Série TRANSPARÊNCIA (09) – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques
Jayme Campos (DEM) seria o personagem deste capítulo. Porém, o desencadeamento da Operação Bônus, nesta data, teria que entrar na série, mesmo em se tratado de postagem desvinculada do fator temporal. Teria, porque ela politicamente atinge em cheio o governador tucano Pedro Taques, embora legalmente não haja acusação contra ele. Subestimar Bônus e seu previsível desdobramento eleitoral seria renunciar ao sentido da informação correta ao internauta sobre os pré-candidatos ao governo e Senado. Taques, até então de olho na reeleição não causaria surpresa se saísse da disputa, tamanho desgaste que acaba de sofrer.
A série se arrastará ao longo de maio. O primeiro capítulo – de alguns – sobre o ex-governador e ex-senador Jayme fica para a próxima postagem. O personagem agora é Taques.
O grande trunfo de Taques na campanha que o elegeu governador em 2014 foi a moralidade. Paladino da verdade, o então senador do PDT prometia nos palanques e no horário eleitoral do rádio e TV fazer uma verdadeira faxina na máquina estatal. Seu começo de governo foi espinhoso, sem continuidade das obras inacabadas de seu antecessor Silval Barbosa e sem novas construções. O governo batia cabeça em Cuiabá e nos demais municípios. A população a tudo acompanhava. O cidadão avaliava que primeiro seria preciso botar a casa em ordem, investigar, julgar e condenar os corruptos que mamaram nas tetas do Palácio Paiaguás. Com essa crença, não havia cobrança de ordem administrativa.
O tempo avançou, avançou e avançou. O governo executou poucas obras. A arrecadação aumentou e no quinto mês da gestão Taques aconteceu o descompasso. O endividamento do Estado aumentou. Taques brigou para não repassar a Recomposição Geral Anual (RGA) dos servidores. O duodécimo pegou ritmo de crônico atraso e liberado parceladamente. Os municípios entraram em parafuso pela sistemática falta de pontualidade do repasse constitucional, que não excluía (não exclui) nenhuma área, mas que afetava mais (continua afetando) a saúde básica e o transporte escolar.
O discurso de moralidade que deu o tom da campanha continuava. Mais: replicado por setores da mídia amiga. O compromisso de se construir hospitais regionais em polos estratégicos foi retirado das falas de Taques nas suas andanças. O programa Pró-Mineração não saiu do papel. Nada funcionava. Nada funciona.
A dita moralidade aos poucos perdeu o impacto que causava nos cidadãos. Surgiu o escândalo da roubalheira na Secretaria de Educação (Seduc) nas obras de reforma e construção de escolas. O secretário de Educação, Permínio Pinto, preso na operação que investigou a roubalheira, virou réu confesso e delatores deram detalhes do esquema. Entre os envolvidos no caso Seduc, figuras do PSDB que é o novo partido de Taques. A ação sobre a Seduc chegou ao mês de novembro do ano passado com a então juíza da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane de Arruda, dando prazo a Permínio para suas alegações finais e não se falou mais nisso.
Antes do caso Seduc o governo nebulosamente não foi questionado sobre sua ligação com a Consignum nem com a Unimed, que teria sido beneficiada por seu ex-executivo Paulo Brustolin, que foi secretário de Taques.
Mato Grosso foi sacudido com o escândalo da Grampolândia Pantaneira, um sistema criminoso de arapongagem que levou para a cadeia quase toda a cúpula da Segurança Pública e Paulo Taques, primo do governador e ex-chefe da Casa Civil. Hoje, Paulo Taques foi preso pela terceira vez, agora por seu suposto envolvimento num esquema milionário fraudulento de desvio de dinheiro do Detran, que resultou na Operação Bereré, que em sua segunda fase virou Operação Bônus. Juntamente com Paulo Taques foi preso seu irmão e sócio num escritório de advocacia, Pedro Taques (xará do governador).
Grampolândia além de prender Paulo Taques, também mandou para a cadeia o secretário de Segurança Pública, delegado Roger Jarbas; o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel PM Airton Benedito Siqueira Júnior; o chefe da Casa Militar, coronel PM Evandro Lesco; o comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; e figuras da arraia-miúda no governo.
O desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, revelou que mais de 70 mil cidadãos teriam sido gravados por Grampolândia, crime que resultou numa ação ainda em tramitação, mas com seus envolvidos aguardando o julgamento em liberdade.
Entre Grampolândia e Bônus, o Ministério Público Estadual e a Delegacia Fazendária (Defaz) deflagraram a Operação Rota Final, que chegou ao secretário de Infraestrutura e Logística, Marcelo Duarte; aos deputados da base governista Dilmar Dal’Bosco (DEM) e Pedro Satélite (PSD); e ao ex-presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Delegados (Ager), Eduardo Moura. Esse grupo é acusado de fraude em licitação do transporte público estadual, que teria causado prejuízo superior a R$ 11 milhões ao governo. Empresários do segmento de transporte de passageiros também foram denunciados.
