Deputados elegem Bosaipo para a vaga de Bosaipo no TCE

Humberto Bosaipo foi indicado pelo Colégio de Líderes da Assembleia Legislativa, para a função vitalícia de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); Bosaipo recebeu 11 votos no pleito que disputou com o deputado estadual Max Russi/PSB (10 votos), o juiz Eduardo Calmon (2), o contador Luiz Mário Barros (zero) e em que se registrou um voto em branco.
Para ser oficializado conselheiro, Bosaipo terá que se submeter a uma sabatina dos deputados estaduais, na próxima terça-feira, e uma vez aprovado, seu nome será levado ao governador democrata Mauro Mendes para seu jamegão.
Assim, Mato Grosso preenche uma das seis vagas no TCE, ora ocupadas por substitutos. Bosaipo vai para a cadeira que pertencia ao ex-conselheiro Humberto Bosaipo, que se aposentou precocemente depois que foi afastado da função pelo Superior Tribunal de Justiça, diante de graves acusações feitas pelo Ministério Público, que o acusa de improbidade administrativa quando no cargo de deputado estadual. Bosaipo optou pelo pijama, que fez as ações a que responde – várias – baixarem para a primeira instância, o que lhe dá fôlego durante a tramitação.
Alguém pode questionar: Uê, o escolhido para o TCE não é o deputado tucano Guilherme Maluf, que recebeu 11 votos e que cumpre o quarto mandato consecutivo na Assembleia, da qual foi presidente? Esse questionamento procede. Maluf ganhou respaldo de seus colegas para ocupar a cadeira vaga com a aposentadoria de Bosaipo. Porém, o que o texto diz é simples: trocaram seis por meia dúzia.
Essa a realidade mato-grossense. A Assembleia acaba de dar resposta política ao cidadão imediatamente após o Tribunal de Justiça acatar denúncia contra Maluf tornando-o réu, e por apenas um voto – o de minerva do presidente desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha – negar seu afastamento do cargo de deputado, como pediu o Ministério Público.
O Brasil (Mato Grosso, sim) clama por moralidade na vida pública. Um dos requisitos para se tornar conselheiro é conduta ilibada. Um cidadão que é réu, que é delatado e denunciado enquanto mensaleiro, que tem sobre sua cabeça a grave acusação de envolvimento com o escândalo na Secretaria de Educação no governo Pedro Taques, que teria resultado num rombo de R$ 56 milhões aos cofres públicos, mesmo tendo direito ao benefício da dúvida, não se encaixa no quesito moral ilibada – principalmente nesse momento e para substituir a alguém também oriundo da Assembleia e que está mergulhado em ações por improbidade administrativa.
A Assembleia fraquejou. Sempre fraqueja. Com essa decisão que se consumará nos ritos restantes, o TCE permanece o mesmo. Um elefantão branco, que custa caro ao contribuinte, que aprovou todas as contas do ex-governador Silval Barbosa e do ex-presidente da Assembleia, José Riva. Sua composição, por algum tempo, continuará com cinco substitutos ocupando as cadeiras de Sérgio Ricardo, Valter Albano, Waldir Teis, Antônio Joaquim e José Carlos Novelli – todos afastados judicialmente em setembro de 2017 sob a acusação de receberem R$ 53 milhões de propina de Silval.
Alguns leitores também respondem pela indicação de Maluf. Foram eles que o reelegeram, que reelegeram ou elegeram os deputados que lhe dão passaporte ao TCE. O caso Bosaipo-Maluf não fica restrito a Assembleia, ao governador Mauro Mendes e ao TCE: ele é desdobramento dos votos em outubro de 2018, que o referenda em nome do princípio democrático ditado pela consciência (ou falta dela, diria) de boa parte do eleitorado mato-grossense.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Arquivo do site do TCE
Vamos de mal a pior, brigadeiro. Até quando vamos lutar contra a maré imensa de falta de conduta ética na vida pública?