Boa Midia

De postagem plenamente justificada

Taques e o trenzinho da alegria na China
Taques e o trenzinho da alegria na China

Nenhum país planeja sua política de segurança alimentar tanto quanto a China, onde dois bilhões e oitocentos milhões de pares de olhos repuxados precisam receber suas refeições com regularidade, independentemente de fatores climáticos internos e externos ou de injunções nos centros exportadores que respondem pela complementação dos alimentos necessários ao seu consumo. Pequim não promove culto a personalidade estrangeira, não negocia com autoridades; seus negócios são entabulados com empresas exportadoras chanceladas pelos órgão públicos competentes – nada no campo pessoal. É assim quando compra commodities agrícolas. Por esse prisma é possível ver que o governador Pedro Taques, ora entre mandarins, ali se encontra por qualquer outra razão (ou falta dela), mas não em missão comercial mato-grossense.

A China é o maior parceiro comercial de Mato Grosso. Em 2015 o volume global exportado pela economia mato-grossense alcançou US$ 12,18 bilhões (FOB) e os chineses responderam por US$ 3,88 bi (FOB) o equivalente a 29,75% desse mercado. Um ano depois houve leve queda para US$ 12,05 bi (FOB), mas Pequim manteve seu ritmo importador: US$ 3,76 bi (FOB) ou 29,94 bi (FOB). Nenhum centavo dessa movimentação teve o dedo do governo de Taques. Quem dita essa relação é a informal e imemorial lei da oferta e da procura: nenhum país pode importar tanto e nenhuma outra região do mundo tem condição de produzir tal excedente para exportar com regularidade e qualidade quanto a nossa agricultura tropical tão satanizada pelos que buscam maior fonte de receita tributária para a manutenção de uma máquina administrativa inchada, improdutiva e despreparada para prestar serviços de qualidade ao povo que direta e indiretamente banca seu custeio.

Pequim e a responsabilidade de alimentar 2,4 bilhões de chineses
Pequim e a grande  responsabilidade de bem alimentar 2,4 bilhões de chineses

O mercado chinês não tem espaço para floreio, para divagação. Sua tendência é de crescimento pela melhoria da qualidade de vida dos chineses. Onde comprar mais soja? Algodão? Milho? Ração animal? Óleo degomado? Madeira? Carne bovina, suína e de aves? Não é difícil avaliar que não há alternativa a não ser nas áreas de produção em Sorriso, Rondonópolis, Sapezal, Lucas do Rio Verde, Tapurah, Nova Ubiratã, Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra, Canarana, Cáceres, Vila Bela da Santíssima Trindade, Campo Verde e por onde mais se espalha a Terra de Rondon.

Taques, acredito, não foi em busca de ampliação e diversificação de mercado, pois as relações comerciais por si somente se ajustam quando numa das pontas está o austero governo chinês que executa corruptos e obriga seus parentes a pagarem as balas de seu fuzilamento. Imagino que o governador viajou seguido por um verdadeiro trenzinho da alegria por duas razões: primeiro movido pelo ego; segundo, para tentar apresentar uma resposta por linhas travessas para a crise que seu governo conseguiu instalar no abençoado, ensolarado e produtivo Mato Grrosso.

Em março desde ano a Polícia Federal desencadeou a Operação Carne Fraca, que teria desbaratado um esquema de frigoríficos e servidores do Ministério da Agricultura (33 funcionários públicos, como se anunciou). A reação de Pequim foi imediata: suspendeu a importação da carne brasileira e cobrou explicação oficial. Outros países adotaram as mesmas medidas.

O ministro da Agricultura Blairo Maggi tratou de apresentar argumentação fundamentada aos chineses, negociou muito e conseguiu reabrir aquele que é o maior mercado externo da carne brasileira. Em efeito dominó um a um dos países que criaram barreira sanitária igual à China, também voltaram a importar o produto Made in Brazil.

O governo de Mato Grosso vive o caos. Sua sobrevivência – repito: sobrevivência – depende de fontes extraorçamentárias. Duodécimos em atraso. Folha salarial contingenciada. Empreiteiros amargando milionárias dívidas governamentais por obras concluídas. Poucas obras em curso. Repasses constitucionais aos municípios em atraso crônico. Insegurança jurídica reinante em razão dos panos quentes sobre a Grampolândia Pantaneira, escândalo que autoridades teimam em tratar da cintura para baixo etc.

O ano eleitoral de 2018 está a um passo. Um governo de fachada, de superficialidade, não se sente seguro com um senador mato-grossense ocupando cargo de ministro e descascando o abacaxi chinês. Não se sente seguro sem um discurso gutembergueano apresentando mirabolantes resultados da viagem à terra dos mandarins. Por isso – avalio – Taques está em Pequim tentando matar dois coelhos com uma só cajadada: ofuscar o que Blairo fez e trazer na manga um discurso desenvolvimentista bem burilado pela mídia amiga.

Entendo que além de viagem infrutífera, de desconsideração com o combalido erário público, a ida de Taques àquele país – numa visão mais arejada – ganha contornos de propaganda eleitoral extemporânea, o que em outras palavras é crime eleitoral. Não acredito que algum partido o denuncie nesse sentido. Não creio que o Fórum Sindical tenha disposição para levantar questões dessa natureza.

A avalanche do noticiário sufocará este editorial, que é postado sabendo que será engolido pela máquina publicitária a serviço de Taques. Mesmo assim, se ao menos um internauta levar em conta seu teor sua postagem estará plenamente justificada.

Eduardo Gomes de Andrade
Editor

blogdoeduardogomes.2017@gmail.com

 

FOTOS:

1 – Maria Anffe – Governo de Mato Grosso

2 – Pequim/Ilustrativa/Arquivo

4 Comentários
  1. Jurandir Diz

    Brigadeiro você sempre acerta, mas agora foi muito além. Muito obrigado meu velho amigo

  2. Marcio Diz

    Maravilha

  3. José Eduardo Diz

    Cadê o Ministério Público Eleitoral?

  4. Rui Diz

    bobó chera-chera não gosta de servidor é uma decepção

Comentários estão fechados.

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