Boa Midia

Uma esquina do mundo

 

A Itália é aqui

 

A Matriz São João Batista
Um religioso italiano que trabalhava na Missão Salesiana em Poxoréu, gostava tanto do lugar, que ao morrer, em 1972, seu coração foi mantido naquela cidade, mesmo com seu corpo tendo sido trasladado para sepultamento na Itália.

 

Attílio Giordani, 59 anos sofreu infarto em 1972, quando participava de uma reunião de salesianos, em Campo Grande (agora Mato Grosso do Sul). Apaixonado por Poxoréu, onde vivia com a mulher e os três filhos do casal, mesmo depois de sua morte, simbolicamente ele continuou naquela cidade no polo de Rondonópolis.

A família de Attílio, atendendo um pedido seu, entregou o coração à igreja, para que ele fosse enterrado sob um das colunas do altar da Matriz São João Batista.

O coração de Attílio, colocado dentro de um vidro lacrado e com formol, foi encontrado em novembro de 2015 durante uma reforma na matriz São João Batista. A igreja o mudou de lugar, mas o manteve em sua nave: ele foi enterrado à direita de sua entrada e sobre o lugar assentou-se uma placa de bronze com os dados do religioso.

Attílio é considerado venerável pela igreja. Esse título é o primeiro passo para a canonização dos santos do catolicismo.

Um santo entre nós

Um santo de Rondonópolis, beatificado e canonizado pelo papa, com direito a auréola e todos os dogmas do catolicismo mundial. Será possível? Sim – responde um grupo de fiéis que elabora o conteúdo para os primeiros passos da longa caminhada pelos labirintos da Santa Sé até que Congregação para as Causas dos Santos aprove a cura de alguma doença gravíssima por força de um milagre daquele a quem querem a canonização. Com essa Congregação atestando que a mesmo foi “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”. Com esse entendimento o papa Francisco pode transformar o padre Miguel em santo.

Mas, afinal, quem foi padre Miguel?

Padre Miguel Angel Rodas Ortiz foi um dos sacerdotes mais atuantes em Rondonópolis. Fiéis da Igreja Bom Pastor, no bairro do mesmo nome, entendem que ele teve uma vida dedicada aos trabalhos missionários e sociais, Um grupo reduzido, que alinhava sua beatificação – primeiro passo para se tornar santo – tem sob sete chaves, conhecimento e documentos que o qualificam para a santificação. Por respeito a entendimento reservado nenhum diz uma palavra sequer sobre isso.
Engenheiro civil nascido em Assunção, no Paraguai, em 17 de abril de 1923, Miguel mudou-se para Rondonópolis, em 1952, para trabalhar no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit em sua primeira sigla – CR).  Também foi professor. Apaixonado por futebol, foi jogador amador e treinador. Jovem ainda, namorou, mas deixou a profissão pelo sacerdócio. Permaneceu enquanto engenheiro atuando até 1962, quando entrou para um seminário em Minas Gerais.Depois de quatro anos retornou para Rondonópolis, onde o bispo Dom Wunibaldo Tauller, o ordenou sacerdote em 26 de março de 1966, numa solenidade na matriz Sagrado Coração de Jesus. No dia seguinte celebrou sua primeira missa, naquele templo e nunca se afastou do sacerdócio até fechar os olhos para sempre, aos 85 anos, em 13 de junho de 2008, na Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis. No dia seguinte seu corpo foi sepultado no cemitério de Vila Aurora.
Em 1991 e 1999 padre Miguel foi diretor Espiritual do Seminário Maior Regional de Campo Grande (MS). Foi sua única ausência de Rondonópolis em sua longa trajetória do sacerdócio.
Mais que sacerdote foi guia de uma grande comunidade rondonopolitana, sem nunca se deixar enveredar pelo campo partidário. Sua igreja nunca serviu de palco para candidaturas. Humano, extremamente simples, dividia seu tempo entre o altar e seus fiéis. Discretamente fazia longos jejuns. Visitava enfermos, famílias em conflito ou enlutadas por perda de entes queridos.Tinha uma palavra de fé e de estímulo cristão para todos
MISTÉRIO – Na tarde do sábado, 19, e na manhã do domingo, 20 de janeiro deste 2019, conversei com figuras da comunidade Bom Pastor e membros do clero rondonopolitano. Documentalmente está em curso o projeto do pedido de beatificação – com seus autores convictos de sua aprovação . Não se trata de segredo de confessionário, que padre Miguel tão bem guardava, mas o assunto é extremamente reservado. Não se trata de uma causa por um santo brasileiro, até mesmo por conta da nacionalidade dele, paraguaia, mas da defesa de um nome que além de sua missão evangelizadora realizou – sustentam fiéis – algo que o credencia para ser São Miguel Angel Rodas Ortiz.
MEMÓRIA – Rondonópolis reverencia sua memória com o Residencial Padre Miguel.

 

FOTO: Arquivo atribunamt.com.br – Rondonópolis

 

Ela também é de Rondonópolis

 

É ela, Jacqueline Bisset

Linda, perfumada, meiga, gostosa, sensual, envolvente e figura comum em Rondonópolis. Bons tempos aqueles em que a atriz Jacqueline Bisset, que nasceu inglesa com o pesado nome de Winifred Jacqueline Fraser Bisset entrava na cidade ao volante de um empoeirado Toyota tupiniquim para acompanhar o capataz da pantaneira fazenda Taiaman de seu namorado Giovanni Lancia.

 

A Diva sabia o caminho certo ao Armazém Patureba, onde as grandes fazendas do Pantanal no entorno da cidade se abasteciam, fiado, na caderneta.

