Paulo Borges assume diretório; passado de Leitão e outros tucanos não recomenda que presidam PSDB

Saturnino Masson, deputado estadual, é o único tucano da cúpula mato-grossense não investigado nem com passado comprometedor entre os que exercem mandatos relevantes ou que ocupam ou tenham ocupado cargos nos altos escalões, foi descartado para presidir o PSDB regional. A escolha recaiu sobre Paulo Borges, que nunca foi além de vereador por Cuiabá. Isso, porque a orientação nacional dos partidos é que seus presidentes não tenham registros históricos que possam afetar as siglas, uma vez que a indignação popular com a classe política é grande; esse quesito teria derrubado o deputado federal Nilson Leitão, que preside o tucanato de Mato Grosso, pois Leitão além de sanguessuga chegou a ser preso numa operação da Polícia Federal.
Paulo Borges chega à cúpula tucana sem que seu nome jamais tivesse sido cogitado para tal cargo. A eleição do novo diretório regional do PSDB será nesta sexta-feira, 10, na sede do partido, no bairro Santa Rosa, em Cuiabá. Leitão, que o preside, passará a função para o novo presidente, que será aclamado em chapa única para um mandato de dois anos.
O novo diretório poderá enfrentar uma debandada de filiados. Isso, por conta da certeira saída do governador Pedro Taques do partido, como ele próprio admite. Taques, mesmo enfrentando greves e com uma administração duramente questionada, tentará a reeleição, mas não no PSDB. Sua mudança de partido será para facilitar a costura de coligações oferecendo a disputa ao Senado para partidos de sua aliança; se permanecer tucano o governador não terá como assim proceder, porque Leitão bate o pé para ser senador.
A saída de Taques é vista com naturalidade e não seria sua primeira mudança de sigla: em 2014 ele se elegeu governador pelo PDT. Seu adeus, no entanto, não deveria ser isolado, pois tradicionalmente a classe política mato-grossense acompanha quem tem a chave do cofre do Palácio Paiaguás e a caneta que nomeia e contrata obras. Os tucanos remanescentes tentarão absorver o baque que deverá ser causado com a saída de Taques e os que gravitam em torno do poder.
Orientação nacional
Os partidos temem desgastes e por isso não querem em cargos de visibilidade partidária figuras que poderiam ser questionadas principalmente nas mídias sociais. Esse posicionamento, mesmo sendo negado, vigora nesse momento. Junto aos tucanos de Mato Grosso ele atinge Leitão, que foi o deputado federal mais votado em Mato Grosso em 2014. No mesmo pleito foram eleitos pelo partido os deputados estaduais Wilson Santos, Saturnino Masson, e Guilherme Maluf. No vaivém entre as siglas – preferencialmente rumo ao partido do governador, independentemente de quem exerça o cargo – os tucanos reforçaram sua bancada na Assembleia Legislativa com Baiano Filho. O cenário àquela época era um. Agora, com a Operação Lava-Jato a todo o vapor, com operações desencadeadas em Mato Grosso, com a revelação de um vídeo gravado a mando do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), onde parlamentares aparecem recebendo maços de dinheiro de seu então chefe de Gabinete, Sílvio Corrêa – Silval sustenta que se tratava de pagamento de mensalinho – e a massificação das redes sociais, acontecerá mudança radical nas direções partidárias e na relação dos candidatos em 2018. De modo especial ele atinge em cheio o ainda tucano Pedro Taques, a um passo do adeus partidário e nesse momento em viagem pela China e Alemanha com dezenas de servidores públicos estaduais.
Saturnino Masson é o nome que se salva. Os demais (lista abaixo) não se encontram em situação confortável.
LEITÃO
Nilson Aparecido Leitão, presidente regional e até então cotado para a reeleição, foi vereador por Sinop, onde cumpriu dois mandatos consecutivos de prefeito, de suplente a titular esteve na Assembleia, é deputado federal reeleito e na última eleição recebeu a maior votação para o cargo: 127.749 votos.
