Boa Midia

Você conhece Rondô?

Os primeiros vestígios dela surgiram nas imediações do rio Poguba, em língua indígena. Vieram as cercanias, iniciando-se com o Casario. Virou povoado, e depois, em um processo de desbravamento, expandiu-se para todos os lados. Antes, no início do século XX, era conhecida como Povoação do Rio Vermelho. Depois, em 1918, deram-lhe um nome com 12 letras, em homenagem ao Marechal Cândido Rondon.

 

O tempo passou, e a então cidade cresceu, tornando-se “…um centro de miscigenação geográfica, quando acolheu aqui os baianos, mineiros, goianos, gaúchos, paulistas, brasileiros e estrangeiros de longínquas terras, sempre de braços abertos…”, como é retratado no livro “Rondonópolis do Alto”, do escritor Hermélio Silva.

Atualmente, em 2020, foi reconhecida pelo IBGE como a Capital Regional. Você já deve ter percebido que estamos falando de Rondonópolis, não é? Ron-do-nó-po-lis, a “cidade de Rondon”. Esse nome, aparentemente quilométrico na visão de quem precisa reproduzi-lo e, que, normalmente, por questão de objetividade e facilidade, as pessoas daqui, e às vezes, as até de fora, procuram abreviá-lo ao falar ou reduzir o número de suas letras, ao escrevê-lo.

Analisemos quem, um dia, nunca foi chamado por um apelido carinhoso ou um codinome diferente? Seja porque o nome fica mais claro, seja porque soa melhor, seja porque é mais curto. Enfim, existem enes justificativas. Com cidades, pode acontecer o mesmo processo. Pesquisando, percebemos que, nessas terras tupiniquins, encontramos inúmeras municípios que, muitas vezes, são mais conhecidos pelo seu epíteto do que pelo próprio nome, ou então, o nome oficial do lugar é associado a esse apelido. Por vezes, ameno; por vezes, nem tanto.

Vejamos São Paulo, “terra da garoa” ou simplesmente Sampa. Florianópolis (cidade de Marechal Floriano Peixoto), além de Floripa, é conhecida também como “ilha da magia”. Curitiba é apelidada de Chuviritiba, por levar a fama de ter muitos dias chuvosos. E o que dizer de Vicentinópolis, que também é conhecida como Paletó? Por outro lado, há vários casos de cidades brasileiras que têm ou já tiveram em seus currículos vários apelidos ou segundos nomes, como Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, Santa Maria/RS, a própria São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ, “a cidade maravilhosa”. Não pretendo citar as alcunhas de cada uma, para não fatigar. Não é esse o objetivo. Mas, basta pesquisarmos no Google e iremos encontrar uma vastidão de nomes de municípios e como eles também são conhecidos em seu meio.

Nota-se que essa questão da cognominação não ocorre somente por essas terras. Há cidades fora do Brasil que há muito já são famosas, até mais, em razão da exaltação de seus apelidos. Paris, “a cidade luz”; Florença, “a cidade dos lírios”; Bordeaux, “a cidade do vinho”; Roma, “a cidade eterna”; Las Vegas, “a cidade do pecado”; Jaipur, “a cidade cor-de-rosa”, Nova Iorque, the big apple (a grande maçã); Genegra, “a capital da paz”; Ushuaia, “a cidade do fim do mundo”… enfim, poderíamos nos delongar deliciosamente nessa temática, e passar tempo escrevendo, pois lugares com, pelo menos um segundo nome, existe em um número bastante elevado.

Por aqui, o Dr. Ailon do Carmo, advogado, escritor, historiador, colunista e membro-fundador da ARL, Academia Rondonopolitana de Letras, ocupando a cadeira nº 01, já fazia reluzir em seus discursos, anos atrás, um apelido para a cidade que nasceu e cresceu nas imediações do rio Vermelho, ao trazer uma segunda opção, um cognome que acredito ser afetuoso, ao nome oficial de Rondonópolis, quando ele falou da política local. Na época, o inspirado escritor tratou-a simpaticamente pelo codinome Rondô, em seu artigo, intitulado “Os desvarios eleitorais de Rondô”.

