VULTOS MATO-GROSSENSES – Blairo Maggi

Blairo Borges Maggi é o maior vulto político de Mato Grosso nos últimos anos. De grande empresário do agronegócio a suplente de senador, duas vezes governador, senador e ministro. Essa é sua trajetória rotular. Mas o que fez Blairo? Onde acertou e errou? Quem permeou seu universo na vida pública? Sua trajetória, das manifestações de carinho ao crivo do Ministério Público, está nesta série que deve ser lida por todos os que querem entender com profundidade o que aconteceu no seu ciclo de poder que chega ao fim, e que é chamado Era da Botina.
Blairo aos 11 anos, operava um velho trator agrícola nas lavouras do pai, André Antônio Maggi, em São Miguel do Iguaçu, no Paraná. Na juventude, atravessou a ponte sobre o rio Correntes na divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso e chegou ao município de Rondonópolis carregando sonhos, o diploma de agrônomo num canto da mudança e a responsabilidade de secundar o patriarca nos negócios da família, que à época eram grandes, mas nem tanto quanto agora. “Era um lavoureirozinho e nem me passava pela cabeça esse negócio de política, quanto mais que um dia seria governador”, revelou numa entrevista em sua casa, na Vila Birigui, em Rondonópolis, no domingo, 6 de outubro de 2002, logo após o término da apuração dos votos que o elegeram governador.
EMOÇÃO – Abraçado à filha adolescente Ticiane, Blairo chorou na noite de 6 de outubro de 2002. Não foram lágrimas de alegria por se encontrar a um passo do Palácio Paiaguás. Foi o choro emocionado de um homem que acabara de honrar o maior compromisso por ele até então assumido com a família: conquistar o governo de Mato Grosso para se empenhar de corpo e alma pela saúde pública e assistência social. A razão é de cunho sentimental: Ticiane foi vítima de uma doença gravíssima e seus médicos deram a pior notícia possível ao casal Maggi sobre o estado de saúde da menina. Removida aos Estados Unidos, ela voltou sã e transbordando de vida. Na recepção da ex-paciente, Blairo jurou consigo mesmo, “vou ser governador para fazer uma saúde modelo aos que não podem pagar medicina privada, em agradecimento a Deus pela recuperação da minha filha”.
Blairo chorou e não procurou esconder as lágrimas. Ele se emocionou e levou à emoção a mulher Terezinha e os filhos do casal: Ticiane, Belisa e André. “Pode confiar que o pai vai cumprir, filha; o pai vai cumprir”, disse entre lágrimas ao ser beijado pela menina.
Ao longo dos 90 dias de campanha Blairo nunca citou esse caso. “Não queria que isso fosse distorcido por adversários nem visto como um pedido de compaixão”, destacou.
BOTINA – A figura da botina superou a logomarca de uma mão aberta, com as cores amarelo e vermelho, do seu então partido, o PPS, usada por Blairo na campanha política que o levou ao governo. A sabedoria popular tinha lá suas razões de ser ao insistir em identifica-lo por aquele calçado. A mão insinuava duplo sentido: o “M” de Maggi e a mensagem de que o poder estaria sob seu controle. Por sua identidade empresarial e tradição familiar a botina surgia como pontapé na turma tucana que gravitava sob a liderança de Dante de Oliveira, o governador que deixou o cargo para tentar o Senado e não conseguiu. Em suma: o grupo do tênis que militava no PSDB deixava o poder para a turma da botina.
Com Blairo não tem tempo ruim. No comando de um grupo empresarial familiar se tornou o maior produtor de soja do mundo, titular de empresa de navegação, empresário que responde pela compra de 20% da soja mato-grossense, dono de indústrias e negócios espalhados pelos continentes. Ainda assim, pega cedo no batente sem se preocupar com a hora de parar.
