Jayme Campos e o “não” que pode ser interpretado como “sim”
Jayme Campos não admite que será candidato ao governo ou Senado. Por outro lado, mesmo sem querer, deixa transparecer que seu “não” na verdade pode ter outra interpretação e virar “sim”. Em ambas as situações Jayme abusa de sua habilidade e confunde o repórter a ponto de em alguns momentos leva-lo a acreditar em sua negativa, e em outros, a ser cúmplice de sua saída pela tangente. Em suma, Jayme não é diferente da política, pois nem um nem outra são ciências exatas.
Conversei com Jayme nesta segunda-feira, 8, num dos raros momentos livres de sua agenda sempre apertada. Ao pé de um balcão e tendo duas xícaras de café entre nós, tentei arrancar sua confissão sobre candidatura. Se levasse ao pé da letra o que ouvi, sairia com a mesma dúvida que tinha na chegada. Mas, não; deixei o local querendo apostar que ele estará nos palanques defendendo seu nome e os de seus companheiros. A aposta na candidatura de Jayme é barbada. mas não saberia dizer se ele toparia o desafio por uma das cadeiras no Senado ou se partiria para a batalha ao governo.
O “não” de Jayme é fundamentado num discreto “sim”. Para apresenta-lo – e não justificá-lo – disse que política é a arte de saber esperar, e que ele aguarda março, quando deverá ser aberta uma janela para assegurar mudanças partidárias aos parlamentares. “Um cenário assim (com a janela e seu impacto sobre as bancadas) mudaria o quadro por completo. Batendo na mesma tecla da paciência para se chegar ao ponto certo, observou que até as convenções seguramente acontecerão acidentes de percursos com candidatáveis – nesse trecho o líder dos democratas me arrasta a pensar (e falar sua linguagem), “você que é homem de imprensa sabe melhor do que eu”.
Sua saída pela tangente tem que ser respeitada pelo repórter, mas não convence nem sua (a dele) madrinha de batismo. Articulado, cria frases que não levam a lugar nenhum nem ficam onde estão. Ou seja, nem bola de cristal seria capaz de interpretá-las. Jayme me disse que política “não é assim” – só que eu não lhe perguntei sobre isso. Pontuou que no DEM há grandes nomes e que outros partidos também contam com bons quadros. “O Pedro (Taques/PSDB) está em cena – ótimo; temos que respeitá-lo…”. Tomo a liberdade de interrompê-lo: “não vim falar sobre o Taques. Quero ouvi-lo sobre seu amanhã?”. Citando o calendário eleitoral Jayme joga um balde de água fria no meu questionamento, “o período das convenções começa em 17 de julho e prossegue até 5 de agosto; acho que antes disso ninguém sairá por aí anunciando candidatura”. Rebato: “mas, você acabou de citar o Taques?”. Tranquilo com seu inseparável cigarro ele parte para a tangente: “Disse que o Pedro está em cena e falei que há outros nomes, só que composição de chapa majoritária e formação de chapas proporcionais a gente discute mais na frente”, resume.
Por duas vezes fiz silêncio pra que ele atendesse o celular. Numa ligação de Juína e noutra de Cuiabá falou sobre política. Seria leviano de minha parte citar quem telefonou e o que Jayme disse. Porém, posso adiantar que os assuntos não se encerraram com aquelas ligações.
Após o “não” e sua arte de produzir frases capazes de criarem dúvidas, disse adeus pensando com meus botões: “como botar uma entrevista assim na internet? O homem diz tudo sem falar nada, mas é o que tenho para o momento e o internauta que avalie o texto como quiser.
Depois do aperto de mãos, quando pegava a escada, Jayme disse sua última frase, “nesse momento sou candidato a parar de fumar”. Respondi, “tomara que consiga”.
Jayme Veríssimo de Campos nunca foi derrotado nas urnas. Por três vezes foi prefeito de Várzea Grande, município que sua mulher Lucimar Campos administra pela segunda vez consecutiva. Seu irmão Júlio e seu pai Júlio Domingos (o seu Fiote) também foram prefeitos daquele município. De 1991 a 1994 Jayme foi governador e na campanha que o levou ao Palácio Paiaguás recebeu o apelido de Pedra 90. De 2007 a 2014 foi senador. Sempre pertenceu ao DEM e seus partidos antecessores. É secretário de Assuntos Estratégicos da prefeitura de Várzea Grande.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo
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