Uma cervejaria no corredor da morte

Rondonópolis, 4 de julho de 2008. Espremido na multidão acompanho a inauguração da fábrica de cerveja da Cervejaria Petrópolis. O município ganhava um investimento superior a R$ 200 milhões para produzir cerveja destinada ao mercado doméstico mato-grossense e de estados vizinhos. O mercado de trabalho conquistava centenas de empregos diretos na produção, envazamento, transporte e logística de distribuição da marca Crystal – carro-chefe da bebida de combate do grupo Petrópolis.
Fábrica não cai do céu. Rondonópolis deve ao ex-governador Blairo Maggi essa conquista, por duas razões: primeiro pela concessão de incentivos fiscais por meio do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic) e depois por sua obstinação pra que a cervejaria fosse instalada em sua cidade, distante 200 quilômetros do polo cervejeiro em operação na capital mato-grossense.
Menos de 12 anos após a inauguração a cervejaria anuncia que está cambaleante por falta de incentivos fiscais – situação agravada pela pandemia do coronavírus que restringe mercados – e sinaliza com o fim do seu funcionamento. Segundo se comenta nos bastidores, o chefe da Casa Civil do governo, Mauro Carvalho, estaria pressionando para afastar a Petropólis de Mato Gross, mas o Palácio Paiaguás não se pronuncia e prefere tratar o caso como mera questão de ordem tributária.
Quanta insensibilidade do governador democrata Mauro Mendes, que não vê anquela cervejaria uma grande geradora de empregos diretos e indiretos, e contribuinte de peso nos impostos em cascata e indiretos que são lançados impiedosamente sobre a base contribuinte. Mauro Mendes levou seu grupo empresarial ancorado na indústria Bimental à falência, depois de gozar durante anos de grandes benefícios fiscais botando centenas de funcionários no olho da rua. O governante deveria olhar pelo retrovisor de sua vida empresarial antes de dar o tiro de misericórdia na Cervejaria Petrópolis.
Esse atentado contra empregos e a economia, não somente de Rondonópolis, mas de todos os municípios onde a cervejaria instalou postos de distribuição, tem que ser enfrentado com altivez pela classe política mato-grossense, mas, de modo especial pelos parlamentares federais e estaduais rondonopolitanos, o senador Wellington Fagundes; os deputados federais José Medeiros e Carlos Bezerra; e os deputados estaduais Sebastião Rezende, Nininho, Delegado Claudinei e Thiago Silva. O que se espera desse grupo de políticos não é apenas palavra ao vento: ele tem que assumir posicionamento radical pra reverter o quadro, e se não conseguir, que rompa em todos os sentidos com Mauro Mendes.
Que o eleitorado rondonopolitano assuma seu papel cidadão em defesa da cervejaria. Se o anunciado se consumar e a classe política local ou parte dela se omitir, que ninguém em Rondonópolis vote nos candidatos a vereador e a prefeito apoiados pelos mesmos, e que repita a mesma atitude em 2022 quando todos novamente estarão nos palanques.
De modo especial, quanto a isso, o prefeito Zé Carlos do Pátio, o vice-prefeito Ubaldo Barros e os vereadores precisam justificar seus mandatos. Se ocorrer o fechamento da cervejaria que o eleitorado também se afaste deles.
O ideal seria que a Imprensa cuiabana e os grupos sociais entrassem em cena defendendo os empregos e a economia representados pela cervejaria. Infelizmente do jornalismo, com uma exceção aqui, ali e acolá, não se pode esperar nada devido seu grau de comprometimento com o governo, a Assembleia e a bancada federal; lamentavemente quase todos os que navegam nos grupos de WhatsApp e Facebook optam por temas nacionais e internacionais, o que, em tese, os manterá longe dessa realidade na terra onde vivem.
Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes
FOTO: blogdoeduardogomes
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