Essa nega tem poder
Cuiabá, 1984. No palco a deusa Elza Soares, Na plateia dois gatos pingados. O vazio tocou o coração da artista. O sorriso franco e iluminado cedeu lugar ao semblante triste. Foi assim em 1984 quando a negra da voz rouca e vibrante chegou ao coração da América do Sul pra se apresentar no teatro da Universidade Federal de Mato Grosso pelo Projeto Pixinguinha. De volta ao seu Rio, Elza Soares levou mais um desencanto da bagagem.
Cuiabá não fez Elza desanimar. Ela jamais desanima. Antes da indiferença cuiabana, em 1962, quando o Brasil conquistou o bicampeonato mundial de futebol no Chile graças ao gênio das pernas tortas, Mané Garrincha, ela foi vítima do falso moralismo. O compositor Sérgio Malta escreveu e o cantor Noite Ilustrada interpretou Volta pra casa – uma das mais vergonhosas páginas musicais brasileiras.
Mané era casado, mas se apaixonou por Elza Soares – a Madrinha da Seleção Braisleira no Mundial no Chile em 1962. A hipocrisia familiar inspirou entre aspas Sérgio Malta para compor a música que em seu refrão diz:

Reaja e mostre que é um campeão /
Volte pra asa abrace as crianças e peça perdão /
O amor de seo Mané e a nega Elza Soares não contava para o compositor. A música pedia que se separasssem.
O Brasil covarde cantou com entusiasmo a música que feria os corações de seo Mané e Elza Soares.
A Elza Soares agredida por sua paixão pelo maior jogador em todos os tempos, e com o qual teve um filho, é a mesma mulher negra que superou a indiferença cuiabana no episódio do Projeto Pixinguinha, e que agora recebe a reverência da Marquês de Sapucaí em êxtase com o enredo e o samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, que cantou na noite de 24 deste fevereiro, na Marquês de Sapucaí, o samba-enredo Elza Deusa Soares, que diz:
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Lá vai menina
Lata d’água na cabeça
Vencer a dor, que esse mundo é todo seu
Onde a água santa foi saliva
Pra curar toda ferida
Que a história escreveu
É sua voz que amordaça a opressão
Que embala o irmão
Para a preta não chorar (para a preta não chorar)
Se a vida é uma aquarela
Vi em ti a cor mais bela
Pelos palcos a brilhar
É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor
É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor
Brasil
Enfrente o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar
Ó nega!
Sou eu que te falo em nome daquela
Da batida mais quente
O som da favela
É resistência em nosso chão
Se acaso você chegar
Com a mensagem do bem
O mundo vai despertar
Deusa da vila Vintém
Eis a estrela
Teu povo esperou tanto pra revê-la
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Lá vai menina
Lata d’água na cabeça
Vencer a dor, que esse mundo é todo seu
Onde a água santa foi saliva
Pra curar toda ferida
Que a história escreveu
É sua voz que amordaça a opressão
Que embala o irmão
Para a preta não chorar (para a preta não chorar)
Se a vida é uma aquarela
Vi em ti a cor mais bela
Pelos palcos a brilhar
É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor
É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor
Brasil
Enfrente o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar
Ó nega!
Sou eu que te falo em nome daquela
Da batida mais quente
O som da favela
É resistência em nosso chão
Se acaso você chegar
Com a mensagem do bem
O mundo vai despertar
Deusa da vila Vintém
Eis a estrela
Teu povo esperou tanto pra revê-la
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
Salve a mocidade
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
A Mocidade tem razão. A trajetória de vida da grande cantora mostra que realmente essa Nega tem poder.
Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes.com.br
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