O programa leva a chancela do Carrefour em parceria com a ong holandesa Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) e seus braços operadores serão o governo estadual, a Acrimat e a fazenda São Marcelo. Sua criação foi motivada pelo projeto Produzir, Conservar e Incluir (PCI) apresentado conjuntamente por Mato Grosso e Acre na 21ª Convenção do Clima (COP 21), em Paris, no ano de 2015.
Bezerros sustentáveis é um programa apresentado e que será executado numa mistura de cuidados ambientais, agrários e sociais, por sua clientela ser formada basicamente por clientes da reforma agrária. Em suma, a meta é mais ambiciosa do que despertar a agricultura familiar à produção de bezerros: acima de tudo é atrai-la à proposta de preservação do meio ambiente, para a ampliação do passivo ambiental, e a harmonização das relações entre grandes e pequenos criadores.
Os investimentos serão concentrados na assistência técnica, formação de mão de obra, qualificação para a lide no campo e conscientização ambiental. O parceleiro contemplado além de fortalecer a defesa do meio ambiente poderá se transformar em multiplicador da política ambiental junto a outros clientes da reforma agrária. Esse objetivo fica claro pela limitada capacidade de produzir bezerros dos 450 que serão incluídos ao programa.
O perfil agrário dos lotes da reforma agrária na região Juruena (bioma Amazônia) e no Vale do Araguaia (bioma Cerrado) gira em torno de 50 a 75 hectares, onde não há restrição para corte raso, que no primeiro é de 20% e no outro de 35%. Se o programa alcançar seu objetivo ambiental, tais áreas ganharão reservas permanentes e consequentemente a antropização será reduzida e não avançará. Mesmo com pastagem menor o parceleiro poderá criar bezerros em pequena escala e conseguir diversificar sua atividade na agricultura familiar, graças aos ensinamentos que receberá.
Na prática, uma vez capacitado e obtendo financiamento com carência, juro simbólico e mercado garantido, o parceleiro poderá despejar anualmente no mercado cerca de 20 bezerros – sua produção será maior, mas ele terá que fazer a retenção de fêmeas. Ao término de um ano os 450 contemplados desovarão 9.000 cabeças no mercado do gado de corte. A transformação desse rebanho em carne nas gôndolas não representa quase nada para o Carrefour, que tem 638 pontos de vendas em todos os estados e no Distrito Federal, puxados por sua bandeira varejista e atacadista Atacadão, que em Mato Grosso hasteou bandeira em Cuiabá e outras oito cidades.
Em sua fala na apresentação Taques deixou claro que a proposta do Carrefour não é de se jogar fora. O governador ponderou que o Estado não pode ser intervencionista nas relações comerciais, mas que não deve ficar fora delas; ao contrário – sustentou – que todos os dentes da engrenagem público-privada devem ser unir em defesa do interesse social. É exatamente o interesse social que fala mais alto na produção de bezerros sustentáveis. Tanto Mato Grosso quanto a União lidam com muito tato na questão dos assentados. Qualquer iniciativa no sentido de lhes cobrar mudanças nas práticas ambientais teria grande repercussão na mídia e receberia imediata resposta do Ministério da Reforma Agrária, Ministério Público Federal, Ibama e do Incra. No entanto, se o pedido partir de uma ong com presença mundial igual a IDH reforçada por investimento do Carrefour, não haverá resistência.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO:Ilustrativa Torre Eiffel – um dos símbolos da França
Transcrito do mesmo jornalista na edição do Jornal Diário de Cuiabá edição 11 julho 2018