Candidato a governador, dizia que levaria sua experiência empresarial para o governo. O povo que entendeu sua mensagem política, apostou na sua conduta pessoal e clamava pelas mudanças embutidas em seu programa de governo acreditando no amanhã no alvorecer do novo milênio para um Mato Grosso melhor, mais justo socialmente e capaz de responder por boa parte da política da segurança alimentar mundial. Seu bordão de campanha dizia, “’Tá’ na palma da mão; ‘tá’ na mão de quem sabe…”.
Política desde o primeiro choro

Quando ainda estava no ventre de sua mãe, dona Lúcia Borges Maggi, Blairo entrou no processo político. Seu pai, André Antônio Maggi, gaúcho tradicionalista do município de Torres, e morador no Paraná, não aceitava a ideia de registrar o primeiro – e único filho numa família que se completa com quatro filhas – com a naturalidade paranaense. Por isso, no cartório, declarou com toda a pompa que nas veias do piá nascido em 29 de maio de 1956 corria o sangue do Rio Grande do Sul, mais exatamente de Torres. Assim, logo após o primeiro choro, o varão dos Maggi dava um nó geográfico de identidade.
A política propriamente dita chegou para ele aos 38 anos, ao ser eleito suplente de senador. Pela segunda vez “o pai” – assim que ele se refere ao saudoso seo André – botou o dedo traçando seu caminho, como fez na escolha oficial de sua naturalidade. O então deputado federal Jonas Pinheiro era político atrelado ao agronegócio, que sequer carregava esse nome, e precisava de um suplente desse segmento, para sua chapa ao Senado. Daí, que bateu à porta dos Maggi em Rondonópolis oferecendo a suplência ao patriarca da família. Seo André não aceitou, mas botou o piá em seu lugar.
Suplência fora do plenário é sepultura de político otário, diz a sabedoria popular. Só que Blairo jurava não ser, nunca ter sido e que jamais seria político, mas mesmo assim Jonas tinha compromisso de abrir espaço com rodízio parlamentar para ele. Não deu outra. Em 1999 o senador deixou a vaga ao piá, que pegou gosto pela coisa, muito embora fizesse silêncio, para não deixar que ‘aquilo’ interferisse nos negócios da família.
Chegou 2002. O PSDB à época dava as cartas na política mato-grossense e os irmãos Jayme e Júlio Campos oriundos da Arena (PFL e DEM) estavam em baixa, sem força eleitoral para trombar com a máquina do poder azeitada pelo governador Dante de Oliveira, que no começo daquele ano renunciou ao Paiaguás para concorrer ao Senado e entregou o cargo ao vice e correligionário Rogério Salles. A força tucana era descomunal, mas os ocupantes do ninho brigaram entre si e perderam peças importantes. O longo período de Dante no poder (eleito em 1994 e reeleito em 1998) gerou desgastes.
Em 2002 Blairo entrou em cena ao governo. Era o “novo”, sem as máculas políticas que mais tarde ficariam visíveis em seu grupo, no grupo de Silval Barbosa e no grupo de Pedro Taques agora no apagar das luzes do poder. “Tá na palma da mão/ Tá na mão de quem sabe…”. Esse refrão chegou como uma forte ventania moralizadora Mato Grosso afora anunciando a candidatura de um empresário bom, que nem político era. Do outro lado da disputa, o senador tucano Antero Paes de Barros, com a vice Janete Riva, mulher do então poderoso deputado estadual e então mandachuva José Riva..
Blairo venceu em primeiro turno com 619.655 votos (50,68%) e assumiu o Paiaguás em 1º de janeiro de 2003. Ele, sozinho, não; boa parte de seu grupo empresarial, de onde foram arrancados os secretários Terezinha Maggi, Luiz Pagot, Clóves Vettorato e Waldir Teis. Sua companheira de chapa e correligionária, a vice-governadora Iraci França, é mulher do ex-prefeito de Cuiabá e ex-deputado Roberto França.
Realmente o poder estava na palma da mão do novo.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – José Medeiros
2 – Revista Ótima
PS – O perfil de Blairo na série VULTOS MATO-GROSSENSES é contado em cinco capítulos diários. Acompanhem.
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