Série TRANSPARÊNCIA (21) – Pivetta joga a toalha: “não era, portanto não tem recuo”

Pivetta saiu da disputa ao governo. Não é mais pré-candidato a governador pelo PDT. Não se trata de especulação. A afirmativa é dele, numa lacônica mensagem pelo celular. “Bom dia amigo. Não era, portanto não tem recuo”. Esse fato dá um nó e vira a campanha eleitoral de ponta-cabeça, antes mesmo de seu começo oficial.

Preâmbulo – Esta série postaria neste capítulo 21 o perfil do pré-candidato ao Senado, o advogado e escritor Sebastião Carlos, pela Rede Sustentabilidade. Porém, diante da relevância da decisão de Pivetta, o material com Sebastião Carlos foi reprogramado, para o capítulo 22.

No dia 26 li em dois sites que Pivetta (foto) sairia da disputa e coordenaria a candidatura do democrata Mauro Mendes ao governo, com o deputado estadual e presidente regional do PDT, Zeca Viana, compondo a chapa de Mauro Mendes. Não sou adepto do sensacionalismo nem de noticiar algo que não tenha embasamento. Por isso, naquele dia (13h08), ao invés de repercutir o material enviei uma mensagem para o celular de Pivetta pedindo para conversarmos sobre o fato, que narrei a ele. Pivetta permaneceu em silêncio até hoje, 28, quando me enviou (09h16) a mensagem acima. Insisti em ouvi-lo sobre a citada dobradinha Mauro Mendes-Zeca, mas ele não respondeu.

Homem de curtas e objetivas frases, Otaviano Olavo Pivetta é  um dos maiores empresários do agronegócio nacional, foi prefeito de Lucas do Rio Verde e deputado estadual. Não costuma fugir de perguntas, mas uma vez ou outra finge de morto e faz de conta que não ouviu nada. Acho que esse é o caso: empenhou com muita veemência a palavra de que seria candidato. Numa recente entrevista que me concedeu em sua casa, foi tão claro e cristalino quanto as águas do rio Claro em São José do Rio Claro: “Otaviano, se o Mauro Mandes sair candidato (a governador) você mantém sua pré-candidatura?” – perguntei. Sereno, com uma cuia de chimarrão, foi didático, “amigo, minha candidatura é pelo PDT, tenho o apoio e incentivo do seu presidente, o Zeca Viana; o partido do Mauro (Mendes) é o DEM. E tem mais, foi ele quem mais me incentivou (a entrar na disputa)”.

Janaína Riva, a bela deputada estadual pelo MDB estava com Pivetta quando cheguei para entrevista-lo. Ele nos apresentou. Cito o fato, porque após a saída de Janaína meu anfitrião comentou sobre apoio que estaria recebendo dela. Mais: num fragmento da conversa dos dois, a deputada comentou sobre um vinho que eles e Zeca Viana tomaram na véspera, durante uma conversa política.

Ontem (27) à espera da resposta dele, conversei com um dos assessores mais próximos de Jayme Campos. Toquei no assunto e ele falou que realmente havia “alguma coisa”, mas não afirmou nada. Mesmo assim, e sabedor que sou de uma pesquisa interna do DEM na qual Pivetta aparece na condição de nome que mais tira votos do governador Pedro Taques (PSDB), matutei que havia algo estranho no ar.

Um bom administrador na esfera pública e na iniciativa privada, rico, ousado, com boa densidade eleitoral, que tira votos de Pedro seria, em tese, o nome ideal para a oposição conquistar o Palácio Paiaguás. Não pelos textos dos dois sites, que não citam fontes, mas pela mensagem que recebi – a danada da mensagem – Pivetta empurra Pedro para a polarização com o senador republicano Wellington Fagundes, que faz política 25 horas por dia.

A guinada do pré-candidato Pivetta é o fato até agora na briga de foices pelo governo.

Não vou enveredar a série sobre coordenação de candidaturas, independentemente de quem seja o coordenador ou o coordenado. Não especularei sobre uma dobradinha Mauro Mendes e Zeca por entender que se trata de chapa mula sem cabeça (longe de ser pejorativo, mas a título de exemplo popular).

Sobre Mauro Mendes recomendo que leiam o capítulo anterior, que está atualíssimo. Quanto a Pivetta, não o incluo ao suposto entendimento que acredito existir entre Pedro e Mauro Mendes, para que o primeiro seja candidato à reeleição, e que o outro empurre sua indecisão além do limite do suportável e, assim, aplaine o caminho do amigo governador.

Creio que Pivetta mesmo amigo leal de Mauro Mendes não se prestará ao papel de subir ao palanque de Pedro ao lado do citado Mauro Mendes, Jayme Campos, Eduardo Botelho, Fábio Garcia, Mauro Savi (caso supere o constrangimento carcerário) e até do PSD dos deputados estaduais Wagner Ramos, Gilmar Fabris, Nininho e Pedro Satélite.

Ainda sobre o PSD, seu presidente regional e ex-vice-governador Carlos Fávaro prega no deserto tentando uma vaga de candidato ao Senado numa coligação com o DEM de Jayme Campos. Fávaro é uma espécie de rainha da Inglaterra e quem decidirá por seu partido será a bancada estadual acima citada, que se completa com José Domingos Fraga, ora carta fora do baralho político. Portanto, desnecessário é dizer que a bancada do PSD é Pedro desde os idos de José Riva na Assembleia ou até mesmo antes disso. Ou seja, num arranjo político com o DEM devidamente colado ao PSDB de Pedro, Fávaro não teria legenda ao Senado, porque as duas vagas já estão chanceladas para o deputado federal Nilson Leitão (PSDB) e Jayme Campos, que foi governador e senador. Avalio que seria por demais indigesto para Pivetta um palanque assim, mesmo sabendo que o mundo político é território onde a ciência exata não chega, água e óleo se completam, os meios justificam o fim e os personagens quando analisados por suas trajetórias costumam ganhar contornos siameses.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTO: Arquivo

 

Capítulos anteriores:

 

1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta

2 – Suplente de última hora chega ao Senado

3 – Riva mesmo caido derrota Taques

4 – Páginas da vida

5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo

6 – Carona na Arca de Noé

7 – O dedo de Kassab

8 – Taques e o cadeado na hidrovia

9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques

10 – O temperamento de Jayme Campos.

11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.

12 – Selma aplaina caminho ao Senado.

13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.

14 – Blairo e o mistério que o afasta da eleição

15 – Mais que professora: uma lição de vida.

16 – Mauro acuado e num beco sem saída.

17 – Tu és Pedro!

18 – O Japão é aqui

19 – Fundadora do PT, Enelinda quer ser senadora

20 – Pedro e Mauro Mendes, dois amigos estrategistas