Boa Midia

A relação do Portão do Inferno com o suicídio

 

Não é de hoje que o Portão do Inferno, um precipício de 50 metros nas curvas que ligam Cuiabá ao paraíso de Chapada dos Guimarães, é local de tentativas de suicídio. Não sabemos quantas pessoas já tentaram ou conseguiram retirar suas vidas nesse mirante que deveria ser apenas mais uma bela paisagem na MT 251, mas é certo que os moradores da região convivem há anos com essa situação.  O assunto foi reavivado pela divulgação de um vídeo em que um motoqueiro salva um jovem de saltar no último minuto. O ato heroico e o drama que o tema carrega trouxeram de volta o assunto à nossa região.

Muitos acreditam que o nome do local possui impacto nesse comportamento e a ideia de “Inferno” atrai as mentes desesperadas, mas está longe de ser o único cartão postal com esse estigma.

 De Nova Iorque, com o Edifício Empire State, a Paris, com a Torre Eiffel, vários países possuem pontos turísticos que se tornaram palco de suicídios.

Suicídio não é mais um tabu. É assunto de utilidade pública e precisamos falar sobre isso.

O suicídio é uma tentativa desesperada de aliviar uma dor, de buscar saída em meio ao sofrimento e desesperança sobre o futuro. A Depressão é a maior causadora do comportamento suicida –  é como uma lente de pessimismo e negatividade, não deixa a pessoa enxergar outra saída, afinal, como você se livra de algo que dói na alma?

É mais que comprovado que a Depressão é uma doença, causada por fatores biológicos e sociais, associar o ato de suicídio ao Inferno talvez seja resquício de nossa cultura religiosa que acredita que quem comete o ato merece punição eterna. Talvez a própria pessoa esteja convencida disso.

No entanto, o mais provável é que o ponto seja associado no imaginário local a “um fim garantido”, sem chance alguma de sobrevivência. Quem está deprimido quer alívio, e só vislumbra esse caminho como solução do seu sofrimento, mas a verdade é que não é.

Um estudo feito com mais de quinhentas pessoas salvas do suicídio da ponte Golden Gate em São Francisco – o local com mais suicídios registrados no mundo – após 20 anos descobriu que 95% delas estavam vivas ou faleceram de mortes naturais.  Isso aponta que o comportamento suicida é impulsivo – um ato desesperado de sanar uma crise depressiva – que na maioria das vezes é resolvida.

Quem tenta suicídio não é um condenado sem salvação, as crises passam e o pensamento suicida também. Estender o braço e oferecer tratamento realmente salva vidas.

Medidas preventivas como instalação de grades de proteção, câmeras de vigilância e equipes de pronta resposta conseguiram zerar suicídios em diversos locais. A oferta de tratamento com psicologia e psiquiatras em um sistema de saúde mental eficiente e acessível é indispensável nessa luta.

Não precisamos observar mais episódios como quem aprecia uma paisagem, medidas incisivas são possíveis, necessárias e urgentes.  O que estamos fazendo para mudar esse cenário?

Se você tem Depressão, procure auxílio profissional, o tratamento moderno com psicoterapia, medicamentos e até abordagens não medicamentosas como a Estimulação Magnética Transcraniana são cada vez mais acessíveis.

Ao contrário do que se pensa, Depressão tem tratamento!

Manoel Vicente de Barros é médico psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria e Estimulação Cerebral, formado pela UFMT e atua no tratamento de Depressão e Ansiedade

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies