Boa Midia

Precisamos de governo e não de pingue-pongue eleitoreiro

Manifestação na Assembleia na tarde desta terça, 22
Manifestação na Assembleia na tarde desta terça, 22

Palco de vergonhosas manobras políticas para agradar ao governo, dono do poder, as sucessivas legislaturas da Assembleia Legislativa quase sempre agiram sem pressão popular, longe do olhar crítico do cidadão e da dura cobrança por parte da Imprensa. Porém, na terça-feira, 22, tanto sua área externa quanto galerias e o plenário estiveram tomados por sindicalistas das diversas áreas do governo de Mato Grosso e por servidores via de regra sindicalizados ou ligados a associações de classe. Um protesto gemido, sentido, em tom bíblico de choro e ranger de dentes ampliado por serviços de som ecoava num raio considerável. Faixas, cartazes, camisetas temáticas, apito, maquilagem e nariz de palhaço, palavras de ordem, inflamados discursos. Os presentes protestavam contra o governador  e o governo Mauro Mendes (DEM), que atrasa parte do 13º de servidores nascidos no final de ano, escalona salário, cria insegurança jurídica quanto ao pagamento da RGA e quer enxugar a máquina administrativa fechando empresas, reduzindo secretarias e demitindo três mil comissionados e assemelhados.

A ocupação da Assembleia foi contida pelo juiz  da 4ª Vara da Fazenda Pública de Cuiabá, Paulo Márcio Soares de Carvalho, que lhe concedeu reintegração de posse, mas a manifestação prossegue  na Assembleia, na mídia, passeatas, atos etc.

Pergunto: onde estava essa inflamada representação sindicalista simbolizada pelo Fórum Sindical, quando os ex-governadores Silval Barbosa e Pedro Taques cometeram a heresia de inchar os quadros criando e ampliando funções comissionadas e de executarem desastrosas administrações, que mais dia menos dia resultaria em crise. Resultaria em crise para ser jogada sobre os ombros do contribuinte?

O Fórum Sindical foi o grande ausente enquanto o barquinho do governo navegava para a cachoeira, que fatalmente o engolirá, se não houver responsabilidade, sensibilidade, maturidade e conhecimento tanto por parte do governador quanto do servidor.

As propostas de enxugamento do governador Mauro são louváveis, Ou melhor, seriam louváveis se ele não estivesse demitindo com uma mão e contratando com outra. Mauro não é bom administrador. O estranho crescimento de seu grupo Bimetal, que era bem alimentado por generosos incentivos fiscais, e sua abrupta entrada em processo de recuperação judicial não o recomendam enquanto governante responsável por um Estado.

Mauro fatia o poder, quando deveria enxuga-lo. Isso sem prejuízo de medidas de austeridade em outras áreas, nas quais se incluem os segmentos do agronegócio, da indústria, do comércio e prestação de serviços, Cada caso em seu âmbito. Porém, apontar o dedo ao servidor e satanizá-lo pelo caos é postura incompatível com o cargo de governador.

Se Mauro tivesse o mínimo de sensibilidade conclamaria Mato Grosso para a luta pela modernização, moralização e funcionalidade do governo. O Fórum Sindical teria que participar dessa proposta, reconhecendo a má distribuição de servidores por função. É um absurdo que o Estado, com 141 municípios tenha somente 234 delegados da Polícia Civil, enquanto em outros setores existem abarrotamento de barnabés.

Precisamos de qualidade na prestação de serviços e menos sindicalização. Queremos a profissionalização dos quadros dos servidores e não a substituição pura e simples de um adversário por um companheiro político. Todos devem colaborar para que alcancemos um bom patamar. Nem mesmo a Imprensa, sempre governista e disposta a minimizar fatos que desabonem o Palácio Paiaguás pode fazer corpo mole.

Para alcançarmos a melhor qualidade nos serviços públicos é preciso o enxugamento da máquina. O corte onde há excesso e o preenchimento de funções carentes de servidores, como é o caso dos delegados.

Melhor ainda seria se o Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado também participassem da modernização do Estado. 

A vida nos mostra que o jogo de interesse é grande. O barulho dos manifestantes teima em sobreviver com a chamada greve pré-datada da Universidade do Estado (Unemat) para vigorar 72 horas após seu anúncio nesta terça-feira.  A descontrolada caneta de Mauro, que nomeia no fatiamento do governo. Os sindicatos que nada fizeram para evitar o momento atual. O palacianismo do Tribunal de Contas do Estado. O imoral duodécimo da Assembleia. A soma de tudo isso resulta no pior roteiro: aquele, chapa branca, onde todos mamam em silêncio e somente gritam quando perdem a teta. Esse roteiro leva Mato Grosso ao caos e  não respeita o servidor público honrado, que trabalha com dedicação e, de igual modo, vê o cidadão pela ótica dos tributos jogados sobre seus ombros.

Por Mato Grosso, pelo verdadeiro servidor público e pela razoabilidade lutemos pela modernização do Estado – não somente do governo. Saibamos discernir função pública de pirotecnia, e  sindicalismo de oportunismo. Tenhamos paciência com a incapacidade administrativa de Mauro em respeito à vontade popular que o elegeu – o cargo é transitório, passa; tantos outros passaram. Peçamos a Deus que o governo não fique restrito ao pingue-pongue eleitoreiro de demitir e contratar, mas que execute obras, promova programas sociais para não dobrarmos o período de quatro anos em que Mato Grosso enfrentou o vácuo administrativo com Pedro Taques, que até recentemente era guru e líder político de seu sucessor Mauro. 

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTO: blogdoeduardogomes

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