Rodoviária Federal e a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob).

Nas blitze realizadas em Cuiabá no primeiro semestre deste no as multas por dirigir sob efeito do álcool somaram R$ 1.085.839, mas esse montante não pode ser tomado como balanço real, porque o autuado pode recorrer. Por data da blitz, as que registraram maiores volume de arrecadação foram: 26 de março, com R$ 114.453; em segundo lugar 9 de abril, com R$ 93.910,40; em terceiro, 3 de junho, com R$ 90.975,70; e em quarto, 30 de abril, com R$ 85.106,30. O delegado observa que essa “arrecadação é muito grande, mas infelizmente esse valor é ínfimo se comparado aos custos que as vítimas, a Segurança Pública, a Saúde Pública e a Seguridade Social têm em decorrência de acidentes causados por condutores embriagados”, avalia Cabral.

A blitz dura 90 minutos. Em média, essas operações da Lei Seca apreenderam em Cuiabá um veículo a cada seis minutos e a cada 23 minutos um motorista foi preso. Numa blitz de interiorização em Sorriso, durante uma hora, agentes da delegacia de Cabral aplicaram 34 multas que somaram R$ 99.779,80. Foram autuados motoristas embriagados ou que não aceitaram fazer o teste do bafômetro.

 

VIELAS – Cuiabá foi fundada em 8 de abril de 1719 pelo bandeirante paulista Pascoal Moreira Cabral. Seu povoamento não foi ordenado. Em 28 de agosto de 1835 ela se tornou capital mato-grossense, condição até então de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Sem acesso rodoviário, Cuiabá dependia exclusivamente do rio que lhe empresta o nome para se interligar ao país. A movimentação ficava basicamente por conta das chalanas que atracavam em seu cais trazendo produtos industrializados ou transformados, e em escala menor, a partir dos anos 1940, por avião.

O automóvel chegou ao começo do século passado, primeiro do que a estrada, que somente seria aberta em picadas carroçáveis nos anos 1940. A pavimentação da BR-364, seu principal acesso, foi concluída em 1973. Ano a ano a frota aumentava, mas não a ponto de haver congestionamentos nem acidentes em números expressivos.

Com a explosão populacional empurrada pelo fluxo migratório Cuiabá saltou de 100.860 habitantes em 1970 para 212.984 em 1980. A busca por espaço fez a cidade avançar sobre seu entorno, mas nem mesmo a expansão da área urbana impediu que ela passasse a perder a guerra para o trânsito.

 

EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
FOTO: Lenine Martins/Governo de Mato Grosso

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