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Reportagem de 2013 mostra como foi a fraude na chapa de Pedro Taques ao Senado

Capa da revista com a reportagem
Capa da revista com a reportagem

Reportagem publicada em março de 2013 e que ouviu o jornalista Rodrigo Rodrigues e José Medeiros, então primeiro-suplente ( PPS) do à época senador Pedro Taques (PDT) mostra que houve fraude na ata da convenção que definiu

sua chapa ao Senado e que foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

 

Material revela fraude no pedido de registro da chapa ao Senado de Pedro Taques/José Medeiros/Paulo Fiúza, uma vez que os delegados dos partidos coligados não a assinaram.

 

A leitura deve levar em conta que o texto da Revista MTAqui, escrito por Eduardo Gomes, é atualizado para março de 2013. Pedro renunciou ao Senado no final de 2014 para em janeiro do ano seguinte assumir o governo de Mato Grosso, para o qual foi eleito. José Medeiros o substituiu. O desfecho desse caso foi a decisão do TRE, na terça-feira, 31 de julho deste 2018, que por unanimidade cassou o mandato de José Medeiros e transferiu sua cadeira para Paulo Fiúza

 

Autor intelectual da fraude que permitiu o registro da chapa de Pedro Taques (PDT) ao Senado, Rodrigo Rodrigues conta detalhes desse fato que pode resultar na cassação do mandato do senador pedetista e abrir vaga ao terceiro colocado na eleição de 2010, Carlos Abicalil (PT).

Taques foi eleito senador com os suplentes José Medeiros (PPS) e Paulo Fiúza (PV), pela coligação “Mato Grosso Melhor Pra Você” encabeçada por Mauro Mendes (PSB) ao governo com Otaviano Pivetta (PDT) de vice e com a chapa de Naildo Lopes (PV) ao Senado.

A chapa original de Taques tinha na primeira suplência o empresário rural Zeca Viana (PDT), de Primavera do Leste, e na segunda, o empresário e madeireiro Paulo Fiúza, de Sinop. Até às vésperas da convenção o nome de Taques não aparecia bem nas pesquisas, que eram lideradas por Blairo Maggi (PR – eleito com mais de um milhão de votos) e Carlos Abicalil, com Antero Paes de Barros (PSDB) em terceiro. Essa situação preocupou Zeca Viana, que após a convenção de sua coligação pediu a retirada de sua candidatura na chapa de Taques e que seu nome fosse incluído à relação dos candidatos a deputado estadual – o que aconteceu e ele foi eleito.

A convenção da coligação PSB, PDT, PPS e PV aconteceu e sua ata foi lavrada em quatro páginas. Porém, depois desse evento, havia prazo para a formalização do pedido dos registros de candidaturas junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Nesse período os líderes dos partidos coligados discutiam a recomposição da chapa de Taques, desfalcada de Zeca Viana.

Rodrigo explica que a primeira proposta para a recomposição seria buscar um segundo suplente e botar Fiúza na primeira suplência. Esse entendimento teria prevalecido, mas foi derrubado pelo presidente regional do PPS e então deputado estadual Percival Muniz (agora prefeito de Rondonópolis), que exigiu um nome de seu partido disputando cargo majoritário, pois o PPS era o único alijado de candidatura majoritária na coligação.

Percival indicou o nome do patrulheiro rodoviário federal e matemático José Medeiros para ocupar a vaga deixada por Zeca Viana. Paralelamente a essa decisão, Taques costurava com Fiúza para que a primeira suplência fosse dele. “Todos na coligação queriam o Fiúza na chapa do Pedro (Taques), porque ele tem boa penetração junto ao empresariado do Nortão, onde o Pedro (Taques) tinha forte rejeição”, acrescenta Rodrigo.

A conversa entre Taques e Fiúza ficou restrita aos dois. Os dirigentes dos partidos coligados deram a convenção por definida. “Naquela altura ninguém levava fé nas candidaturas de Pedro (Taques) e Naildo; a preocupação era com a eleição do Mauro”, revela Rodrigo.

Com as chapas definidas os 12 representantes dos partidos coligados (três de cada um) se ausentaram de Cuiabá fazendo campanha nos municípios.

Longe dos políticos a assessoria jurídica da coligação elaborou parte de nova ata substituindo Zeca Viana por Medeiros. Acontece que os delegados dos partidos coligados não estavam em Cuiabá para assinar o documento que seria encaminhado à Justiça Eleitoral pedindo os registros das candidaturas. Correndo contra o relógio os advogados não sabiam como agir. Foi ai que Rodrigo entrou em cena sugerindo que fossem aproveitadas as duas últimas páginas das quatro, da ata que seria alterada com a saída de Zeca Viana e, que a ela fossem inseridas duas novas páginas com as alterações necessárias. Isso – segundo ele – foi feito. O quê da questão foi a ausência dos delegados para rubricarem as novas páginas. “Quem não tem cão, caça com gato”, disse Rodrigo aos advogados acendendo a luz verde para a fraude que efetivamente aconteceu.

