O retrato da nossa omissão
Em uma volta curta por Cuiabá, podemos identificar além das obras públicas que “enfeiam” a cidade, diversos tipos de pedintes em semáforos, cruzamentos e elevados. Os mais comuns são nossos conterrâneos que são portadores de necessidades crônicas, alguma doença ou deficiência e os venezuelanos que se somaram aos haitianos.
A situação é degradante e a comprovação de que a sociedade não consegue ou não quer resolver os problemas destas pessoas que vivem à margem da sociedade. Não sou especialista, mas acho que o Poder Público dispenderia de muito pouco se encarasse este problema de frente e tentasse ao menos resolvê-lo para livrar estas pessoas da miséria e da indigência, retirando-as das ruas o atestado que damos da nossa impotência, indiferença, descaso e da negação do nosso espírito cristão.
Parte desta questão foi criada por um administrador que resolveu que o Brasil precisava fazer alguma coisa para conseguir um lugar para o País no fechado Conselho de Segurança da ONU. Então lhe ocorreu em ajudar o Haiti, que além de extremamente pobre, passava por severos perrengues de acidentes naturais. A mão foi estendida para aquele País como se não tivéssemos por aqui problemas suficientemente graves. Não tivemos e não temos historicamente qualquer laço de ligação com o Haiti. Quem colonizou o Haiti foi a França, uma da maiores economias do mundo, e que inclusive tem uma sua extensão política, na América do Sul, pois a Guiana Francesa é parte do território francês. Enfim, fomos tomar da mão dos outros o abacaxi que não era nosso, com os desdobramentos conhecidos.

Cristo disse que “sempre haverá pobres entre vós”. Entretanto, com um pouco mais de sensibilidade poderíamos minorar a vida daqueles que sofrem as agruras da vida, com pequenos gestos individuais, mas também obrigando os candidatos, nesta época de eleição, a ter uma agenda positiva para essa gente, aplacando a nossa culpa e assegurando o nosso lugar na eternidade.
P.S. – No caso dos venezuelanos, são as mulheres que vão para as ruas acompanhadas dos filhos e se resignam a pedir a ajuda. Enfim, as mulheres, sempre elas, que se sujeitam a qualquer humilhação para minorar as aflições da família.
Renato Gomes Nery – Advogado em Cuiabá e ex-presidente da OAB/MT
rgnery@terra.com.br – renatogomesnery.com.br
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