Boa Midia

Senado cai no colo de Medeiros

Aos sábados, domingos e feriados nacionais CURTAS será substituída por capítulos do livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir“, escrito e publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais. A obra foi ilustrada por Generino. Capa Édson Xavier.

Pedro Taques era azarão na disputa ao Senado em 2010. Candidato pela primeira vez a mandato eletivo, José Pedro Gonçalves de Taques (PDT) não tinha traquejo político quando entrou na disputa: ostentava ainda o jeitão mandão de procurador da República, cargo que o projetou junto a opinião pública mato-grossense.

Dois terços do Senado seriam renovados e o pedetista enfrentava o ex-governador Blairo Maggi (PR), Carlos Abicalil (PT), Antero Paes de Barros (PSDB) e Naildo Lopes (PV). No começo da campanha ninguém com o mínimo de juízo apostaria um centavo sequer na candidatura de Pedro Taques. A descrença era tamanha, que até mesmo o candidato a primeiro-suplente em sua chapa e seu correligionário José Antônio Gonçalves Viana, o Zeca Viana, tratou de tirar o corpo fora. Zeca abandonou o azarão, se lançou a deputado estadual e teve uma eleição tranquila.

A chapa de Pedro Taques ficou mutilada, com ele na cabeça e o candidato a segundo-suplente Paulo Fiúza (PV). A coligação formada pelo PSB, PDT, PPS e PV queimou pestanas para arrumar um Cristo, mas ninguém com densidade eleitoral queria botar o pescoço na forca.

Percival Muniz, prefeito de Rondonópolis e presidente do PPS estadual encontrou a solução botando seu correligionário policial rodoviário federal e matemático José Antônio de Medeiros na vaga deixada por Zeca. Aos jornalistas Percival disse que a indicação era a forma de equilibrar a participação dos partidos coligados nas chapas majoritárias. Para reforçar citou que a dobradinha ao governo era formada por Mauro Mendes (PSB) e Otaviano Olavo Pivetta (PDT); o Senado disputado pela chapa de Pedro Taques e Paulo Fiúza; e a outra chapa aliada tinha Naildo Lopes (PV) para senador.

José Medeiros nasceu em Caicó (RN), mora em Rondonópolis e reza pela cartilha de Percival. Em 2006 também pelo PPS, saiu candidato a deputado federal puxando votação pra sua legenda e conquistou modestos 8.175 votos.

Desde o começo da campanha em 2010 todos sabiam que Blairo seria o mais votado e foi: recebeu 1.073.039 votos (37,08% da votação válida para o cargo) e com aquele resultado, até agora, é o primeiro e único candidato ao Senado a alcançar a marca de 1 milhão de votos em Mato Grosso.

Blairo levou em sua chapa dois correligionários: José Aparecido dos Santos, o Cidinho e Manoel Antônio Rodrigues Palma, o Titito, respectivamente primeiro e segundo suplentes. Cidinho foi prefeito de Nova Marilândia, presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) e secretário de Estado quando Blairo governou. Titito foi prefeito biônico de Cuiabá, deputado estadual e deputado federal.

O azarão Pedro Taques conquistou 708.440 (24,48%) levando José Medeiros e Paulo Fiúza nas suplências.

O terceiro colocado foi Carlos Abicalil – à época deputado federal – com 533.280  (18,43%). Abicalil e Blairo eram companheiros na coligação governista que tinha ainda o PMDB do candidato ao governo Silval Barbosa e subiam no mesmo palanque.

Na reta final da campanha ouvia-se muito que Blairo estaria jogando muito sujo com Abicalil e com isso beneficiando o azarão. Como em política não existe hipótese absurda, não é bom descartar que isso efetivamente tivesse acontecido.

Comentários nos meios políticos davam conta que Blairo queria torpedear Abicalil, para ser o senador mais destacado de Mato Grosso junto ao Palácio do Planalto. O republicano – segundo se dizia – temia que a identidade partidária do petista pesasse na hora da divisão do bolo do poder. Daí, que ao invés de trabalhar para o companheiro aliado, o ex-governador por baixo dos panos, mandava votar no azarão.

Com a votação de Pedro Taques, o indicado de Percival virou suplente de senador. Na justiça Paulo Fiúza tentou inverter a ordem da suplência, mas sua investida foi desqualificada.

Em 2010 pregando discurso de moralidade, austeridade e competência administrativa o azarão se elegeu governador em primeiro turno e o Senado caiu no colo de José Medeiros.

EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies