Tomar o livro pela capa
Há alguns dias, quando o ônibus parou no Restaurante do Cacho (entroncamento da BR-174 com a MT-175, próximo a Mirassol D’Oeste), para almoço, fui mostrar o boneco do meu novo livro à Helen, protagonista da crônica “Ela – que às vezes sonha um pouco à beira da BR-174”, que por sinal abre o volume.
A propósito, uma nota, necessária: o livro deve sair em breve. E espero que siga o caminho da canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos: “quando entrar setembro e a boa-nova andar nos campos…”. Que o sol de primavera venha a invadir e passear por todas as direções de nossos campos.
Ao me devolver o volume, uns 25 minutos depois e com a crônica lida, minha personagem foi deslizando os olhos pelo índice e com o indicador apontando os títulos que mais haviam chamado a sua atenção.
Além de naturalmente se deixar seduzir por aquela da qual é protagonista, Helen destacou mais seis títulos das 29 crônicas: “Vestida de preto”; “Magra e na fina flor, aos 19”; “Em Chapada não posso chapar”; “Menina das Canetas”; “Escorpião” e “De blusão de couro e gibão medalhado”.
O tempo que nos sobrava era então exíguo para a troca de impressões e comentários, mas falamos um pouquito. Destacamos impressões, de parte a parte, acerca de nossa vida de leitores, de quem pega um livro e, com a maior boa vontade deste mundo, procura nele logo encontrar ótimas razões para seguir até a última página, às orelhas e às notas de rodapé (se houver).
Pelo fato de o boneco (ou pré-boneco) estar, e viajar comigo, há um tempo, outros leitores já andaram lendo algumas crônicas, acompanhando as suas preferências num primeiro olhar, evidentemente. Meu irmão Onivaldo, por exemplo, gostou de “Vida menor flores de abóbora e joaninhas”, um pequeno recorte sobre a poética de Lucinda Nogueira Persona; já o advogado Gustavo Cardoso, de São José dos Quatro Marcos, destacou outras três: “Vestida de preto”, “Em Chapada não posso chapar” e “De blusão de couro e gibão medalhado” – todas as três, por sinal, coincidindo com as escolhas da Helen.
Dizem que um livro deve chamar a atenção por algumas marcas básicas: pela capa, pelo título, pelo destaque selecionado para a 4ª capa, pela frase inicial – quando se trata de um romance, por exemplo. No caso de um volume de contos ou crônicas, tal qual o meu, pelo título e pela frase inicial de cada texto.
Foi quando o ônibus parou e ela, que às vezes sonha um pouco à beira da BR-174, falou, devaneou levemente sobre suas preferências.
Que são, por coincidência, em número de 7, tal qual o dia em que nasci, e talismã da Cabala.
Oxalá nos traga sorte.
Oxalá!
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
mcmarinaldo@hotmail.com
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