Boa Midia

Pobre Mato Grosso

Primeiro de janeiro de 2019 Mauro Mendes toma posse

No final do ano o governador democrata Mauro Mendes não fez nenhum anúncio animador. Poderia fazê-lo no começo deste 2020, mas permaneceu silencioso. A imprensa amiga bem que tentou ajudá-lo, mas não encontrou referência administrativa, nem programas sociais e muito menos planejamento. Daí, que lhe concedeu generosos e empenhados espaços editoriais onde dentre outros feitos revelou que o governante feriu um dedo em acidente doméstico, que tirou alguns dias para curtas férias, que sorri pra possível candidatura de Carlos Fávaro (PSD) ao Senado, e outras matérias do mesmo nível. Mato Grosso está acéfalo administrativamente.

Dentre outras carências o governo estadual não tem planejamento. Estamos numa quadra do tempo que se caracteriza pela preparação ao grande salto que levará à humanidade ao melhor estilo de vida, a um novo conceito laboral, ao avanço tecnológico e, em suma, a um universo que se comparado ao hoje seria o mesmo que nos compararmos à idade média.

Mauro Mendes rasgou definitivamente o rótulo de bom administrador, que nos mostrou em 2004 quando se lançou candidato a prefeito de Cuiabá pela primeira vez. Tanto na iniciativa privada quanto na vida pública se mostra incapaz. Isso, na esfera empresarial, apesar dos fabulosos incentivos fiscais que recebeu ano após ano, e na vida pública onde tem aos seus pés uma Assembleia Legislativa submissa e mais governista do que o próprio governo.

Mato Grosso tem o perfil econômico agropecuário voltado para a exportação e o mercado nacional de soja, farejo de soja, algodão, milho, carnes bovinas e suínas, aves congeladas e sementes. Esse leque de atividade é desenvolvido com o governo estadual teimando em ignorá-lo. Tudo que se faz no Palácio Paiaguás e seus penduricalhos é voltado para aumento de arrecadação e de alíquotas tributárias. No mesmo espaço e tempo coabitam o sistema produtivo e a máquina pública, porém de costas um para o outro.

O governo de Mauro Mendes não tem afinidade com as entidades representativas do agronegócio. Não trabalha em busca da consolidação e de novos mercados internacionais para a produção do campo e a agroindústria. O grande salto  não será abrupto –   acontecerá de forma rápida, porém gradual e pegará o Poder Político Mato-grossense com as calças nas mãos.

O instinto voraz por arrecadação levou Mauro Mendes a aumentar a contribuição previdenciária do servidor público, de 11% para 14%. Isso, em nome de uma suposta reforma da Previdência. Porem, em nenhum momento o governante se preocupou em enxugar a máquina pública e, ao contrário, a incha cada vez mais. No governo anterior, de Pedro Taques, a folha salarial engolia 53% das receitas correntes líquidas; com Mauro Mendes subiu para 57% – somente a Casa Civil (com seus tentáculos) emprega mais de 265 barnabés de ouro.

Por algum tempo, paralelamente ao preparo para o grande salto, continuaremos vendo Mauro Mendes inaugurando trechos pavimentados (mas sem acostamento) de rodovias planejadas para essas obras ainda no governo de Silval Barbosa (2010/14).

Quando Mato Grosso sair da letargia e se despertar para a realidade a humanidade estará em outro patamar. Então olharemos para o inchaço de servidores no governo (e demais poderes). Será a imagem da contramão da lógica que o modelo político que temos e a incapacidade de criação dos governantes e legisladores teimam em não enxergar.

O grande salto nos levará a um lugar onde não há espaço para nepotismo, fatiamento de governo com deputados nem para absurdas reservas de mercado institucional. Avaliem: o orçamento de 2020 reserva em rubrica R$ 5.075.000.000 para a Secretaria de Educação manter em classe cerca de 400 mil alunos, numa rede física sucateada, de cara manutenção e movida em parte por milhares de servidores que sequer pertencem ao governo estadual – são contratados. Se ao invés da manutenção dessa estrutura arcaica Mato Grosso destinasse tal dinheirama ao pagamento de matricula e mensalidades desses alunos na rede particular, haveria economia e melhoraria o nível do ensino impedindo que os filhos de pobres – como hoje ocorre – tenham uma Educação inferior no comparativo com os matriculados nas escolas particulares. Alguém poderia até dizer que legalmente isso é inviável. Esse entendimento pode ser respondido com a possibilidade de mudança das regras, em nome da modernidade, em respeito ao grande salto.

Com cinco bilhões e setenta e cinco milhões o governo estadual teria, em média, R$ 12.687,50 per capita para os alunos em um ano letivo. Todos poderiam ser matriculados nas grandes escolas particulares. Mais: um cliente com tamanho número de alunos ganharia substanciais descontos.

Não pensem que haveria demissões em massa na Secretaria de Educação. Os bons professores e funcionários daquela Pasta seriam absorvidos pela iniciativa privada. Os maus, que via de regra ali se encontram por força do apadrinhamento, teriam que tentar a sorte em outra atividade – regras do jogo.

Mauro Mendes nada planeja, como nos mostra seu primeiro ano de governo. Mato Grosso está à deriva administrativamente. Esse cenário não tem indicativos de mudança. Governo e Assembleia se completam e se protegem mutuamente. O Tribunal de Contas do Estado é um grande vazio de titulares, por afastamentos judiciais. O Ministério Público sempre encontra um canal legal para pagar astronômicos salários a muitos de seus membros. O Judiciário é lento, caro e teima em se manter inchado, desconsiderando toda a lógica tecnológica que poderia enxugar sua folha. Presenciando tudo isso, uma gigantesca estrutura sindical que atua no universos dos servidores, aplaude em nome de seus interesses corporativos. A Imprensa, salvo uma ou outra exceção, deixa suas digitais de cumplicidade nesse mosaico desanimador.

Pobre Mato Grosso.

Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

  • FOTO: Christiano Antonucci – Site público do Governo de Mato Grosso

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