Vambora
Nessa brincadeira boa de escrever, às vezes me interessa falar de sonhos, utopias, do lance de se enamorar por gentes e coisas de um mundo idílico que todos nós sabemos inalcançável justamente porque tal mundo é feito apenas para sonhar, não para viver. E o bom, como quando no pomar da vida frutifica um namoro ou qualquer relação de afinidade, é que esses encontros felizes são tão felizes porque tais pessoas captam muito bem a mensagem expressa em sonho e têm o poder de transformar a brincadeira em algo ainda mais envolvente e sedutor.
No meu artigo da semana passada para o Diário de Cuiabá que o amigo Eduardo Gomes, o Brigadeiro, generosamente partilha em seu site blogdoeduardogomes.com.br toda semana, destaquei a Vila dos Confins imaginada pelo escritor mineiro Mário Palmério para ambientar seu primeiro romance, homônimo. E, dentre os meus leitores, um bastante diferenciado, o Maestro Fabrício Carvalho, da Orquestra Sinfônica da UFMT, que captou muitíssimo bem a brincadeira colocada no fecho do artigo:
“E eu, hoje em dia, ando com uma vontade doida de me mudar pra Vila dos Confins”.
Como eu destacasse no artigo o poder nefasto das redes sociais de hoje com suas famigeradas notícias forjadas contrapondo-se às ‘fakes’ daquele tempo sonhado, quando até elas eram em princípio ingênuas e brejeiras, o Maestro me veio com esta pérola, que me mandou por WhatsApp: “Vambora pra Vila dos Confins, porque lá até as ‘fakes’ são mais graciosas…”.
Pois é. Apesar de dominar outros talentos como um certo traquejo de mobilizador social (político?), a verdade é que Fabrício, enquanto maestro e músico que é, tem lá a sua alma de artista, logo, encontra tempo e inspiração para sacar essas coisas da cartola.
Pois é. Atendendo ao seu apelo e fortalecendo minha disposição de estar sempre pronto para palmilhar as estradas do mundo, vambora! Vambora pra Vila dos Confins ou pra uma qualquer vila, sítio, fazenda, floresta onde ainda nos seja permitido sonhar. Hoje, então, o plano é mais que certo: “Vou-embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / na cama que escolherei”.
Vambora. Lá, as ‘fakes’ são e sempre serão mais graciosas. Sonhar (ainda) nos é permitido. E lá, até a mulher que eu quero há de vir mansamente. Não é proibida pra mim.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela UFF
mcmarinaldo@hotmail.com
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