Boa Midia

Árbitro-policial: terror dos dorminhocos

O juiz Serafim Medeiros, que integrou o Departamento de Árbitros da FMF, na década de 1990 – atividade que conciliava com a de policial civil — cultivava um hábito que quem viajava com ele para trabalhar no interior detestava: apontar o cano de seu revólver para fora do carro e fazer seguidos disparos só para assustar os dorminhocos. Enquanto os mais assustados só faltavam pular dos carros em que viajavam, pensando que estavam no meio de um tiroteio, Medeiros quase morria de rir…   
Também dessa época, José Roberto Feitosa Soares, o Cipó, afirma que seus companheiros de viagem ficavam putos da vida com Medeiros, mas não com raiva dele por causa da mania dos tiros e dos sustos. “Naquele tempo tudo era farra, diversão e brincadeira. Para complicar a vida dos companheiros, nas viagens o pessoal da FMF chegava a passar, às escondidas, batom nas cuecas dos casados para vê-los metidos em encrencas da grossa em casa. Era só para sacanear mesmo!…” – afirma Cipó.
Outra brincadeira comum naqueles bons tempos do futebol romântico entre o pessoal da FMF – juízes, bandeirinhas, delegados da entidade, tesoureiros – era colocar gatos das cidades onde trabalhavam dentro das bolsas dos companheiros. Quando as viagens eram feitas em ônibus de linha, de vez em quando um gato escapava das bolsas e provocava tumultos entre os passageiros…
Na sua militância no Departamento de Árbitros – entre 1988/1999 – Cipó passou por muitas situações engraçadas. Uma delas: em 1998 ele atuava como bandeirinha de Gílson Rodrigues no jogo entre Barra do Garças e Operário Várzea-grandense no Estádio Zeca Costa. A certa altura do jogo, Rodrigues expulsou de campo Jackson, do clube barragarcense. Mas antes de sair de campo, Jackson se aproximou do juiz e rasgou sua camisa.
Já sentado na arquibancada, Jackson decidiu se vingar de Cipó que nada teve a ver com a sua expulsão. Ele saltou o alambrado, aproximou-se sorrateiramente de Cipó e de repente pulou com os dois pés nas costas do bandeirinha. Mesmo surpreendido, Cipó reagiu e deu uma certeira bordoada nas costas do seu agressor com a sua bandeirinha.
Claro que Jackson sentiu a pancada. E como sentiu! Até porque o objeto em que a sua bandeirinha especial estava pregada, não era de madeira ou plástico, mas de ferro puro. Sim, de ferro puro e que Cipó sempre preparou em sua casa para impor respeito à boleirada, quando estava bandeirando. E como impunha!…
Por causa dos dois episódios em um só jogo – a expulsão e a agressão a Cipó e que lhe custou uma dolorida pancada no lombo – Jackson foi punido com uma suspensão de 120 dias. Mas nunca mais quis saber de conversa com Cipó, quando ele estava com um apito na boca ou uma bandeirinha nas mãos…
Desde 2005, o orientador social Cipó vem executando, através de sua escolinha de futebol Associação Cristo Rei, criada há mais de duas décadas, um programa de cunho social, trabalhando com 70 meninos e adolescentes, na Cohab Jaime Campos, em Várzea Grande. O trabalho de Cipó é desenvolvido no principal campo de futebol do bairro, o “Sílvio Manoel Gomes”, de onde ladrões já levaram tudo dos vestiários, até as mangueiras que eram utilizadas para molhar a grama.
As atividades no período matinal, com a participação de cerca de 35 garotos (dos seis aos 13 anos), começam às 7h30 e se estendem até as 11h30, com um rápido intervalo para um lanche. No período da tarde, o trabalho, com igual número de participantes (dos seis aos 16 anos), vai das 13h30 até as 17h30, também com direito a um lanche. Para ajudar no lanche da garotada, Cipó recebe mensalmente da prefeitura de VG R$ 1.000,00.
O objetivo de Cipó não é revelar jogadores, mas, sim, ocupar o tempo dos garotos com atividades sadias e atraentes, como práticas esportivas, como o futebol. Além da preparação física, recreação, “rachas”, a garotada recebe instruções sobre regras de futebol e de comportamento dentro e fora de campo. “A nossa preocupação é formar pessoas íntegras para que sejam bem-sucedidas na vida” – afirma Cipó.
Mas se alguém se destacar na escolinha, Cipó pode indicar e até levar as revelações para o Paraná Clube, de Curitiba, de quem é uma espécie de “olheiro” em Mato Grosso. Ou para a empresa Futtalents (Futebol e Talento) também de Curitiba. A Futtalents inclusive já nomeou Cipó seu representante para Mato Grosso e a região.
 – Mas mandar “aranhas” (jogadores pernas de pau) para eles é tempo perdido – garante Cipó, que além de trabalhar com a garotada de sua escolinha, tem uma academia desportiva de futebol na Cohab Cristo Rei, criada desde que ele se afastou de sua empresa de construção civil por causa de sua idade. Cipó está com 64 anos e nem pensa em parar de mexer com o futebol de sua escolinha…
Matéria do volume 2 do livro Casos de todos os tempos   Folclore da bola, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino, já em fase de edição.     

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies