REVISADO – Políticos do Araguaia não assumem a bandeira da BR-080 e ficam calados
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
BR-080 em Mato Grosso é uma rodovia que nem mesmo ela sabe qual é seu trajeto, pois não somente ele, mas, também, sua nomenclatura rodoviária mudam. Ora a via é a BR-080 da malha do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ora vira MT-322, administrada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra).

No dia 6 deste mês de janeiro escrevi a matéria Grande ponte liga o nada a lugar nenhum, focalizando essa grande radial, que originalmente previa a ligação de Brasília com a BR-163, em Matupá, para criar um corredor leste-oeste entre a capital federal e o Pará (pelo prosseguimento da rota pela BR-163 até Santarém). O texto além de informativo tinha o propósito de despertar a classe política do Vale do Araguaia pela efetiva construção da estrada, que ora não passa de proposta, e proposta que sequer tem projeto e muito menos licenciamento ambiental. Alcancei o objetivo de informar, mas quanto aos políticos – com as exceções de praxe – preguei no deserto.
A construção da BR-080, de Luiz Alves (de São Miguel do Araguaia/GO) a Ribeirão Cascalheira, cruzando o município de Cocalinho, seria um extraordinário ganho na logística de transporte na região central do Brasil e também para o Vale do Araguaia, nas duas margens daquele grande rio. Porém a indiferença da classe política do Araguaia Mato-grossense é revoltante. Dominado pelo sentimento de submissão e de medo, o político araguaiano fica em silêncio temendo contrariar o governador Mauro Mendes (União), e com cautela para não se indispor com o deputado estadual, deputado federal ou senador que lhe repassa emenda -pobre país das emendas entre quatro paredes.
A ponte, meus amigos, tem 1.100 metros de extensão, vão central e altura suficientes para a garantia da navegação comercial. Acontece que a rodovia morre na cabeceira do lado mato-grossense, pois após a mesma a BR-080 é uma marcação no mapa sobre os municípios de Cocalinho e Ribeirão Cascalheira, numa extensão de 200 km cruzando o rio das Mortes na vila Berrante, de Ribeirão Cascalheira. Acontece que a criação deste corredor passa longe do interesse da classe política, sempre enamorada com emendas e permanentemente a postos para eleger parlamentares estaduais e federais de outras regiões, independentemente de seu desempenho parlamentar favorável ou não ao Araguaia.

A realidade sobre a obra que batizei de Grande ponte liga o nada a lugar nenhum é esta. Mas, a mesma pode ser exibida por outro ângulo. Se ao invés do trajeto apresentado o mesmo for deslocado de Luiz Alves para Novo Santo Antônio, Serra Nova Dourada, Bom Jesus do Araguaia e Alô Brasil (à margem da BR-158 no município de Bom Jesus do Araguaia, mas próximo de Ribeirão Cascalheira), o ganho logístico seria mantido e com duas vantagens: parte do trajeto é pavimentado e a BR-080 teria trecho coincidente com a BR-158 no contorno para retirá-la da Terra Indígena Marãiwatsédé, dos xavantes.
Se a BR-080 for deslocada para a rota proposta, haveria um aumento de aproximadamente 75 km no trajeto, que pelo primeiro tem a extensão de 200 km. Em compensação a nova rota teria 58 km coincidente com o contorno da BR-158, dos quais, 37 km estão pavimentados entre Alô Brasil e Bom Jesus do Araguaia, e necessitarão apenas de algumas adequações no acostamento – pois o Estado constrói estradas com acostamento manga-curta. Além disso, essa rota integraria Novo Santo Antônio e Serra Nova Dourada à malha rodoviária pavimentada mato-grossense.
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HISTÓRICO – A obra da ponte sobre o Araguaia foi um dos marcos do governo do presidente Jair Bolsonaro. O ministro da Infraestrutura era Tarcísio de Freitas, agora governador de São Paulo. No entanto, é preciso observar que tanto o presidente quanto Tarcísio construíram o segundo andar de uma casa, mas se esqueceram que esse piso somente poderia ser ocupado a partir da construção do primeiro.
A ordem de serviço para a ponte foi dada em julho de 2020. A conclusão aconteceu no final de 2023, mas não foi feito o aterramento na margem mato-grossense. A bancada federal, o governador Mauro Mendes e a Assembleia Legislativa permaneceram em silêncio, como se aquela grande obra de Bolsonaro não interessasse a Mato Grosso. Muito estranho o silêncio político, principalmente por parte da bancada em Brasília, de forte domínio bolsonarista. À época, o deputado federal Nelson Barbudo (PL) e o deputado estadual Dr. Eugênio (PSB) não se manifestaram; o primeiro é domiciliado em Alto Taquari, e Dr. Eugênio em Água Boa – os dois municípios integram o Vale do Araguaia. Nelson Barbudo permanece calado. Dr. Eugênio cobra a construção da rodovia pelo traçado via vila Berrante.
TRANCA – Além da indiferença da classe política, sem excluir a representação do Araguaia – repito: com as exceções de praxe – a BR-080 terá contra si o furor ecolouco internacional e seu braço oficial tanto em Brasília quanto em Cuiabá. Pena que seja assim. Com um ou outro traçado a rodovia será peça integrante do modal rodoferroviário para escoar commodities agrícolas para o porto de Itaqui (MA), com transbordo da carga das carretas para os vagões do trem da Ferrovia Norte-Sul, em Gurupi (TO).
RESUMO – Não há lógica em travar a obra da BR-080 independentemente de seu traçado em Mato Grosso. Mesmo enfrentando pressões, mais dia menos dia ele será executada. No entanto, a demora para sua viabilização retarda o desenvolvimento de seu raio de influência no Vale do Araguaia – além de ser um verdadeiro atentado federativo.
Área central do Brasil, com forte produção pecuária e agrícola, com grandes reservas minerais e delimitada por dois dos principais rios brasileiros: o Araguaia e o Xingu, o Vale do Araguaia tem contra si o colonialismo político mato-grossense que teima em vê-lo como mero fornecedor de votos para eleger políticos de outras regiões, comprovadamente sem trabalho prestado ao Araguaia, e cuja trama é facilitada por políticos locais fracos e submissos, e cabos eleitorais sempre dispostos – em nome de seus interesses – a manter o Araguaia tutelado, andando em círculos e ostentando o pejorativo título de Vale dos Esquecidos.
Não creio que a classe política do Araguaia – prefeitos eleitos e releitos e vereadores iniciantes ou crônicos – assuma a bandeira da BR-080. Mas, espero que o cidadão do Araguaia entenda que sua representação política não é a melhor, e que saiba devolver com a moeda que move o mundo político: o voto, nesse caso, com a ausência dele.
Fotos:
1 – Dinalte Miranda
2 – Dnit
3 – Sinfra
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