Boa Midia

Zé Cachorro das cachorradas

Lá por 1976 apareceu no União um lateral esquerdo de nome José Martins, que se tornou famoso com o apelido de Zé Cachorro. O cognome era justificado, porque sujeito mais chegado numa cachorrada do que Zé Cachorro o futebol de Rondonópolis jamais conheceu.

A passagem de Zé Cachorro pelo colorado foi marcada por muitos episódios pitorescos, inclusive um gol que ficou na história do clube. O União jogava no Estádio Morenão, em Campo Grande, contra o todo-poderoso Ope¬rário, quando surgiu um escanteio contra o alvinegro. Zé Cachorro, que tinha um chute potentíssimo, cobrou o escanteio pelo alto e quando a bola caiu na área, sem ser tocada por ninguém, bateu uma pedrinha e foi mansamente para as redes operarianas…

Uma vez, o presidente do União, Lamartine da Nóbrega, que entre mandatos normais e tampões ocupou o cargo por mais de 20 anos, foi chama¬do para tirar Zé Cachorro da cadeia. O motivo da prisão do jogador: roubo de calcinhas.

Lamartine ficou intrigado com a acusação na Polícia contra Zé Ca¬chorro, mas ao chegar à cadeia, a prisão acabou bem esclarecida: o jogador havia passado a noite na ZBM (zona do baixo meretrício) da cidade e foi rou¬bando calcinhas em todas as casas em que entrava. Quando amanheceu o dia, era um tal de chegar mulheres na Delegacia de Polícia para se queixar de roubo de calcinhas que não acabava mais…

Com a confissão de Zé Cachorro de que havia roubado mesmo algu¬mas calcinhas na ZBM, lá se foi a Polícia, acompanhada de algumas mulheres, para o quarto onde ele morava em busca das peças íntimas. Encontraram não apenas umas poucas, mas pra mais de 50 calcinhas…

O autor

Passado algum tempo, Lamartine foi procurado de novo para tirar Zé Cachorro da cadeia. A nova cachorrada do jogador do União: tirar e levar para casa as lâmpadas vermelhas de ruas centrais que indicavam que a área era ponto de táxis. E lembravam também casas de bordéis. Devolvidas as lâmpa¬das, Zé Cachorro ganhou a liberdade.

A última cachorrada de Zé Cachorro de que se lembra Lamartine foi roubar – naquele tempo quando a família se opunha ao casamento, o rapaz fugia com a amada e pronto! – uma moça de Rondonópolis. Mas se deu mal nessa aventura: a moça era cozinheira da família de Cândido Borges Leal, que foi prefeito do município e deputado estadual, e Candinho, como era chama¬do, obrigou Zé Cachorro a casar…

Apesar de suas cachorradas, Zé Cachorro, além de jogar bem, era também um bom caráter – recorda, com saudades, Lamartine da Nóbrega. Depois de sua tumultuada passagem pelo futebol rondonopolitano, Zé Ca¬chorro, que se tornou amigo íntimo e até compadre de Lamartine, voltou para Curitiba, no Paraná, onde morreu há muitos anos. Mas deixou saudades em Rondonópolis pelas suas cachorradas…

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino).

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