Flauta Mágica e o Enem
Notícias nos chegam dando conta que o Instituto Flauta Mágica, capitaneado pelo maestro Gilberto Mendes e localizado no bairro Jardim Vitória, periferia da capital, acaba de completar 20 anos de existência, numa trajetória marcada por um ideal inclusivo e com história marcada por amor à arte, devotamento à causa comum e pela crença firme de que, sim, é possível romper barreiras e plantar a boa semente mesmo que a princípio o terreno possa parecer inóspito.
Nesse sentido, sites de notícias da capital e jornais, bem como tevês e rádios, destacaram, em sua cobertura factual do aniversário de 20 anos, o fato de que a escolha do Jardim Vitória para ali se implantar o projeto se deveu, em parte, às próprias características econômico-sociais pouco favoráveis do bairro e região. Características essas que despontam em muitos registros jornalísticos que estive lendo, e vendo, por esses dias, pois o Jardim Vitória era, ao final da década de 1990, um dos bairros mais carentes em infraestrutura e serviços, e também, por consequência, um dos mais expostos à marginalidade e delinquência juvenil em Cuiabá. (A realidade nem mudou tanto, mas melhorou, é certo).
Disso tantas vezes falamos, também nós, em aulas de redação ainda hoje. De vez em quando, ou melhor, de vez em sempre, digo aos poucos alunos que atendo (pois não estou diretamente em sala de aula e sim apenas em plantões de redação) que exemplos tais como o do Instituto Flauta Mágica, e o do Instituto Ciranda, também da capital, podem ser trunfos decisivos para candidatos que, conhecendo sua história e o alcance de sua ação, os destaquem, de modo pertinente, como exemplos de transformação social.
Afinal, são experiências artísticas que vêm para ajudar meninos e meninas, adolescentes e jovens a saírem de uma situação difícil que vivem pela sublimação do envolvimento amoroso com as flautas, as cordas, os teclados, as notas musicais, os compassos enriquecedores, as harmonias sublimes.
Na redação do Enem, tais lembranças podem vir como apoio comparativo às propostas de intervenção (competência 5) ou, digamos, como repertório sociocultural ou marca de autoria (competência 2 ou 3), enriquecendo a argumentação e mostrando ao avaliador que, sim, você está ligado ao mundo em que vive e sensível a intervenções de relevo para transformar este nosso mundo num lugar melhor para se viver.
E com a vantagem de que, para o avaliador lá de fora (e no Enem os avaliadores sempre são de fora!), vai soar como um argumento com inegáveis marcas de cores locais e originalidade.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela UFF
mcmarinaldo@hotmail.com
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