BÔNUS – O desembargador do Tribunal de Justiça, José Zuquim autorizou essa operação, decretou prisões preventivas e expediu mandados de busca e apreensão. Hoje, além dos irmãos Taques, também foi preso o deputado estadual Mauro Savi (DEM), da base de sustentação do governador. O presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM) é um dos investigados no caso e o Ministério Público pediu seu afastamento da função na Mesa Diretora e do Parlamento, mas Zuquim não concedeu esses pedidos.
Bônus é uma investigação que apura fortes evidências, comprovação bancária e rastreamento de dinheiro entre empresários, Detran, deputados estaduais e os irmãos Taques.
Taques perdeu o discurso da moralidade, muito embora ele mesmo não seja acusado de improbidade, mas seu governo sangra moralmente. Para ele, agora, subir ao palanque e falar em lisura no trato do dinheiro público ficou difícil – avaliam analistas.
Se Taques abrirá ou não mão de seu projeto de reeleição somente o tempo dirá. Sua defesa perante a opinião pública é facilitada pela maior parte dos veículos de comunicação, que tratam esse escândalo com o devido cuidado para preservar sua imagem de homem público honrado. Resta saber como a opinião pública reagirá.
Para melhor entendimento do lado administrativo de Taques, que não pode ser visto somente pelo pequeno volume de obras, leiam o texto abaixo e façam a melhor dedução.
Comparativo entre trincheira da era Silval e do governo Taques
O governo Taques constrói uma trincheira no trevo das rodovias estaduais Helder Cândia (MT-010) e Emanuel Pinheiro (MT-251). A primeira liga Cuiabá ao Nortão e Chapadão do Parecis; a outra é a famosa estrada turística da Chapada. Sobre a obra, o importante em nome da transparência é traçar comparativo de preço para sua execução e o que foi desembolsado na construção da chamada Trincheirona, no período que antecedeu a Copa do Mundo de 2014, pelo governo de Silval Barbosa, que entrou para a história sob a acusação de corrupto e de superfaturar obras.
Ninguém entende o custo de obras públicas. Mato Grosso não é exceção nesse quesito.
O Estado acompanha a disparada do preço da construção de trincheiras em Cuiabá, a capital que está a um passo do tricentenário em 8 de abril de 2019.
Cuiabá ganhou trincheiras para a Copa do Mundo de 2014 e terá mais uma, que se encontra em obra no trevo das rodovias estaduais 010 e 251. A maior foi construída na Avenida Miguel Sutil, para a Copa do Mundo, com 960 metros e custou R$ 43 milhões. A próxima terá 365 metros e está orçada em R$ 25 milhões. O preço do metro dessas construções tem disparidade, pois saltou de R$ 44.791,66 na primeira para R$ 68.493,15 na nova, o que se traduz num aumento percentual de 52,9%. É o nó das trincheiras na capital mato-grossense.
A trincheira de 960 metros foi construída na Avenida Miguel Sutil e recebeu o nome de Engenheiro José Luiz de Borges Garcia, mas é chamada de Trincheirona; ela desafoga o trânsito no cruzamento da Miguel Sutil com as avenidas Dante de Oliveira (ex-Trabalhadores) e Jurumirim.
O custo inicial da Trincheirona foi orçado em R$ 36 milhões e sua entrega ao tráfego ocorreu em 18 de novembro de 2014 por Silval Barbosa. No ato Silval pediu desculpas pelo atraso de um ano e sete meses, mas não tocou na questão do aumento de R$ 7 milhões por meio de aditivo para a conclusão da obra. O governador simplesmente alegou que “chuvas e fluxo de caixa adiaram a inauguração”.
A construção da Trincheirona estava inserida ao pacote de obras da travessia urbana, que era componente do projeto de mobilidade urbana de Cuiabá e Várzea Grande para o Mundial. Segundo Maurício Magalhães, à época titular da Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo) a travessia foi executada por meio de um convênio de R$ 165 milhões do governo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); o emaranhado das versões sobre desembolso não deixa claro quanto cada um dos conveniados despejou na Trincheirona.
A trincheira em obra tem por objetivo melhorar o fluxo do trânsito no trevo das estaduais Rodovia Arquiteto Helder Cândia(MT-010), que liga Cuiabá a Acorizal, e Rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251), que faz a ligação da capital com Chapada dos Guimarães.
Sobre a Trincheirona pesa suspeita de superfaturamento; sua execução foi acompanhada em tempo real pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que ocupava uma saleta na Secopa, e por uma comissão especial da Assembleia Legislativa. A prestação de contas dessa obra foi aprovada pelo TCE e a Assembleia. A nova não sofre questionamento.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 2 – Arquivo GCom
3 – José Medeiros
Arte: Secretaria de Infraestrutura e Logística do governo
SÉRIE
TRANSPARÊNCIA postou nove capítulos. Os oito anteriores podem ser acessados em:
1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta
2 – Suplente de última hora chega ao Senado
3 – Riva mesmo caido derrota Taques
4 – Páginas da vida
5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo
6 – Carona na Arca de Noé
7 – O dedo de Kassab
8 – Taques e o cadeado na hidrovia
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