A FRANÇA EM JURUENA – Programa injeta €3 mi a assentados
Oficialmente um programa para produção de bezerros sustentáveis, com investimento superior a €3 milhões até 2020 em 450 parcelas de lotes da reforma agrária e outras pequenas propriedades em Juruena e no Vale do Araguaia. Em nome dessa proposta o embaixador da França, Michel Miraillet, e o CEO do grupo Carrefour no Brasil, Noël Prioux, anunciaram a proposta ao governador Pedro Taques e ao presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Marco Túlio, num evento, ontem, no Palácio Paiaguás. Na prática, segundo analistas, além do título do programa há um abrangente projeto para incluir contemplados à política de preservação ambiental.
O programa leva a chancela do Carrefour em parceria com a ong holandesa Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH) e seus braços operadores serão o governo estadual, a Acrimat e a fazenda São Marcelo. Sua criação foi motivada pelo projeto Produzir, Conservar e Incluir (PCI) apresentado conjuntamente por Mato Grosso e Acre na 21ª Convenção do Clima (COP 21), em Paris, no ano de 2015.
Bezerros sustentáveis é um programa apresentado e que será executado numa mistura de cuidados ambientais, agrários e sociais, por sua clientela ser formada basicamente por clientes da reforma agrária. Em suma, a meta é mais ambiciosa do que despertar a agricultura familiar à produção de bezerros: acima de tudo é atrai-la à proposta de preservação do meio ambiente, para a ampliação do passivo ambiental, e a harmonização das relações entre grandes e pequenos criadores.
Os investimentos serão concentrados na assistência técnica, formação de mão de obra, qualificação para a lide no campo e conscientização ambiental. O parceleiro contemplado além de fortalecer a defesa do meio ambiente poderá se transformar em multiplicador da política ambiental junto a outros clientes da reforma agrária. Esse objetivo fica claro pela limitada capacidade de produzir bezerros dos 450 que serão incluídos ao programa.
O perfil agrário dos lotes da reforma agrária na região Juruena (bioma Amazônia) e no Vale do Araguaia (bioma Cerrado) gira em torno de 50 a 75 hectares, onde não há restrição para corte raso, que no primeiro é de 20% e no outro de 35%. Se o programa alcançar seu objetivo ambiental, tais áreas ganharão reservas permanentes e consequentemente a antropização será reduzida e não avançará. Mesmo com pastagem menor o parceleiro poderá criar bezerros em pequena escala e conseguir diversificar sua atividade na agricultura familiar, graças aos ensinamentos que receberá.
Na prática, uma vez capacitado e obtendo financiamento com carência, juro simbólico e mercado garantido, o parceleiro poderá despejar anualmente no mercado cerca de 20 bezerros – sua produção será maior, mas ele terá que fazer a retenção de fêmeas. Ao término de um ano os 450 contemplados desovarão 9.000 cabeças no mercado do gado de corte. A transformação desse rebanho em carne nas gôndolas não representa quase nada para o Carrefour, que tem 638 pontos de vendas em todos os estados e no Distrito Federal, puxados por sua bandeira varejista e atacadista Atacadão, que em Mato Grosso hasteou bandeira em Cuiabá e outras oito cidades.
Em sua fala na apresentação Taques deixou claro que a proposta do Carrefour não é de se jogar fora. O governador ponderou que o Estado não pode ser intervencionista nas relações comerciais, mas que não deve ficar fora delas; ao contrário – sustentou – que todos os dentes da engrenagem público-privada devem ser unir em defesa do interesse social. É exatamente o interesse social que fala mais alto na produção de bezerros sustentáveis. Tanto Mato Grosso quanto a União lidam com muito tato na questão dos assentados. Qualquer iniciativa no sentido de lhes cobrar mudanças nas práticas ambientais teria grande repercussão na mídia e receberia imediata resposta do Ministério da Reforma Agrária, Ministério Público Federal, Ibama e do Incra. No entanto, se o pedido partir de uma ong com presença mundial igual a IDH reforçada por investimento do Carrefour, não haverá resistência.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTO:Ilustrativa Torre Eiffel – um dos símbolos da França
Transcrito do mesmo jornalista na edição do Jornal Diário de Cuiabá edição 11 julho 2018
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