Boa Midia

O círculo vicioso

A população encontra-se aprisionada há mais de um mês. A prisão não é voluntária e nem compulsiva. É um misto das duas. O certo é que estamos arrestados com a nossa família em nossa casa, assistindo novelas reprisadas e jornais televisivos repetitivos e intermináveis. Não somos reféns de um regime de força, mas democrático, onde, em tese, tudo é feito por convencimento. Convenceram-nos que não devemos sair de casa para não colocar em risco as nossas vidas e as de outras pessoas, pois existe um vírus mortal à solta. 
Eu tenho um amigo que é contra a prisão. Ele afirma que a prisão é uma morte em vida. É como se fosse forçado a entrar num esquife vivo, tal é a crueldade dessa punição. E hoje, ela sequer impede que os prisioneiros cometam novos crimes. E no caso aqui relatado, a utilidade do confinamento é evitar o contágio. 
Os lugares pequenos e fechados me atordoam, tiram a minha calma e me deixam com uma sensação desconfortável. O desenrolar desta pandemia, com sustos e mais sustos, altos e baixos deixa o meu humor na lona.  Descobri ultimamente que este confinamento desperta o meu lado pessimista e sombrio.
O Judiciário já decidiu que cada ente da administração pública tem autonomia para lidar com a pandemia da forma que bem lhe aprouver. Existe um protocolo da ONU de como lidar com a questão. Entretanto, aqui o Presidente da República pensa e age de uma forma, os Governadores de outra e os Prefeitos de uma outra diferente. Durma com este barulho!
O certo é que algumas cabeças coroadas acham que tudo não passa de uma “gripezinha”. Entretanto, os acometidos pela doença e os incontáveis cadáveres mostrados pela televisão diariamente comprovam que a situação é grave, principalmente num país onde a saúde sempre esteve na beira do abismo.
E daí –  como afirmou a autoridade máxima do País para se eximir das suas responsabilidades – as minhas apreensões aumentam e me deixam taciturno, aborrecido e macambuzio, quando vejo algumas autoridades afirmando que vão diminuir de forma gradativa o confinamento. Será que este é o momento, ou será que isto não vai servir para aumentar a contaminação e termos, no futuro, uma situação muito mais adversa e voltemos ao único remédio mais eficaz até o momento: o confinamento.
A pandemia prossegue firme e forte. A nossa situação econômica que já era ruim piorou e não dá sinais de reação, pois é preciso cuidar da saúde e depois da economia. Portanto, o horizonte não é promissor e o meu humor, com certeza, vai piorar. Como Deus não é brasileiro e a racionalidade não é uma de nossas virtudes, vamos esperar que as nossas autoridades se entendam e não agravem ainda mais o nosso incerto futuro. Ressalte-se que quando se é refém de um círculo vicioso somente se tem uma saída: rompê-lo.
P.S – Enquanto isto, o Narciso do Presidente da República desafia senso comum e as recomendações de especialistas, em exposições públicas desnecessárias, elogia o arbítrio, flerta com a morte, lava as mãos e fala mal daqueles que não pensam e nem agem como ele. E o Pais, pobre País, navega à deriva!
Renato Gomes Nery – advogado em Cuiabá e ex-presidente da OAB/MT
rgnery@terra.com.br

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