Paz aos oradores do discurso apocalíptico

Após o Dia de Vitória em 1945, quando os alemães se renderam aos Aliados, naquela que é considerada a maior guerra de todos os tempos, o mundo nunca esteve em paz. Escaramuças regionais, guerras civis, conflitos étnicos, disputas territoriais e ambições sempre mantiveram armas fumegantes. A beligerância quando regionalizada ao Oriente Médio ganha maior amplitude e perde o marco temporal, na medida em que remonta ao começo da civilização, com incontáveis passagens no Velho Testamento – essa região atravessa um de seus mais delicados momentos e, a depender de tomadas de posicionamento de sua cúpula religiosa e militar, e de seus movimentos guerrilheiros fundamentalistas a humanidade poderá novamente sofrer tanto ou até mais do que expeimentaram tantos povos antes do cessar-fogo entre a Alemanhã e os Aliados.

Além da tragédia humana em si, a guerra tem desvastadores efeitos sobre a economia, principalmente no mundo globalizado. O Brasil não está imune ao cenário no Oriente Médio – e Mato Grosso, exportador de commodities para a região, muito menos – mais exatamente na tensão que deixa de um lado os Estados Unidos e seus dois principais aliados na região, Israel e Arábia Saudita, e de outro, o Irã apoiado pela Síria, outros países menores e grupos guerrilheiros.

No Oriente Médio o hoje é incerteza. O amanhã é mistura de pesadelo com utopia. A eliminação do major-general Qasem Soleimani, comandante da unidade Força Quds, do Corpo de Guardiões da Revolução islâmica do Irã nada mais é do que um aperto a mais no torniquete da paz, sem que essa quase normalidade ofusque o significado de Soleimani para a causa fundamenalista dos aiatolás de Teerã, uma vez que sua verdadeira missão não era militar, mas sim guerrilheira.
Um jogo de gato e rato, com encenações, palavras ameaçadoras e malabarismos em busca da simpatia internacional, por enquanto, marca o posicionamento dos dois lados da questão. Mas que ninguém se iluda, pois o espírito do escorpião do Nilo prevalece no Irã, e mesmo diante do gigantismo militar convencional e do poderio nuclear de Washington, Teerã poderá puxar o gatilho, que nesse caso seria o lançamento de mísseis sobre bases e navios americanos no seu raio de ação regional e, também sobre Israel – entidade sionista para o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país. De igual modo que todos tenham em conta que Benjamin Netanyahu e Donald Trump (e Riad) não hesitarão em atacar os iranianos.

Formalmente com o mundo em paz, mas em verdadeiro clima de guerra. Assim estamos. Um atentado suicida nos Estados Unidos ou em outra parte do mundo, a qualquer momento. Trevas sobre a luz. Choro, sangue, luto. O que será o hoje? E o amanhã, o que será?
No cenário atual, o Irã, grande importador da agropecuária de Mato Grosso, fica distante de nossa balança comercial. Se houver agravamento, além dele, Arábia Saudita, Israel e outros países, também. A economia mato-grossense tem perifl exportador. Aos mortos num eventual conflito no Oriente Médio e em atentados mundo afora, se juntará a tragédia social mato-grossense, que surgirá com o a crise econômica mundial que inevitavelmente acontecerá.
Com uma drástica redução do mercado importador mundial de commodities agrícolas Mato Grosso mergulhará num gravíssimo quadro social. Desemprego, perda do poder aquisitivo, êxodo da zona rural e das pequenas cidades para a periferia de Cuiabá, Rondonópolis, Sinop, Tangará da Serra, Cáceres e Barra do Garças. O caos! Esse não é cenário utópico. A possibilidade que ele surja na curva do horizonte é realíssima. Caso o mesmo se materialize – peço a Deus, que não – viveremos na prática o cenário que move o rancoroso discurso contrário ao agronegócio: o primitivismo do Berço de Rondon sem lavouras mecanizadas, sem produção agrícola em escala, sem geração de emprego, sem distribuição de renda. Estaremos numa terra do ontem, com os ouvidos queimando pelo apocalíptico discurso da satanização do produtor rural.
Paz ao Oriente Médio,
Paz ao Irã.
Paz a Israel.
Paz a Arábia Saudita.
Paz aos Estados Unidos.
Paz ao produtor rural mato-grossense.
Paz aos oradores que teimam em matar nossa galinha dos ovos de ouro com discurso apocalíptico.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 2 – Sputnik Brasil
3 – BBC News Brasil
4 – Arquivo blogdoeduardogomes – Ilustrativo
Parabéns.
Ronaldo Pacheco – jornalista editor do site http://www.cuibanonews.com.br Cuiabá