Os ensinamentos do nosso Paranatinga

Paranatinga, São Manoel, Teles Pires e, ao se abraçar ao Juruena, Tapajós. Isso mesmo! O nosso Paranatinga, que nasce perto da cidade que lhe toma o nome emprestado, muito embora não seja o dono exclusivo das azuis águas mato-grossenses que banham Itaituba, Alter do Chão e Santarém, no Baixo Tapajós, é fonte de minha inspiração neste artigo. Fonte em todos os sentidos: enquanto água que brota no cerrado e motivação pra exemplificar o que acontece hoje, no nosso abençoado e ensolarado Mato Grosso, onde uma alquimia transforma cidadãos do povo em analistas políticos nacionais; estrategistas de governo, com alguns sendo ferozes defensores de Bolsonaro e outros de Lula da Silva ou desatinados acusadores de um e de outro; magos da economia; e doutores da mais ampla sociologia. Nessa terra de senhores da varinha de condão, recorro ao nosso Paranatinga com suas mutações de nomes e ao seu aliado Juruena, que em Santarém se deparam com o descomunal e barrento Amazonas. A união dos nossos dois rios não se assusta. Enfrenta o gigante que desce dos Andes e percorre a América recebendo águas, inclusive da Bacia do Guaporé, da querida Vila Bela da Santíssima Trindade. Santarém, à margem direita dos dois e do Amazonas, a tudo assiste. Eles se encontram, mas não se misturam. Descem ao mar cada um em seu canto do leito comum a ambos. Descem, descem, descem – vão descendo, até que alguns quilômetros adiante suas tonalidades aos poucos perdem a identidade: formam o maior curso de água doce do mundo, com característica própria, diferente de seus formadores.
Somente quem conhece Santarém pelos rios, terra e ar compreende o que digo. O Encontro das Águas é um espetáculo poético que mistura força e leveza, beleza e magia da natureza – tudo isso sem uma onda revolta qualquer, por mais que o vento açoite; sem um murmúrio sequer. O nosso Paranatinga e seu aliado Juruena que chegam e o Amazonas que está, se respeitam. Esse majestoso espetáculo da natureza não poderia ser diferente: nenhum pode voltar à nascente e não há outro caminho senão o que passam a percorer unidos, pouco à frente de Santarém, rumo ao mar.
Que pena que nossos vibrantes formadores de opinião ao estilo Bombril não reflitam sobre o Encontro das Águas em Santarém. Por analogia deveriam entender que a pandemia do coronavírus é real, letal e altamente contagiosa – um inimigo assim é difícil de ser enfrentado até mesmo com união e, imaginem o povo encará-lo desunido?
Na verdade temos um presidente destemperado, despreparado, egoísta e politiqueiro com ranços ditatoriais. À frente da oposição a ele, Lula da Silva, o populista esquerdista que chefiou a maior quadrilha mundial que atuava na esfera pública amancebada com gigantescos conglomerados empresariais. Um não é recomendável, e o outro, detestável. Deixemos ambos de lado. Que Mato Grosso (o Brasil inteiro) siga seu curso. Que não haja ouvidos para o charlatanismo presidencial com a cloroquina, nem com a agitação sindical que corre nas veias de Lula.
Que a consciência cidadã guie os passos de Mato Grosso. Assim como a quadrilha da era Lula passou, o destempero presidencial de Bolsonaro passará. Que o país não pare, mas sem que isso implique botar as crianças em sala de aula e a retomada dos bons costumes sociais do abraço e beijo. Que não pare, mas que mantenha os grupos de risco e a terceira idade em quarentena. Que não pare, mas que permaneça com algumas atividades suspensas até o fim da contaminação comuniária.
Nos inspiremos no nosso Paranatinga e seu aliado Juruena, e no barrento Amazonas. Mantenhamos nossa independência até o limite do possível. Quando não for mais possível, imitemos esses rios, que se unem, se transformam e num abraço inseparável correm ao mar que os espera, onde juntam as suas às belezas marinhas e dão mais brilho ao Oceano Atlântico.
Pensem nisso. O Brasil vai muito além de Lula e Bolsonaro.
Fico com a ciência médica, porém sempre aberto ao diálogo, mas longe do radicalismo e do charlatanismo.
Fora da pandemia, em caso de confronto de Bolsonaro com Lula fico a briga. Nela, desconsidero o presidente e o ex-presidente.
Em respeito aos mortos e os que choram seu adeus, não desqualifico a pandemia nem a levo ao campo do debate político. Pra mim, vivemos um período de dor, luto, apreensão e insegurança – também no aspecto econômico. Não vejo os milhares de mortos no Brasil e no mundo pelo plano estatístico. Não é essa minha formação.
Sou pela vida como nos ensina o nosso Paranatinga, seu aliado e o Amazonas. Quando isso for passado, direi aos meus filhos e netos que não juntei minha voz ao barulho do estranho mundo que abre muito a boca elevando a voz pra não dizer nada. Sou pela vida como nos ensina o nosso Paranatinga, seu aliado e o Amazonas.
Eduardo Gomes de Andrade – jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com
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