Estado quebrado e 114 obras: uma situação torna mentira a outra

Mauro Mendes mente  (ou seriam duas as mentiras?). A mídia eletrônica bate palmas. O internauta se omite. Mato Grosso fica cada vez mais perto do abismo e o cargo de governador ganha contornos de vulgaridade.

Que acusação é essa, tão séria assim. contra o governante mato-grossense?

No começo de seu mandato, Mauro baixou decreto de calamidade financeira com vigência de 180 dias. Com esse documento suspende RGA, escalona salários, tenta reduzir duodécimos, empurra credores do governo com a barriga. No Fórum de Governo e Prefeituras – que acontece desde ontem, 4, na Fatec/Senai, no bairro do Porto, em Cuiabá – com a naturalidade com que assinou a papelada para o calote temporário, Mauro anunciou que executará e retomará 114 obras rodoviárias. Lembremos que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Se não há recursos para quitar as dolorosas não pode haver para um pacote de obras.

Não é fácil fazer jornalismo neste abençoada e ensolarada terra. Desde ontem, sites empanturram os internautas com manchetes e notícias sobre as 114 obras anunciadas. Nenhum questionou Mauro, porque a Imprensa não tromba com quem tem em mãos a chave do cofre mais cobiçado do centro do continente. O Internauta via de regra é o mesmo indivíduo que coabita redes sociais execrando Bolsonaro ou Lula, mas que não abre o bico por aqui. O conivente silêncio do internauta fortalece a incestuosa relação da mídia com o Palácio Paiaguás.

Somente quando o leitor virtual entender que sua relação com a mídia tem que ser intensa, constante e franca, teremos uma Imprensa independente.  O tempo do distanciamento do leitor com o jornal impresso é página histórica virada – o momento é de instantaneidade. Essa omissão empurra o Estado velhaco e sua bajuladora mídia para um caminho que não deve ser percorrido por quem prefere a cabeça erguida.

Voltemos à mentira de Mauro.

Não é segredo para ninguém (e o decreto de situação de calamidade financeira também atesta isso)  que Mauro considera Mato Grosso quebrado. O que não se entende é que de uma hora para outra, fazendo projeção sobre receita extraorçamentária do Novo Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) ele anuncie a retomada de 114 obras rodoviárias que consumirão R$ 500 milhões e – segundo ele – cumprem todas as exigências documentais e contratuais para serem retomadas ou iniciadas. Ou seja, trata-se de um salvo-conduto moral ao antecessor e seu guru político, Pedro Taques.

O governador do Estado quebrado disse que tem pouco mais de R$ 100 milhões em caixa para iniciar os trabalhos e que espera arrecadar algo em torno de R$ 450 milhões a R$ 500 milhões com o Novo Fethab até o final deste ano.

Ora, lançar 114 obras rodoviárias com um caixa de R$ 100 milhões é prenúncio de calote, pois mesmo em se tratando de uma montanha de dinheiro, se diluído em tantas frentes de trabalho assim, seria pouco mais que zero para cada empreiteira. O governador do Estado quebrado mostra que não tem planejamento. Anuncia obra contando com a postura da galinha (pra usar uma expressão clássica).

O mais humilde chefe de equipe na construção de rodovia sabe que R$ 100 milhões não representam nada para tantas obras assim. 

Os prefeitos que participaram da solenidade onde Mauro anunciou as obras, sabem que não há lógica naquele discurso.

Lamentável a piroctenia verbal de Mauro. Mais lamentável ainda é a submissão da Assembleia Legislativa, que deveria assumir seu papel, jogando por terra esse discurso desconexo, tranquilizando a população e restabelecendo a moralidade na esfera do poder político.

Longe da ironia, mas parece-me que Mauro errou no calendário. Viu que é abril e imaginou que se tratasse do dia primeiro.

Estamos inseridos num perigoso contexto que arrasta Mato Grosso para o caos. Espero que pelo menos o internauta não contribua para que isso aconteça. Se houve manifestação popular contrária ao discurso de Mauro e se essa expressão encontrar eco ainda que seja num site do porte de blogdoeduardogomes é possível fazer correção de rumo. Fora disso, blogdoeduardogomes estará pregando no deserto.

Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

FOTO: Mayke Toscano – Secretaria de Comunicação Social do Governo de Mato Grosso