Boa Midia

Rondonópolis: Do campo à indústria e à logística

Cheguei em Rondonópolis ainda criança, em julho de 1985. Família vindo do Paraná, para consolidar os investimentos feitos alguns anos antes em terras, expandindo os horizontes e buscando espaço para crescimento e futuro aos filhos. História comum a milhares de famílias nos anos 80 e 90, que vieram do sul, povoaram nosso Mato Grosso e o ajudaram a ser a grande potência atual. Ali cresci, estudei e formei família.

Fundada oficialmente como povoado em agosto de 1915 e emancipada em dezembro de 1953, Rondonópolis, que se encontra na entrada sul do Estado, foi naturalmente um dos primeiros receptores dessa leva de pessoas que vieram desbravar o cerrado e dar início ao grande ciclo de empreendedorismo, investimentos, pesquisa, adaptação, erros e acertos que nos trouxeram até aqui. Muito do que conhecemos hoje como agronegócio teve ali seu berço, começando, obviamente, pelo seu primeiro ciclo, no campo.

Nas décadas de 60 e 70, o campo se desenvolveu principalmente com a pecuária, com a chegada da primeira leva de forasteiros vindos principalmente de São Paulo e Minas Gerais. Ocuparam principalmente as áreas com mais fertilidade natural e mais irrigadas pelos rios da região, porém com topografia bastante irregular, as chamadas “terras de cultura”. Ali floresceu a base da pecuária de toda a região sul de Mato Grosso, pujante até hoje.

No final dos anos 70 e durante as décadas de 80 e 90 o campo sofreu a sua maior transformação: a chegada dos sulistas, como eu e minha família, que vieram ocupar as terras planas do cerrado, com pouca água e sem fertilidade natural. Os “loucos” provariam que o empreendedorismo, a coragem, aliados à pesquisa e à ciência dariam novos rumos àquele lugar, iniciando agricultura em larga escala em Mato Grosso. Tempos de evidentes dificuldades, mas que deram à Rondonópolis a pujança econômica e a tornaram um lugar de desejo aos que queriam prosperar. As sementes ali plantadas influenciaram toda a região sul e, em seguida, todo o resto do Estado.

Deste início sofrido emergiram várias iniciativas que trouxeram a pavimentação do futuro do campo em todo o Estado. Entidades que organizaram a produção, desenvolveram a tão necessária pesquisa, como a célebre Fundação Mato Grosso, foram a base para que Rondonópolis rapidamente se tornasse, também, esse grande polo difusor de tecnologia, influenciando a região que até hoje é a maior produtora de sementes do Estado.

O segundo grande ciclo que podemos observar é o ciclo da agregação de valor aos produtos vindos do campo – a agroindustrialização. Rondonópolis, assim que se consolidava como grande polo regional da produção agropecuária, passou a despertar a atenção da agroindústria. Nessa onda, aproveitando a localização privilegiada do entroncamento rodoviário e a vasta produção de toda a região, a verticalização pela industrialização passou a acelerar a economia local de maneira muito relevante. Diversas indústrias rapidamente se instalaram no município, principalmente a partir do final dos anos 90, tornando

Rondonópolis no passar de pouco mais de 20 anos em um enorme polo agroindustrial, certamente um dos mais relevantes do país. Processamento de soja, algodão, frigoríficos, produção de biodiesel, rações, cerveja, fertilizantes e um enorme rol de outras indústrias acessórias, destacando a indústria da construção civil, se desenvolveram e se consolidaram, tornando Rondonópolis ainda mais pujante economicamente.

Então vem a terceira onda, viabilizada obviamente pelas anteriores: a da logística. Rondonópolis congrega, como ponto estratégico de entroncamento rodoviário, a passagem não só da produção local, mas de grande parte da produção do todo o Estado. Por mais essa característica, aqui também foi campo fértil para a instalação de diversas empresas de transporte de cargas, que acumulam uma frota gigante dos famosos bi-trens e rodo-trens, responsáveis pela movimentação de dezenas de milhões de toneladas de grãos e outros produtos em solo mato-grossense e brasileiro. Rondonópolis ganha, assim, a alcunha de capital nacional do bitrem.

Mas não para por aí. Com a chegada dos trilhos da antiga ALL – América Latina Logística – , hoje Rumo Logística, em Rondonópolis se instalou o maior terminal rodoferroviário da América Latina, recebendo um enorme rol de empresas e indústrias que ali se instalaram, consolidando a cidade como um expressivo centro logístico, principal corredor de ligação da produção agrícola de Mato Grosso com o Porto de Santos, maior porto nacional. Por ali passa a maior parte de nossas exportações, bem como chegam produtos de grande relevância, como a maior parte dos combustíveis que abastecem nosso estado.

Com toda essa desenvoltura econômica em setores basilares, o comércio e o setor de serviços também não ficam atrás, crescem e se consolidam. Rondonópolis, há muito é polo regional, atendendo a toda região sul de Mato Grosso com serviços dos mais variados, de médicos e universidades à tecnologia e consultorias das mais variadas, também fornecendo mercadorias de todas as espécies a vários municípios da região. O aeroporto Maestro Marinho Franco também tem sido, há anos, o apoio logístico aos negócios e às famílias do sul do Estado, com voos comerciais regulares e uma frota expressiva de aeronaves particulares.

Deste campo fértil, construído com tecnologia e garra, também saíram grandes lideranças empresariais e políticas, que no decorrer do tempo também ajudaram a construir, em outros campos, a solidez de nosso Estado. Dos campos de Rondonópolis para os campos de Mato Grosso e do Brasil, lideranças locais fizeram e fazem grande diferença.

Aqui chegamos como fruto de muito trabalho e empreendedorismo. Em 2016 contava com mais de 216 mil habitantes segundo o IBGE e hoje é o segundo maior PIB do Estado de Mato Grosso. Mas não foram só flores. Como dito antes, erros e acertos são partes da evolução. Intempéries também. O poder público, por vezes, não acompanha a velocidade do setor privado. A cidade cresce, a economia avança e nem sempre a contraprestação pública acompanha. É parte do custo e cabe aos rondonopolitanos acompanhar com mais dedicação, cobrar zelo pela coisa pública e visão de futuro de quem comanda. Nova oportunidade de escolha se abrirá em breve, e que ela seja digna de se adequar à história que nossa cidade construiu e ao futuro que ela merece.

Ricardo Tomczyk –  Advogado e produtor rural, executivo de Relações Institucionais da Amaggi e presidente da Comissão de Estudos das Questões Jurídicas do Agronegócio da OAB/MT. Ex-presidente e atual conselheiro consultivo das seguintes entidades: Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e União Nacional do Etanol de Milho  (Unem(. Exerceu o cargo de Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (2016/2017).

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