Leitão foi um dos 71 prefeitos sanguessugas de Mato Grosso envolvidos no criminoso esquema de compra superfaturada de ambulâncias da agora extinta empresa Planam, em Cuiabá. A negociação era feita com recursos de emendas parlamentares federais. Leitão nega a acusação. O caso ganhou repercussão nacional em 2006 com o título de Máfia das Ambulâncias, foi abafado e somente a arraia-miúda sofreu algum tipo de condenação.
Em outro caso Leitão foi preso pela Polícia Federal em 17 de maio de 2007, quando prefeito. Acusado de recebimento de suposta propina de R$ 100 mil da empresa Gautama, foi levado para a cadeia em Brasília, onde permaneceu atrás das grades por quatro dias, até sua prisão ser relaxada pela ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon. Leitão foi gravado com um envelope grande, amarelo, que teria recebido da Gautama supostamente com o dinheiro que seria antecipação de propina para a construção de rede de esgoto em Sinop. Ele nega. A abertura do envelope não foi acompanhada pela PF, sua defesa bateu nessa tecla e o Ministério Público Federal pediu o arquivamento da ação contra ele.
PEDRO TAQUES
O governador é investigado pelo Superior Tribunal de Justiça por suposta participação do escândalo de gravação clandestina de milhares de ligações de desafetos políticos seus, jornalistas, advogados de adversários políticos, médicos e outras figuras. Esse caso é conhecido como Grampolândia Pantaneira e já levou para trás das grades ex-secretários da Casa Civil, Casa Militar, Justiça e Direitos Humanos, e comandante da Polícia Militar, além de outras figuras.
BAIANO FILHO
O deputado estadual Baiano Filho foi gravado numa conversa com Sílvio Corrêa onde discutiria recebimento de mensalinho. É investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR). Baiano nega.
MALUF
O deputado Guilherme Maluf, ex-presidente da Assembleia, foi denunciado por Silval por suposto recebimento de mensalinho; de ter se beneficiado com uma propina de R$ 4 milhões para intermediar o pagamento de uma dívida de R$ 40 milhões do programa MT Saúde com hospitais. Pesa contra ele a acusação de compra de votos para se eleger presidente da Assembleia. A última acusação aponta que ele teria nomeado Moisés Dias – um de seus ex-assessores parlamentares – para a Secretaria de Educação do governo (Seduc), para articular um esquema de corrupção que resultou no afastamento e prisão do então secretário Permínio Pinto e do próprio nomeado. Maluf nega. As prisões foram decretadas pela juíza Selma Rosane Arruda, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá.
PERMÍNIO PINTO
Uma das principais figuras do PSDB é Permínio Pinto, que foi preso ao deixar a Seduc, acusado de comandar um esquema de superfaturamento de obras escolares. Réu confesso, Permínio assume sua parcela de culpa.
AVALONE
Carlos Avalone, secretário de Desenvolvimento Econômico é investigado pela PGR por crimes de lavagem de dinheiro e outros, num dos escândalos que atinge a classe política em cheio. Em 2007 Avalone foi preso pela PF na Operação Pacenas, que investigou um grupo de empresários que estariam montando um esquema para levar vantagem indevida em obras de saneamento em Cuiabá e Várzea Grande, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pacenas foi jogada debaixo do tapete, por conta de supostas gravações do envolvidos, sem autorização judicial. Avalone nega.
WILSON SANTOS
Deputado estadual licenciado e secretário estadual de Cidades, Wilson Santos tem bens bloqueados por suspeita de improbidade administrativa quando prefeito de Cuiabá, período em que sua administração respondeu pelas obras da construção do Rodoanel Norte com recursos do governo federal. A construção não avançou e o Rodoanel está paralisado. O bloqueio foi determinado pelo juiz federal em Cuiabá Fábio Henrique de Moraes Fiorenza e atinge outros quatro acusados e duas empresas; o montante bloqueado é até R$ 22,9 milhões. A sabedoria popular apelidou o Rodoanel de Roubanel.
Wilson também foi relacionado pela Controladoria-Geral da União (CGU) entre os sanguessugas da Máfia das Ambulâncias. Wilson jura inocência sobre os dois casos.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Agência Câmara/Arquivo
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