Boa Midia

MEMÓRIA – Geisel inaugura a BR-163 e o Brasil ganha um corredor de integração

Eduardo Gomes

andrade@eduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

Terça-feira, 19 de outubro de 1976. Final de tarde. Calor sufocante. Tempo carrancudo anunciando chuva certeira. As águas na cachoeira do rio Curuá, no Pará, corriam espumantes sobre as pedras escuras. Os mosquitos não davam trégua. Alguns dos presentes diziam em conversas nos grupos que se formaram para o banho, que se amanhecesse chovendo o presidente não inauguraria a rodovia. Em silêncio os ouvia. Anoiteceu. O rangido da rede em seu balançar testemunhava o ataque da mosquitada, que nem mesmo o Baygon pulverizado no improvisado barracão conseguia afugentar. O cansaço em razão de três dias enfrentando a buraqueira e os atoleiros facilitou pegar no sono. Amanheceu no Curuá. Os mosquitos aumentaram. O café comunitário feito em coador de pano desceu macio. O banho rápido e a roupa mais de gala possível. Viaturas do 9º BEC, do 8º BEC de Santarém e da Base Aérea do Cachimbo estavam por todos os lados. Uma banda militar ensaiava dobrados. De um Hércules da FAB, que pousou na véspera, desembarcaram os penduricalhos do cerimonial. Um helicóptero da FAB dava suporte ao ato. O parto estava chegando.


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Às 8h30 os dois aviões da comitiva presidencial procedentes da Base Aérea do Cachimbo sobrevoaram o Curuá. Pousaram. Geisel estava ali. Sim, o presidente Ernesto Geisel desembarcou para inaugurar a BR-163, que naquele lugar é chamada de Santarém-Cuiabá. Era o esperado parto. O nascimento da espinha dorsal de uma rodovia longitudinal com 1.770 km ligando Cuiabá a Santarém, que dentre outras missões tinha a de interiorizar e integrar o Brasil, como sonhou Juscelino Kubitschek, ao incluí-la ao Plano de Metas de seu governo.

Com Geisel, no corte da fita inaugural, os ministros Dirceu de Araújo Nogueira (Transportes) e Sílvio Frota (Exército); o diretor do DNER, engenheiro Adhemar Ribeiro da Silva; os governadores Aloísio Chaves (Pará) e Garcia Neto; e outras autoridades.

O corte da fita ou parto, aconteceu sem os cansativos discursos de agora. Num gesto que colheu a segurança de surpresa, Geisel caminhou até um FNM carregado com três mudanças e pediu ao seu motorista que cruzasse o ponto de inauguração marcando assim a liberação da BR-163 ao tráfego. O presidente não tinha jogo de cintura, e tanto assim, que não entrou na cabine para registro fotográfico.

Pouco antes do corte da fita a banda executou o Hino Nacional e alguns dobrados. Geisel conversou com oficiais dos dois batalhões e da Aeronáutica, e embarcou para Brasília, com escala na Base Aérea do Cachimbo, para trocar de aeronave.

Assim, a nossa Cuiabá-Santarém ou a Santarém-Cuiabá dos paraenses abriu suas pistas ao vaivém nos dois sentidos.

A construção da rodovia rumo Norte, pelo 9º BEC, de Cuiabá, começou em 31 de janeiro de 1971, no Posto Gil, de Diamantino; seu comandante era o coronel José Meirelles. O 8º BEC avançou em sentido contrário.

Em 2016, quando da celebração dos 46 anos do começo da construção tive a felicidade de narrar a epopeia da ocupação do vazio demográfico de uma vasta região pela BR-163 e os reflexos no eixo de sua influência. Para tanto, escrevi o livro Nortão BR-163 – 46 anos depois

Capa: Edson Xavier

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