Gilmar Mendes e a luz que ofusca trevas
Duas verdades sobre Gilmar Mendes: é o único mato-grossense no Supremo Tribunal Federal e um grande constitucionalista. Dúvidas sobre ele: muitas. Criticas: mais ainda. Parece que no caso dele, em Mato Grosso, no entendimento de parte da população prevalece a máxima do “Santo de casa não faz milagre”.
De família política, de magistrados e agropecuaristas, Gilmar Ferreira Mendes nasceu em Diamantino, a bicentenária cidade do Chapadão do Parecis. Seu pai Francisco Ferreira Mendes foi prefeito daquele município. Mais recentemente seu irmão e veterinário Francisco Ferreira Mendes Júnior, o Chico Mendes, conquistou a prefeitura por duas vezes.
Gilmar foi pra Brasília sonhando com o curso de Direito da UnB. Passou no vestibular, mas estava desempregado. Um mato-grossense que mais tarde seria uma as maiores figuras do jornalismo político nacional, Jorge Moreno, lhe estendeu a mão. Moreno o empregou no Diretório Central dos Estudantes da UnB, do qual era um dos líderes. O ministro enche o peito de orgulho pra revelar esse fato em seu círculo de amizade.
Advogado, Gilmar trabalhou no Ministério de Relações Exteriores no cargo de oficial de Chancelaria. Aproveitando essa situação, quando lotado em Bonn, a então capital da Alemanha Ocidental, fez mestrado na Universidade de Münster.
Sua carreira é marcada por importantes funções e atribuições: foi adjunto na Secretaria Geral da Presidência da República, assessor da Relatoria da Revisão Constitucional da Câmara dos Deputados e advogado-geral da União. O presidente Fernando Henrique Cardoso o nomeou para o STF e ele assumiu a corte em junho de 2002; presidindo o STF acumulou a presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e na rotatividade na chefia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidiu.
Um dos fundadores do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), Gilmar é pecuarista em Diamantino.
Claro que o ministro não fala nem admite, mas graças a ele sua cidade recebeu órgãos e instituições do Estado, que lhe conferem condição de ‘ilha‘ de prestação de serviço público no comparativo com outras em Mato Grosso. Com 22 mil habitantes, Diamantino tem Vara da Justiça Federal, Vara do Trabalho, agência da Caixa Econômica Federal, Incra, agência da Previdência Social do INSS, Delegacia Regional da Polícia Civil e Delegacia da Polícia Rodoviária Federal.
O governo federal pavimentou a BR-070/174 na fronteira desviando para aquela rodovia a principal ligação de Mato Grosso com Rondônia (via Cáceres e Vilhena/RO). A primeira rota entre os dois estados, a BR-364, foi abandonada no Chapadão do Parecis. Quando Gilmar ganhou importância nacional a BR-364 foi pavimentada ligando Diamantino a Campo Novo do Parecis e restabelecendo a ligação primitiva, que acompanha o curso da linha de transmissão do telégrafo criada pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Essa obra, em parte do trecho exigiu a federalização de estradas estaduais. Outras rodovias, essas estaduais, foram pavimentadas numa malha no entorno de Diamantino beneficiando aquele e outros municípios.
Em Diamantino, para os antigos moradores, o ministro é o Gilmar, irmão do Chico, da família dos Mendes, mas mesmo assim, no clima familiar que o cerca, ele sofre dura oposição. Quando Chico foi prefeito, a Câmara deu o nome de Gilmar Mendes a avenida que faz a ligação do aeroporto (pavimentado) com a cidade. O Ministério Público bateu o pé e não aceitou, com base no princípio que logradouros e próprios públicos não podem receber nome de figura em vida.
Mato Grosso costuma ser duro com seus vultos. Roberto Campos, foi quem conseguiu os recursos para os programas Cyborg e Carga Pesada, que tiraram Mato Grosso do século XIX e lhe conferiram a condição atual. Rogério Ceni foi campeão estadual de futebol pelo Sinop. Dante de Oliveira foi o autor da emenda das Diretas Já. Ataíde Arcoverde é um dos maiores humoristas do Brasil. Luiz Pagot na presidência do Dnit criou a estrutura para a expansão e melhoria da malha rodoviária federal mato-grossense. Serys Slhessarenko, no Senado, lançou as base para a lei da delação premiada. Senador, Júlio Campos criou a lei de proteção à testemunha. Na Câmara, Carlos Bezerra foi autor da PEC das Domésticas. No Ministério da Agricultura Blairo Maggi abriu e consolidou mercados internacionais para commodities mato-grossenses. Manoel de Barros encanta o mundo com seu legado na ajuntação de sílabas pra criação de palavras. Dario Hiromoto revolucionou a ciência agronômica beneficiando a agricultura tropical. Olacyr de Moraes fez o trem apitar em Alto Taquari, Alto Araguaia, Itiquira e Rondonópolis. Zeca D’Ávila levantou a bandeira contra a aftosa. Adão Riograndino Mariano Salles foi o pioneiro da soja, Bruna Viola carrega a bandeira de sua terra no seu instrumento musical, Vanessa da Mata é show cantando e compondo. .
O que há em comum entre Roberto Campos, Rogério Ceni, Dante, Ataíde Arcoverde, Pagot, Serys, Júlio Campos, Bezerra, Blairo, Manoel de Barros, Dario Hiromoto, Olacyr, Zeca ,Adão Riograndino, Bruna Viola e Vanessa da Mata? Todos,cada uma em sua área, são iguais a Gilmar: brilham. E a luz invariavelmente impede a prevalência das trevas.
Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes
FOTO: Assessoria do STF
Comentários estão fechados.