Deu zebra

O denunciante Rodrigo Rodrigues (dir.) e o denunciado Pedro Taques
Denunciante Rodrigo Rodrigues (dir.) e o denunciado Pedro Taques

Zebra maior impossível. Taques venceu Abicalil por uma conjugação de fatores e dentre eles a traição eleitoral explícita da então senadora e candidata a deputada federal petista Serys Slhessarenko, que juntamente com seu grupo abraçou a candidatura de Taques. Além disso, Blairo mobilizou o núcleo mais próximo a ele para que votasse em Taques, porque temia Abicalil senador pelo PT do presidente Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff.

Serys e Blairo jogaram Taques numa cadeira de senador e Abicalil amargou uma derrota que somente não foi mais amarga, porque ele deu o troco na dose certa a Serys, que também ficou pelo caminho, longe da bancada federal.

A eleição de Taques levou Fiúza a uma briga isolada com Medeiros. Numa reunião – segundo Rodrigo – na casa de Taques, antes da diplomação dos eleitos, o anfitrião e Fiúza tentaram convencer Medeiros a assinar um documento de retificação da ordem da suplência se declarando segundo suplente. Medeiros não engoliu a proposta e dias depois denunciou que estaria sofrendo ameaças de morte e Fiúza registrou queixa policial com Medeiros.

Abicalil quer o mandato de Taques e a Justiça Eleitoral apura o caso. O juiz do TRE, José Luiz Blaszak, mandou realizar perícia grafotécnica na ata para saber se as rubricas são ou não dos delegados da coligação. “Prestei depoimento ao juiz Blaszak e declarei que ali (na ata) não tem rubrica minha”, acrescenta Rodrigo.

Num trecho da entrevista de Rodrigo ele sustentou que todas as rubricas foram “forjadas”, porque “nós entendíamos que ninguém iria conferi-las e também ninguém acreditava que o Pedro (Taques) seria eleito”, arredonda.

“Como explicar o fato de você não ter rubricado a ata, se estava ao lado dos advogados?” – pergunto.

“Não rubriquei porque na hora em que a ata ficou pronta eu não me encontrava no escritório dos advogados”, justificou Rodrigo.

Taques nega a existência da fraude que Rodrigo – réu confesso – sustenta que houve. A perícia grafotécnica será decisiva para definir se a cadeira do senador continua com ele ou se Abicalil a assumirá.

 

“Suplente acredita que houve fraude

 

Zeca Viana (esq.) saiu da chapa e José Medeiros o substituiu
Zeca Viana (esq.) saiu e José Medeiros o substituiu

“Sou o único suplente de senador que pega no pesado”. Com essa frase descontraída, mas que revela seu orgulho em ser policial rodoviário federal e cumprir escala de serviço na Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Rondonópolis, José Antônio Medeiros, que é o primeiro-suplente do senador Pedro Taques, recebe a reportagem naquela cidade, onde mora e tem domicílio eleitoral, para falar sobre a denúncia de Rodrigo Rodrigues.

José Medeiros sustenta que não viu a ata da convenção em nenhum momento. Mas acredita que ela realmente tenha sido fraudada, como aponta Rodrigo. O suplente confirma que no período do pedido de registro das candidaturas boa parte dos representantes dos partidos coligados não se encontrava em Cuiabá. “O Jair Mariano estava em Colniza; o Pivetta, em Lucas do Rio Verde; o Antônio Máximo, em Rondonópolis; e assim por diante”, resume.

“Advogado é bicho danado”, ironiza. Com esta frase José Medeiros embasa sua crença na fraude. Analisa que havia corrida contra o relógio e que tudo estava costurado entre os partidos e candidatos, de tal modo que trocar algumas páginas originais por outras, com rubricas “inventadas”, seria a coisa mais natural do mundo.

Humilde, José Medeiros acredita que no frigir dos ovos somente ele será penalizado. “Acho que vou perder a suplência, porque houve essa confusão toda”. Quanto à perda do mandato, ele aposta que Taques será poupado. “Não acredito que algum promotor ofereça denúncia contra ele e também não creio que a Justiça o condenará. Acho que o corporativismo na esfera forense é muito grande”.

José Medeiros revela que não teve nenhuma participação na convenção nem na elaboração da ata. Explica que seu nome foi definido no apagar das luzes, por sugestão de Percival Muniz, uma vez que o candidato a primeiro-suplente Zeca Viana desistira de participar da chapa de Taques.

O fato de José Medeiros ficar fora das articulações sobre a convenção não se deve somente à sua escolha em substituição a Zeca Viana. Parte dessa situação pode ser debitada ao clima de terror por ele vivido, tão logo surgiram rumores de que a chapa de Taques seria impugnada por falha na ordem de prevalência das suplências. “Um sujeito falou que só queria saber quantos teria que matar se tudo desse errado aos candidatos da coligação”, cita e arredonda: “depois fiquei sabendo que o sujeito era Oscar Bezerra, marido da candidata (agora deputada estadual Luciane Bezerra”.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes transcrevendo texto de sua autoria na edição de março de 2013 da Revista MTAqui

FOTOS: Reprodução da capa e das páginas da revista sobre o episódio

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