Boa Midia

De boca fechada

Queiroz. Esse o assunto policial mais discutido nesta quinta-feira, 18 de junho, em Mato Grosso, quando sites e as redes sociais deveriam estar voltadas para outro tema na esfera criminal, mas esse, local e extremamente relevante, a última etapa da Operação Ararath, desencadeada ontem, 17, que dentre outros crimes apura lavagem de dinheiro por uma engrenagem corrupta que teria ramificações no Tribunal de Contas do Estado (TCE), com suposo envolvimento de conselheiros, sobretudo Sérgio Ricardo, Waldir Teis e José Carlos Novelli, todos afastados judicialmente desde setembro de 2017, por suposto recebimento de R$ 53 milhões de propina, juntamente com seus pares Valter Albano e Antônio Joaquim – a dinheirama lhes teria sido repassada pelo ex-governador Silval Barbosa.

Porém, sobre a operação no TCE nada ou praticamente nada se ouve. O silêncio mato-grossense sobre essa caso é tão significativo que ganha contornos de cumplicidade. Não se pode apontar o dedo para a população, que em boa parte sequer sabe que existe aquela corte auxiliar de contas da Assembleia Legislativa, mas é preciso cobrar posicionamento de jornalistas e da militância virtual sempre pronta a desacancar o presidente Jair Bolsonaro e defender o ex-presidente Lula da Silva e vice-versa.

O silêncio coletivo (ou quase isso) acontece num dos momentos mais tensos e assustadores de Mato Grosso: o cenário sobre leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) na rede pública para atendimento de pacientes vítimas do coronavírus. São poucas as UTIs e elas se concentram em Cuiabá, Várzea Grande, Alta Floresta, Cáceres, Sorriso, Sinop, Rondonópolis, Juína e Barra do Garças. Cronicamente não há investimento em saúde pública no montante necessário para atendimento da demanda em períodos fora de pandemia. Essa prática persiste enquanto dinheiro pública rubricado enquanto duodécimo é repassado em cifras ofensivas para a manutenção do TCE.

O afastamento dos cinco conselheiros há quase três anos não foi suficientemente capaz de mobilizar Mato Grosso pelo fim da mordomia nos três poderes,  Ministério Público e naquele apêndice da Assembleia. Imprensa e formadores de opinião observam tudo com a naturalidade de um garoto toma sorvete. Não há reação alguma e a farra com o dinheiro público continua.

A operação policial de ontem, que fez buscas no TCE e endereços dos três investigados foi um capítulo a mais na moldura do perfil daquele apêndice da Assembleia. Investigados calados. Imprensa e formadores de opinião, idem. O tempo se encarrega da  volatilização e se nem mesmo o implacável relógio da vida for suficientemente capaz de apagar o que acaba de acontecer, novos escândalos se encarregarão disso.

Ao invés de clamar pela moralização, Mato Grosso se acomoda vendo as peças do tabuleiro do poder sendo mexidas em nome da nomeação do presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM) para a vaga do afastado conselheiro Waldir Teis. Essa conduta me lembra o causo de dois mineiros que pescavam em silêncio à margem de um riacho, quando um elefante voando  cruzou o local onde se encontravam; depois, outro; momento depois mais dois; na sequência, vários. A cada barulho nos ares eles olhavam tranquilamente para cima, mas sem comentários. Depois de uma hora do tráfego aéreo do paquidermes, um resolveu falar: “É!“, resumiu o que pensava. O outro acrescentou, “Pelo jeito o ninho deles é por perto!“.

Manchetes ao Queiroz que isso faz bem ao fígado. Quanto ao TCE, renovação de conselheiro, falta de UTIs e o caos na saúde pública, nada a acrescentar, salvo se for algo que não se traduza em espanto, pois o ninho deles está por perto.

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

FOTO: Meramente ilustrativa

 

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