Jacqueline Bisset era o rosto mais bonito e o perfume mais excitante nas ruas pouco movimentadas da cidade. Sua presença na fazenda era para encontros tórridos com o amado, famoso fabricante de carros esportivos.

Enquanto Lancia pescava e bebia com amigos famosos sua amada subia a serra, pegava a estrada para Rondonópolis, mas sequer tinha noção que presenciava a transformação de uma cidadezinha de nariz arrebitado na metrópole regional que surgia na esteira da soja, a leguminosa que deixava os poderosos pecuaristas do Vale do Jurigue de orelhas em pé a ponto de chamarem o amarelão CBT-090 que era o rei dos tratores, de onça comedeira de bezerros.

Sem saber da dor de cotovelo dos donos das boiadas e do avanço da soja no cerrado Jacqueline Bisset queria apenas viver a pequena cidade pra fugir de sua rotina nos estúdios de Hollywood. Enquanto o capataz separava as compras ela ia com seu Toyota até o Bar do David, na esquina da Amazonas com a 13 de Maio e num ambiente exclusivamente masculino ocupava uma mesa e pedia um Martini com pastel de “palmitô”.

PSPatureba é o apelido do mineiro de Patos de Minas, Jairo Antônio da Cruz e seu armazém funcionava na Avenida Presidente Kennedy. O Bar do David se situava na nobre esquina da Avenida Amazonas com a Rua 13 de Maio e seu proprietário era o comerciante David Soares da Silva, nascido em Alto Garças e de saudosa memória.

FOTO: Divulgação 

 

Uma vida pelos hansenianos

 

Göbel
O doutor Manfred Robert Göbel nasceu em Eichstätt, na região da Baviera, Alemanha. Enfermeiro, Manfred dirigia a ONG Associação Alemã de Assistência aos Hansenianos (DAHW na sigla em alemão), com escritório central em Cuiabá, e por 39 anos ininterruptos atuou em dezenas de municípios mato-grossenses e também em outros estados da região.

Ao longo de mais de três décadas o trabalho coordenado por Manfred diagnosticou e curou milhares de portadores do mal de Hansen. A DAHW também atua no combate à tuberculose e presta inestimável trabalho à saúde pública mato-grossense, onde além de atendimento médico faz investimentos com recursos oriundos da Alemanha.

Göbel desenvolveu seu trabalho longe dos olhares da sociedade, atuando caso a caso, amparando comunidades inteiras.

A atuação da Dahw sempre foi importante na luta contra a hanseníase e também contra tuberculose, que é outra doença combatida por aquela instituição.

RONDONÓPOLIS – Quando veio para Mato Grosso, em 11 de junho de 1979, Göbel residiu em Rondonópolis – cidade que esteve no centro de suas atenções – e posteriormente transferiu residência para Cuiabá.

Um ano depois de chegar a Rondonópolis – cidade hiperendêmica em hanseníase – Göbel lançou mutirões em hanseníase e deu início às campanhas de conscientização sobre a doença; esse trabalho alastrou-se por Mato Grosso. Ainda em 1980, a prefeitura instalou nove minipostos de saúde e Göbel ministrou treinamento aos agentes de saúde do município para atuação na zona rural e na área urbana. Essas ações tiveram a participação do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde de Mato Grosso e da Pastoral de Saúde da igreja católica.

Em 1983 a Dahw assinou convênio com a Secretaria de Saúde de Mato Grosso para a construção do Centro de Dermatologia de Rondonópolis e doou US$ 40 mil para a obra daquela unidade. O Centro foi inaugurado no dia 12 de novembro daquele ano.

Seu trabalho foi reconhecido oficialmente. A Assembleia Legislativa lhe concedeu o Título de Cidadão Mato-grossense e o Governo do Estado o condecorou. Aposentado desde o final de 2018,  Göbel disse que se sente honrado com as homenagens e que as divide com todos os que o ajudaram em sua caminhada, e principalmente com sua mulher a dermatologista e hansenologista Marisa Balardin Barone Göbel. “A aposentadoria não me afastará de Mato Grosso nem dessa situação. Estarei sempre às ordens para o trabalho, para palestras, para o que se fizer necessário”, assegurou.

 

Moscou e Pequim no rio das Mortes

 

Integrantes da colônia
Um núcleo de imigrantes chineses ortodoxos produz anualmente invejável safra de soja na fazenda Massapé, de 9 mil ha, no rio das Mortes e em áreas arrendadas. Eles e seus descendentes brasileiros são chamados de russos, porque seus ancestrais nasceram na Sibéria, Rússia, de onde fugiram do regime stalinista, para a China, nos anos 1920.

Em 1949, Mao Tse Tung chegou ao poder na China e, esses russos e seus descendentes chineses, amparados pela Cruz Vermelha Internacional, vieram para o Brasil e se estabeleceram em Ponta Grossa (PR). Em 1973, os líderes desses imigrantes, Lavrem Nifodi, Anoni Fefelov e Fedoci Fefelov, percorreram Mato Grosso em busca de mais espaço para seu povo produzir alimentos. Naquele ano, optaram pela fazenda Massapé,numa região que agora pertence ao municípios de Primavera do Leste..

A cultura, a religião praticada pelos seguidores da Igreja Ortodoxa e os costumes dos ancestrais russos, são observados pelos integrantes da colônia. A escola pública na colônia tem alunos descendentes de russos e filhos de peões brasileiros. Mas, numa sala na ala administrativa da fazenda, professores ensinam o idioma russo. língua dos ancestrais, e grego, que é a língua dos rituais litúrgicos da Igreja Ortodóxa.  A primeira professora foi Feodora Ovchinnikov.

FOTO: Internet

 

 

 

 

 

 

 

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