Boa Midia

Uma caminhada que completa 55 anos

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

 

Ao completar 55 anos em Mato Grosso reproduzo o preâmbulo do Livro 44, que publiquei em 2014 celebrando 44 anos do meu primeiro contato com a terra que adotei e fui por ela adotado.

Duas fileiras de casas, algumas residenciais e outras de comércio; ao meio a BR-364, que não passa de uma trilha. Assim é a travessia de Alto Araguaia, com divisa com a siamesa Santa Rita do Araguaia, em Goiás. A cidade não se resume àquele corredor. Algumas vias transversais e paralelas compõem seu arruamento. As duas cidades, bem parecidas, e entre elas o rio Araguaia, que naquele trecho é pouco mais que um ribeirão atrevido por sua correnteza; a diferença fica por conta do fuso horário, registrando uma hora a menos do lado mato-grossense em relação ao goiano, que adota a hora de Brasília. O calendário marca 10 de maio de 1970. Transcorridos 44 anos do meu primeiro contato com Mato Grosso, lanço este livro, cujo título pega carona no espaço de tempo que aqui vivo.

Cuiabá está 410 quilômetros à frente, mas o destino é Paraíso do Leste, no município de Poxoréu, perto de Rondonópolis, cidade que é o ponto equidistante entre a divisa com Goiás e a capital mato-grossense. A próxima parada seria em Alto Garças, mas o sol se põe e a prudência manda que se pouse em Alto Araguaia, não por risco de assaltos, porque a região é pacata, mas para evitar os imprevistos da noite.

Pela manhã, no dia 11, depois de um café corajoso – aquele que vem sozinho – chega o momento de pegar a estrada que a cada curva me bota mais e mais distante de Alpercata, nos cafundós do Leste de Minas Gerais banhado pelo rio Doce, que foi meu ponto de partida.

A 364 mistura trechos encascalhados com areões. Na direção oposta, em Goiás, o trajeto é semelhante. Seriemas desengonçadas cruzam a estrada em rápidas passadas ora com uma ora com outra asa tocando a areia. Araras azuis e papagaios voam em grupos enquanto pequenos pássaros fazem revoadas. Nos poucos veículos que trafegam em direção contrária se vê o polegar direito do motorista fixo no para-brisas, pra protegê-lo das pedras que costumam ser atiradas acidentalmente pelos pneus do carro que avança em sentido oposto.

 

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Pelo caminho pensões e restaurantes atendem os motoristas. O Restaurante da Nininha, no município de Alto Garças, ficou famoso e depois, com a mudança do trajeto da rodovia, ganhou novo endereço, em Boa Vista, vila distante 30 quilômetros de Rondonópolis rumo a Cuiabá.

Depois de cinco horas de viagem nu rasgo pelo cerrado, surge Rondonópolis, cidade pequena, empoeirada, mas com sinais de crescimento que podem ser vistos até pelo mais cético ou pessimista. O caminho para Poxoréu é a MT-130, acidentada e pouco movimentada. Esse trajeto é descartado, pois a ponte de madeira sobre o rio Poxoréu, na cidade do mesmo nome, ameaça cair. A alternativa é mudar a rota para Jarudore e dali prosseguir para Paraíso do Leste sem o risco de atravessar a tal ponte.

Finalmente, Paraíso do Leste e a acolhida fraternal do agricultor mineiro de origem italiana, José Nalon, amigo de velha data de minha família e ex-morador no município de Alpercata. Nalon veio para Mato Grosso em 1966 e foi pioneiro na fumicultura local.

Em Paraíso do Leste sinto que meu lugar é Mato Grosso, o pedaço do Brasil cercado por Rondônia, Amazonas, Pará, Goiás, Minas Gerais São Paulo, Paraná, Paraguai e Bolívia. É uma vastidão sem fim e carente de tudo, mas com um quê de fascínio, como se fosse imã. Gosto do que vejo, do cheiro do lugar, do céu azul como em nenhum outro canto se vê. Há um mundo a ser conquistado e ele está aqui. Não custa tentar, ainda mais quando se pressente que o ambiente pode ser cúmplice nessa aventura. Se a conquista será ou não alcançada, é outra história. O que conta é vivê-la neste cenário que se não houvesse teria que ser inventado.

Após a acolhida por Nalon, bastou providenciar a mudança para Rondonópolis e iniciar a mais longa caminhada de minha vida, que agora completa 44 anos e somente Deus sabe até quando prosseguirá. A mudança somente aconteceria em 1973, mas no período fiquei a maior parte do tempo em Mato Grosso, com uma curta ausência para participar da disputa eleitoral em 1972, ano em que fui eleito vereador pela legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena) no município de Alpercata, pela generosidade de seu povo. Não exerci o mandato por razões que não se inserem no contexto do livro, mas tenho a honra de manter na moldura em meu escritório o Diploma de Vereador assinado por uma das figuras mais honradas da magistratura mineira em todos os tempos, o saudoso juiz da 54ª Zona Eleitoral de Governador Valadares, doutor Joaquim de Assis Martins Costa. Ao optar por permanecer na minha nova terra, deixei vaga a cadeira na Câmara. Fui substituído pelo suplente Adelino Guilherme de Madeiros, o Delico, que não está mais entre nós.

A trajetória, em que fui espectador dos fatos ao longo desse período é o tema desta livro, no qual conto que virei e revirei Mato Grosso pelo avesso atrás da notícia, em busca de fatos.

PS – Preâmbulo do Livro 44, de minha autoria, publicado em 2014 sem apoio das leis de incentivos culturais, para registrar os 44 anos de meu primeiro contato com Mato Grosso, no dia 10 de maio de 1970. Transcorridos 55 anos do fato, e 11 anos da obra literária continuo agradecendo a Deus pela opção pela abençoada e ensolarada terra da minha família, que neste mês receberá de braços abertos a minha netinha cuiabaninha Mariana, filha dos meus filhos Yasmin e Eduardinho.

Capa do livro: Edson Xavier

 

4 Comentários
  1. Rodrigo Pereira Diz

    Parabéns Brigadeiro você é a luz do jornalismo de Mato Grosso. Como sempre um belo texto
    Rodrigo Pereira – engenheiro agrônomo – Cuiabá

  2. Maria Isaura Diz

    Continuo sua fá número 1 e 55 parabéns

  3. Walter de Fátima Diz

    Nós ganhamos o presente: texto espetacular e memórias fantásticas…. Parabéns Brigadeiro, não há outro escriba que a ti se assemelha !!!….

    Coronel Walter de Fátima – Cuiabá

  4. Dulce Labio Diz

    O livro que sempre quis ler…
    Escritora Dulce Lábio – Cuiabá: Mais um texto que encanta, viajei no pensamento com sua aventura em busca do eldorado…foi privilegiado em chegar no Paraíso pois o lugar ali faz jus ao nome.
    Com certeza passou pela Três Pontes, frente ao ranchinho do meu pai, na beira da estrada… se olhasse bem teria visto uma menina loirinha balançando na rede com um livro na mão.
    Conheci seu conterrâneo Nalon em Poxoréu.
    Esse é um texto que a gente vai lendo, lendo, e não acredita que chegou no final…
    Genialidade, sabedoria…ah mineirinha de sorte.
    Parabéns pra mamãe de seus meninos.

    Dulce Labio – Escritora, poetisa, empresária – Cuiabá

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