Mato Grosso: Hiroshima é aqui?
Em Mato Grosso, onde a economia é superlativa e o coloca do topo nacional, quase tudo funciona muito bem, menos o governo estadual, a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Não é preciso fonte privilegiada nem bola de cristal para essa constatação. Basta observar o que diz o governador democrata recém-empossado, Mauro Mendes; notar as imorais distorções salariais de servidores públicos ativos e aposentados; a inadimplência do Palácio Paiaguás com fornecedores e prestadores de serviço; o inchaço da máquina pública, com apadrinhados; os vergonhosos incentivos fiscais concedidos intempestivamente inclusive ao grupo Bimetal, ora se recuperando judicialmente e de propriedade de Mauro; e o destempero tributário, que Mauro quer apimentar ainda mais.
Mauro chega ao término de sua terceira semana de governo, pessimista e mergulhado na dualidade. Parece que ao invés de nos encontrarmos em Mato Grosso, terra de produção e fartura, estamos em Hiroshima logo após o ataque atômico lançado pelos Estados Unidos em 1945. Nenhuma das frases ditas pelo governador citou obras, progresso, conquistas. Foi um verdadeiro profeta do Apocalipse. Sua dualidade agrava e muito o quadro que ele pinta – mesmo quando esse é visto com as ressalvas naturais às falas de políticos sobre finanças. Isso por conta de suas duas canetas: uma demite no atacado e outra contrata servidores no atacarejo – no atacado, em alguns casos, e no varejo, em outros.
Infelizmente não temos alguém de pulso firme à frente do governo para corrigir a rota perigosa em que Mato Grosso é direcionado. Infelizmente, não. Esse homem seria Otaviano Pivetta (PDT), mas ele é vice-governador sem poder de mando.
Mauro é continuidade do (des) governo tucano de seu antecessor Pedro Taques. Reaproveitou parte dos graúdos servidores que causaram a tragédia administrativa do ontem. Sem cerimônia fatia cargos comissionados para a aliança política que o abrigou e elegeu.
Preocupante a situação de Mato Grosso. A legislatura que chega ao fim na Assembleia foi caracterizada por escândalos, denúncias, prisões de deputados; deplorável. A próxima, que será empossada em primeiro de fevereiro, tem em sua composição 10 dos 24 deputados de agora – dela não se deve esperar muito. O TCE tem somente um conselheiro titular, seu presidente Campos Neto – denunciado pelo ex-deputado José Riva, de receber mensalinho. Dos outros seis, cinco estão afastados judicialmente desde setembro de 2017, acusados de receberem R$ 53 milhões de propina do ex-governador Silval Barbosa; outro, Humberto Bosaipo, pediu aposentadoria precoce para ganhar fôlego na tramitação das ações que responde por improbidade. O grupo dos cinco afastados é formado por Antônio Joaquim, Valter Albano, Waldir Teis, Sérgio Ricardo e José Carlos Novelli.
Mato Grosso tem poucas vozes para tentar mudar a rota que o arrasta ao abismo. A Imprensa, em sua essência, é apêndice dos cofres públicos e não reage – salvo as exceções de praxe. O Fórum Sindical não ecoa na base dos servidores e não é visto positivamente por boa parcela da população, muito embora sua composição tenha nomes de respeito. Parte da bancada federal apoia, compartilha ou fatia o poder com Mauro, a exemplo do senador Jayme Campos (DEM) e os deputados Carlos Bezerra e Juarez Costa (ambos MDB), Leonardo Albuquerque (SD) e Neri Geller (PP)..
Se o poder da força prevalecer sobre a força do poder que emana do povo, que sejamos resignados e esperemos 2022 para darmos a Mato Grosso o que ele merece e que seja uma liderança forte, humana, sensível, inteligente e capaz de reunir os cacos que já se espalham por todos os lados na Terra de Rondon que o descompromisso, as mamatas, os privilégios e os grupos tentam transformar na Hiroshima do ontem.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
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