Entendemos que o nome de um lugar e seus apelidos fazem parte da história, dos costumes e da cultura, que dali brota. Rondonópolis pode continuar sendo esse gigante centro comercial e industrial, onde eclode trabalho e oportunidades, mas também pode discutir temas dentro do universo artístico, literário, folclórico e cultural. Percebemos, inclusive, que a cultura precisa ser mais e melhor debatida. Não só pelos literatos locais. Precisa haver um engajamento de todos, especialmente do poder público, como já li em matérias de jornais locais, e como também muito bem reforça o escritor Hermélio Silva, em seu artigo “O ribeirão Arareau chora”, publicado no Jornal virtual “blogdoeduardogomes.com.br”, ainda em agosto deste ano, e reforçada em sua última obra “A pedra de Sísifo virou pó”.

Mais recentemente, em uma entrevista concedida ao “Café da Manhã – Talk Show, com Hermélio Silva”, em 19/09/2020, o literato, Dr. Ailon, voltou a falar do trabalho que sempre fez nos meios de comunicação escrito e falado e em suas discussões, no sentido de trazer à baila um apelido que identificasse com deferência a cidade que já ficou conhecida como “a capital nacional do agronegócio”. O historiador falou que sempre gostou de chamar Rondonópolis de Rondô. Na ocasião, ele citou cidades que usam um segundo nome, como Florianópolis, que a chamam também de Floripa, e Belô, em referência a Belo Horizonte. Dr. Ailon ressaltou que a ideia do apelido Rondô é muito interessante e simplifica o extenso nome de Rondonópolis. Na visão dele, seria melhor do que simplesmente abreviar a cidade ao mero Roo.

Penso que uma possível mudança seria uma forma gentil de identificar Rondonópolis, que possui 12 letras, reduzindo-a a apenas 5. Essa substituição poderia vir naturalmente e informalmente, em conversas diárias, citações ou referências orais, nas interações interpessoais, sem substituir o nome oficial “Rondonópolis” ou desmerecê-lo. Ao contrário. Enalter-se-ia, ao se poder ter a liberdade (e quem sabe o orgulho?) de também chamá-la de Rondô. “De onde você é?” – “De Rondô!”, diria o nativo ou morador local. “Para onde você vai?” – “A Rondô!”, responderia o viajante ou o migrante.

Por outro lado, em minha modesta opinião, o nome precisa ascender de forma natural, paulatina, e ir sendo introduzido e trabalhado no meio dos rondonopolitanos, aos poucos. Se o gosto pegar, que mal há? O nome oficial certamente continuaria sendo “Rondonópolis”, mas o povo iria ter uma segunda opção, cortês e respeitada por ele mesmo, como uma inovadora forma de identificação da cidade. E o melhor: sem prejuízo do nome que já a secularizou.

Assim, introduzir um debate como esse é salutar, e a população é extremamente importante nesse processo de transformação e incorporação de uma alcunha, A participação da sociedade organizada, dos meios de comunicação e também do poder público é indiscutível e indispensável, pois, juntos, podem fomentar e direcionar algumas diretrizes e ações, no sentido de discutir, conscientizar e disseminar uma ideia, um nome.

Para uma cidade que, com sua pujança e produção agrícola e rural, e também ser conhecida como a “rainha do algodão”, chamá-la, em momentos informais, de Rondô seria como batizá-la novamente, homenageando-lhe com um carinhoso e agradável tratamento.

“Você conhece Rondô?”, indago-lhe.

Se, hoje, essa pergunta fosse feita a um morador de fora, creio que ele diria que não. E se fosse feita a um nativo ou morador da cidade de Rondonópolis, que reação teria ele? Saberia informar de que lugar estaríamos falando?

Ademais, que chances teria de o apelido Rondô pegar na boca do povo? Isso, só o tempo dirá. Mas, uma coisa é certa: ele é mais curto, e sua sonoridade é muito boa, o que é extremamente vantajoso para quem defende o uso dessa alcunha como uma segunda opção de identificação para a “capital do bitrem”.

E agora, estimado leitor? Você conhece ou não, Rondô?

Édson Ceretta é funcionário público federal e escritor, autor do livro “À sombra do 13”

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